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Chandra Detecta Nós Explodindo Em Jatos de Buraco Negro

O artigo intitulado “Superluminal Proper Motion in the X-Ray Jet of Centaurus A”, publicado no The Astrophysical Journal, apresenta uma descoberta revolucionária no estudo dos jatos relativísticos em núcleos ativos de galáxias (AGNs).​  Liderado por David Bogensberger e sua equipe da Universidade de Michigan, o estudo analisa observações do Observatório de Raios-X Chandra, abrangendo um período de mais de duas décadas, de 2000 a 2022. Utilizando um algoritmo inovador para ajustar sistematicamente os movimentos próprios dos nós do jato em raios-X, os pesquisadores conseguiram detectar um movimento superluminal em um nó do jato da galáxia Centaurus A (Cen A).​ Este nó, localizado a uma distância transversal de 520 parsecs do núcleo da galáxia, apresentou um movimento próprio aparente de 2,7 ± 0,4 vezes a velocidade da luz (c).

Este fenômeno, conhecido como movimento superluminal, é um efeito relativístico que ocorre quando o jato está inclinado em um pequeno ângulo em relação à linha de visão, fazendo com que a velocidade aparente exceda a velocidade da luz.

A detecção deste movimento superluminal impõe restrições significativas sobre a inclinação do jato, estimada em menos de 41° ± 6°, e sobre a velocidade do nó, que deve ser superior a 0,94 ± 0,02c.

Estes resultados estão em concordância com as medições realizadas pelo Event Horizon Telescope, mas contradizem estimativas anteriores baseadas no brilho do jato e do contrajato.

Além disso, o estudo revela discrepâncias notáveis entre as observações em raios-X e rádio, sugerindo que essas duas bandas traçam estruturas distintas dentro do jato.

​Enquanto a maioria dos nós do jato apresentou movimentos próprios abaixo do limite de detecção, alguns exibiram componentes significativas de movimento não radial, especialmente mais próximos ao centro do jato.

A descoberta de movimentos próprios superluminais em nós do jato de Cen A tem implicações profundas para a compreensão da dinâmica e estrutura dos jatos relativísticos em AGNs.

​Ela sugere que as observações em raios-X podem revelar estruturas altamente energéticas e dinâmicas que não são detectáveis em outros comprimentos de onda, desafiando os modelos existentes de emissão e dinâmica dos jatos. Este estudo abre novas possibilidades para pesquisas futuras sobre os processos físicos que governam os jatos de AGNs, destacando a importância de observações de longo prazo e alta resolução para desvendar as complexidades desses fenômenos energéticos. A equipe de pesquisa, composta por especialistas de várias instituições, incluindo a Universidade de Maryland, a Universidade Estadual da Pensilvânia e o Instituto de Tecnologia de Israel (Technion), espera que suas descobertas inspirem novas investigações e avanços no campo da astrofísica de jatos relativísticos.

Os jatos relativísticos em núcleos ativos de galáxias  são estruturas poderosas e extensas, capazes de se estender por megaparsecs.

​Estudos anteriores, como os de Hardcastle e Croston (2020) e Oei et al. (2022), são mencionados para ilustrar a relevância e a complexidade desses fenômenos astrofísicos.

Os jatos de AGNs são conhecidos por sua emissão proeminente em rádio, mas também foram observados em raios-X e raios gama, conforme discutido por Harris e Krawczynski (2006) e Madejski e Sikora (2016). A origem física da emissão em diferentes bandas de frequência tem sido um tema de debate contínuo.

A revisão bibliográfica aborda modelos propostos, como o modelo de upscattering de fótons de micro-ondas do fundo cósmico de micro-ondas (CMB) por elétrons relativísticos através do efeito Compton inverso (IC), conforme descrito por Celotti et al. (2001) e Miller et al.​ (2006).

No entanto, estudos subsequentes, como os de Marshall et al. (2010) e Hardcastle et al. (2016), desafiaram este modelo, apontando para a variabilidade na luminosidade dos jatos em raios-X, o que contrasta com a expectativa de emissão consistente ao longo de milhões de anos.

