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O Recuo da Geleira Jakobshavn

Pela maior parte do século passado, a Geleira Jakobshavn, ou Jakobshavn Isbræ, localizada na costa oeste da Groenlândia se estendeu para dentro do oceano como uma longa e estreita língua de gelo. A geleira drenou uma grande parte da capa de gelo da Groenlândia, e consequentemente, a geleira possui potencial para contribuir mais para o aumento do nível do mar do que qualquer outra feição do Hemisfério Norte. Em 6 e 7 de Julho de 2010, a geleira diminuiu 1.5 quilômetros. Para a geleira essa ruptura não foi tão dramática, mas ele dá continuidade a um padrão de desprendimento de um pedaço da geleira e o recuo da mesma seguido pelo fluxo de gelo que começou no início da década passada.

Essas imagens foram adquiridas pelo instrumento Advanced Land Imager (ALI) a bordo do satélite Earth Observing-1 (EO-1) da NASA e mostram a Geleira Jakobshavn em 2001 (imagem superior) e em 2010 (imagem inferior). Em 2001 pode-se observar que a Geleira Jakobshavn se estendia na direção oeste, mostrando a típica feição de uma geleira incluindo as franjas e as rachaduras. A linha amarela na imagem de 2001 mostra a parte da geleira que foi retirada no início de Julho de 2010. Na imagem de 2010, a mesma área aparece bagunçada sem padrões que representa o gelo da geleira e o mar congelado coberto por neve.

Em 2001, a Jakobshavn já era a geleira mais rápida do mundo no que diz respeito ao fluxo da terra para o mar cuja velocidade era de 7 quilômetros por ano. Em Julho de 2010, essa velocidade mudou para 15 quilômetros por ano e a borda da geleira tem recuado a uma velocidade de 10 quilômetros por ano. A diminuição da geleira na região onde existem dois distributários e esse evento acontecendo nos últimos anos, fez com que o fluxo aumentasse de velocidade criando duas geleiras onde antes só existia uma.

Quando uma língua de gelo como a Jakobshavn sofre essa redução, acelera-se o processo de redução da geleira. A redução da fricção entre a parte intacta da geleira e a rocha, e a redução da capacidade de boiar, significa a perda de resistência ao movimento da geleira. Um estudo em 2004 concluiu que embora a Jakobshavn tivesse sofrido uma redução vagarosa entre 1985 e 1992, no ano de 2000, a redução da geleira aumentou significantemente, e essa redução continuou a acelerar. Em 2000 a Jakobshavn fluiu para o mar a uma velocidade de 9400 metros por ano. Em 2003 ela acelerou sua perda para 12600 metros por ano. A velocidade atual de perda da geleira em direção ao mar é de 15000 metros por ano.

As condições de aquecimento no Ártico contribuem para a aceleração da perda da geleira em vários anos. Condições mais quentes podem enviar água para a base da geleira, aumentando a lubrificação e consequentemente a velocidade do degelo. Durante o inverno, a taxa de degelo reduz significantemente, a língua de gelo avança e sua velocidade diminui. Invernos mais quentes, contudo, permitem que o degelo da geleira e as altas taxas de fluxo continuem.

No inverno de 2010, a frente de gelo da Jakobshavn não avançou novamente como normalmente acontece, então no início de 2010 a temporada de derretimento ocorreu no mesmo lugar em que havia ocorrido em 2009. Como resultado, a geleira tem potencial para experimentar uma grande redução durante o verão de 2010. A ruptura no início de Julho de 2010 ocorreu no distributário da porção norte da Geleira Jakobshavn. A porção sul atualmente drena uma grande parte da calota de gelo central da Groenlândia, então uma redução da geleira ali, pode levar a uma descarga de gelo mais substancial.

Fonte:

http://earthobservatory.nasa.gov/IOTD/view.php?id=44625

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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