A revisão também menciona a possibilidade de que a emissão em raios-X em jatos de baixo redshift seja dominada por um segundo componente de emissão sincrotrônica, diferente daquele na banda de rádio, conforme sugerido por Meyer et al. (2023). Este componente de emissão deve se originar de regiões muito menores do que a largura do jato, para explicar a variação observada na luminosidade em escalas de tempo de meses, como discutido por Marshall et al. (2010) e Hardcastle et al.​ (2016).

Para a galáxia Centaurus A, este é considerado o mecanismo mais provável para a emissão observada em raios-X no jato, conforme indicado pela Colaboração H.E.S.​ (2020).

A revisão bibliográfica também aborda a questão dos movimentos próprios superluminais, que ocorrem quando partículas dentro do jato viajam a velocidades relativísticas e, em determinadas inclinações em relação à linha de visão, resultam em movimentos próprios aparentes que excedem a velocidade da luz.

Estudos anteriores, como os de Jorstad et al.​ (2005), mediram movimentos próprios aparentes de até 46 vezes a velocidade da luz para o blazar PKS 1510-089. No entanto, medições de movimentos próprios aparentes em raios-X são limitadas devido às restrições na resolução angular dos telescópios de raios-X.

O Observatório de Raios-X Chandra, com a melhor resolução angular disponível, permitiu a detecção de movimentos próprios superluminais em jatos de AGNs próximos, como M87, conforme relatado por Snios et al. ​ (2019a) e Thimmappa et al. (2024).

A galáxia Centaurus A, sendo o AGN mais próximo, oferece uma oportunidade única para estudar a morfologia, cinemática e evolução dos jatos.​ Estudos anteriores, como os de Tingay et al. (1998) e Hardcastle et al. (2003), investigaram os movimentos próprios dos nós do jato em Centaurus A na banda de rádio, encontrando movimentos próprios subluminais.​ No entanto, a revisão bibliográfica destaca a necessidade de mais estudos em raios-X para entender melhor as diferenças entre as estruturas observadas em diferentes bandas de frequência e os mecanismos de emissão subjacentes.

Em resumo, a revisão bibliográfica do artigo fornece uma base sólida para a pesquisa, contextualizando as descobertas no contexto de estudos anteriores e destacando as lacunas e controvérsias que a pesquisa atual busca abordar.​

A pesquisa se baseia em dados obtidos pelo Observatório de Raios-X Chandra, especificamente utilizando o Advanced CCD Imaging Spectrometer (ACIS).

​A seguir, descrevemos os principais passos metodológicos adotados pelos autores.

Primeiramente, os pesquisadores selecionaram um conjunto de 63 observações do Chandra, realizadas entre 2000 e 2022.

​Destas, foram descartadas as observações em que a fonte central estava a mais de 4 minutos de arco do centro da imagem, devido a aberrações esféricas e outras distorções que poderiam comprometer a análise. Além disso, observações com ângulos de rotação que colocavam a faixa de leitura dentro da largura angular do jato também foram excluídas, resultando em um conjunto final de 34 observações.

Para garantir a precisão na análise, os autores reprocessaram os arquivos de eventos utilizando o comando “chandra_repro” do software Chandra Interactive Analysis of Observations (CIAO).

As imagens foram corrigidas para remover a faixa de leitura com o uso da tarefa “acisreadcorr”.​

Em seguida, foram criadas imagens de subpixel com uma escala de 1/16 de pixel, utilizando o algoritmo de reposicionamento de eventos dependente de energia (EDSER), para permitir o alinhamento preciso das imagens. O alinhamento das imagens foi uma etapa crucial da metodologia.Os autores identificaram 35 fontes pontuais brilhantes na imagem total, que foram usadas como referências para o alinhamento. ​ Essas fontes foram selecionadas com base em critérios de contagem de fontes, estabilidade do fundo e distância mínima de outras fontes.

A posição central dessas fontes foi determinada por meio de ajustes de uma função gaussiana bidimensional.

​As imagens foram então alinhadas iterativamente, utilizando a correlação cruzada de subimagens centradas nas fontes de alinhamento.

Com as imagens alinhadas, os pesquisadores dividiram as observações em quatro grupos distintos, para visualizar as mudanças ocorridas ao longo dos 22 anos de observações.​ Cada grupo continha um número comparável de contagens de fontes no jato, após a subtração do fundo.

Imagens de diferença foram geradas para comparar cada grupo com a imagem total combinada, destacando variações de brilho e morfologia no jato.

Para medir os movimentos próprios dos nós do jato, os autores desenvolveram um algoritmo em Python que ajusta a distribuição de contagens em torno de uma fonte selecionada ao longo de todas as imagens alinhadas.

A distribuição de contagens de cada nó do jato foi modelada como uma função gaussiana bidimensional, com eixos ajustados para coincidir com a direção do jato.

A posição central da função gaussiana foi permitida variar linearmente no tempo, representando o movimento próprio do nó.

Os erros nas medições de movimento próprio foram avaliados considerando a precisão do alinhamento das imagens e a adequação da função de ajuste. Os autores também realizaram simulações para verificar a robustez do método em condições de variação de largura e fluxo dos nós do jato.

Em resumo, a metodologia empregada no estudo combina técnicas avançadas de processamento e análise de imagens, alinhamento preciso de dados observacionais e modelagem estatística rigorosa, permitindo a detecção e medição precisa de movimentos próprios superluminais nos nós do jato de Centaurus A.

​Além disso, compararam os resultados obtidos com diferentes subconjuntos de observações e faixas de energia, para garantir a consistência das medições.

Os resultados obtidos no artigo “Superluminal Proper Motion in the X-Ray Jet of Centaurus A” são significativos e revelam novas informações sobre a dinâmica dos jatos relativísticos em núcleos ativos de galáxias (AGNs).

A análise detalhada das observações de raios-X do jato de Centaurus A (Cen A) ao longo de 22 anos permitiu aos pesquisadores identificar e medir movimentos próprios superluminais em vários nós do jato.

Um dos resultados mais notáveis foi a detecção de um movimento próprio superluminal no nó do jato denominado AX4.

Este nó, localizado a uma distância transversal de 520 parsecs do núcleo da galáxia, apresentou um movimento próprio aparente de 2,33 ± 0,31c na direção paralela ao jato e 1,30 ± 0,27c na direção perpendicular.

Este movimento próprio total de 2,67 ± 0,41c é significativamente maior do que qualquer outro nó do jato observado, indicando que AX4 está se movendo a uma velocidade relativística extremamente alta. A partir deste movimento próprio, os autores conseguiram impor um limite na inclinação do jato, estimando que a inclinação máxima é de 41° ± 6°. Além disso, a velocidade mínima do nó AX4 foi calculada como sendo β > 0,94 ± 0,02, o que corresponde a um fator de Lorentz γ de 2,9 ± 0,4.

Outro resultado importante foi a identificação de quatro nós do jato que apresentaram movimentos próprios significativos, embora menores que AX4. O nó AX3, por exemplo, apresentou um movimento próprio de 0,63 ± 0,22c na direção paralela e 0,57 ± 0,21c na direção perpendicular.

Esses resultados indicam que, embora a maioria dos nós do jato tenha movimentos próprios abaixo do limite de detecção, alguns nós se movem a velocidades relativísticas consideráveis.

Os autores também observaram que os nós mais brilhantes do jato, como AX1A, AX1C, AX6 e BX2, têm movimentos próprios consistentes com zero, sugerindo que esses nós são estacionários.

Além dos movimentos próprios paralelos, os pesquisadores detectaram componentes significativas de movimento próprio na direção perpendicular ao jato em alguns nós.

Por exemplo, o nó CX4 apresentou um movimento próprio perpendicular de 0,95 ± 0,37c. Isso é consistente com a hipótese de que esses nós são causados pela interação do jato com obstáculos no meio circundante, como nuvens de gás, que não se movem a velocidades relativísticas.

Esses movimentos perpendiculares sugerem que os nós do jato podem ter movimentos helicoidais ou serem influenciados por campos magnéticos helicoidais.

Os resultados também mostraram que a velocidade aparente dos nós do jato tende a diminuir com a distância do núcleo, o que pode ser interpretado como uma desaceleração gradual do jato devido à interação com o meio circundante.

No entanto, o nó AX4 representa uma exceção notável a essa tendência, com uma velocidade muito maior do que os nós adjacentes, sugerindo que ele pode ter sido acelerado a uma velocidade excepcionalmente alta por um evento raro, como uma perturbação tidal.

Em comparação com medições anteriores em rádio, os resultados em raios-X revelam diferenças significativas.

Por exemplo, o nó AX4, que corresponde ao nó de rádio A3B, tem um movimento próprio em raios-X que é 4,3σ maior do que o medido em rádio.

​Isso sugere que os nós de jato em diferentes bandas de frequência podem corresponder a diferentes estruturas físicas dentro do jato.

Em resumo, os resultados do artigo fornecem novas e importantes informações sobre a dinâmica dos jatos relativísticos em AGNs, destacando a complexidade e a variabilidade dos movimentos próprios dos nós do jato em Centaurus A.

A análise detalhada das observações de raios-X do jato de Centaurus A (Cen A) ao longo de 22 anos revelou movimentos próprios superluminais em vários nós do jato, fornecendo novas perspectivas sobre a dinâmica e a física desses fenômenos.

Um dos resultados mais significativos foi a detecção de um movimento próprio superluminal no nó do jato AX4, que apresentou um movimento próprio total de 2,67 ± 0,41c.

Este achado é particularmente notável, pois indica que AX4 está se movendo a uma velocidade relativística extremamente alta, o que permitiu impor um limite na inclinação do jato de i < 41° ± 6°. Além disso, a velocidade mínima do nó AX4 foi calculada como β > 0,94 ± 0,02, correspondendo a um fator de Lorentz γ de 2,9 ± 0,4. Esses resultados são consistentes com medições em escalas subparsec, mas contradizem estimativas anteriores de alta inclinação.

A identificação de movimentos próprios significativos em outros nós do jato, como AX3, que apresentou um movimento próprio de 0,63 ± 0,22c na direção paralela e 0,57 ± 0,21c na direção perpendicular, reforça a complexidade da dinâmica dos jatos relativísticos. A maioria dos nós do jato, no entanto, apresentou movimentos próprios abaixo do limite de detecção, sugerindo que muitos desses nós são estacionários, possivelmente devido à interação do jato com obstáculos no meio circundante, como nuvens de gás.

A detecção de componentes significativas de movimento próprio na direção perpendicular ao jato em alguns nós, como CX4, que apresentou um movimento próprio perpendicular de 0,95 ± 0,37c, sugere que os nós do jato podem ter movimentos helicoidais ou serem influenciados por campos magnéticos helicoidais.

Esses movimentos perpendiculares indicam que a dinâmica dos jatos é mais complexa do que um simples movimento linear ao longo do eixo do jato.

No entanto, o nó AX4 representa uma exceção notável a essa tendência, com uma velocidade muito maior do que os nós adjacentes, sugerindo que ele pode ter sido acelerado a uma velocidade excepcionalmente alta por um evento raro, como uma perturbação tidal.

Por exemplo, o nó AX4, que corresponde ao nó de rádio A3B, apresentou um movimento próprio em raios-X que é 4,3σ maior do que o medido em rádio, sugerindo que os componentes de jato detectados em raios-X podem estar se movendo a velocidades diferentes das detectadas em rádio.

Os resultados também mostraram uma tendência de desaceleração gradual dos nós do jato com a distância do núcleo, o que pode ser interpretado como uma interação crescente com o meio circundante.

Comparações com medições anteriores em rádio revelaram diferenças significativas, destacando que os nós de jato em diferentes bandas de frequência podem corresponder a diferentes estruturas físicas dentro do jato.

Em suma, os resultados do artigo fornecem novas e importantes informações sobre a dinâmica dos jatos relativísticos em AGNs, destacando a complexidade e a variabilidade dos movimentos próprios dos nós do jato em Centaurus A. A detecção de movimentos próprios superluminais e a identificação de componentes perpendiculares significativas sugerem que a física dos jatos é influenciada por uma variedade de fatores, incluindo interações com o meio circundante e possíveis eventos raros que podem acelerar os nós a velocidades excepcionalmente altas. Esses achados contribuem para um entendimento mais profundo dos processos físicos que governam os jatos relativísticos e abrem novas direções para pesquisas futuras.

Fonte:

https://iopscience.iop.org/article/10.3847/1538-4357/ad73a1

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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