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Estrelas Variáveis Podem Ajudar Na Busca Por Extraterrestres

O Observatório Gaia, administrado pela Agência Espacial Europeia (ESA), tem operado consistentemente no Ponto de Lagrange L2 Terra-Sol por quase uma década. Sua missão principal, a astrometria, visa coletar informações sobre posições, movimentos próprios e velocidades de estrelas, exoplanetas e objetos na Via Láctea, bem como em dezenas de milhares de galáxias vizinhas. Ao término de sua missão primária, prevista para 2025, estima-se que o Gaia tenha observado cerca de 1 bilhão de objetos astronômicos, culminando na criação do catálogo espacial 3D mais preciso já elaborado.

Até o momento, a ESA divulgou três conjuntos de dados provenientes da missão Gaia, sendo o mais recente (DR3) lançado em junho de 2022. Além das inovações proporcionadas por essas divulgações, os cientistas estão descobrindo novas aplicações para esses dados astrométricos. Em um estudo recente, uma equipe de astrônomos propôs que o catálogo de estrelas variáveis do Gaia DR3 poderia ser utilizado para auxiliar na Busca por Inteligência Extraterrestre (SETI). Ao sincronizar a busca por transmissões com eventos astronômicos notáveis, como supernovas, os cientistas poderiam refinar a busca por transmissões extraterrestres.

O estudo foi conduzido por Andy Nilipour, estudante de graduação no Departamento de Astronomia da Universidade de Yale. Ele contou com a colaboração de James R.A. Davenport, cientista da Universidade de Washington em Seattle; Steve Croft, astrônomo sênior adjunto do Laboratório de Radioastronomia e do Instituto SETI em UC Berkeley; e Andrew Siemion, titular da Cadeira Bernard M. Oliver para Qualificação SETI em UC Berkeley, no Jodrell Bank Centre for Astrophysics na Universidade de Manchester e no Instituto de Ciências Espaciais e Astronomia na Universidade de Malta.

Este estudo, intitulado “Estratégias de Sincronização de Sinais e SETI no Domínio Temporal com Gaia DR3”, representou a primeira pesquisa acadêmica de Nilipour. Em entrevista à Yale News, ele explicou que seus mentores, Steve Croft e James Davenport, o introduziram à ideia de desenvolver uma técnica geométrica para restringir buscas por tecnossinaturas, um dos maiores desafios atuais no campo do SETI.

As tecnossinaturas são evidências de atividades que demonstram inequivocamente a presença de uma civilização tecnologicamente avançada. Até agora, a maioria dos experimentos SETI focou na busca por sinais de rádio, uma vez que essa tecnologia é viável e as ondas de rádio se propagam eficientemente pelo espaço. Contudo, recentemente, os cientistas têm ampliado o espectro de potenciais tecnossinaturas e considerado outros métodos de detecção.

No estudo, Nilipour e sua equipe postularam que uma civilização inteligente poderia optar por sincronizar seus sinais com um evento astronômico notável, como uma supernova, para chamar a atenção de observadores. Baseando-se nessa teoria, a equipe selecionou quatro supernovas históricas dos últimos 1.000 anos e analisou quanto tempo a luz dessas explosões levou para chegar à Terra. Eles determinaram que a luz desses eventos levou, respectivamente, 6.300 anos, 8.970 anos, 16.600 anos e 168.000 anos para alcançar nosso planeta.

Ao comparar esses resultados com sinais luminosos de mais de 10 milhões de estrelas registrados pelo observatório Gaia e incluídos no catálogo DR3, identificaram 465 estrelas cuja luz levou o mesmo tempo para chegar à Terra e 403 estrelas cujos sinais luminosos viajaram até a Terra a partir de um ângulo vantajoso em relação a essas supernovas. Embora nenhuma das 868 sistemas tenha apresentado evidências de tecnossinaturas, os resultados forneceram parâmetros importantes para buscas futuras.

Nilipour destacou que o método pode ser usado para analisar outros conjuntos de dados em busca de possíveis sinais de tecnossinaturas. “Seria incrível encontrar uma tecnossinatura, mas o foco principal era demonstrar uma metodologia aplicável no futuro”, disse ele.

Dada a vastidão de estrelas em nossa galáxia, a quantidade de ruído de fundo e a natureza temporal das transmissões, buscar potenciais tecnossinaturas é uma tarefa extremamente desafiadora. No entanto, pesquisas como esta, que buscam refinar e direcionar a busca, aumentam as chances de uma detecção inequívoca. Se há uma “agulha” a ser encontrada no “palheiro” cósmico, mais cedo ou mais tarde a encontraremos. Mesmo diante de um universo tão vasto e de tantas possibilidades, é apenas uma questão de tempo.

Fonte:

https://www.universetoday.com/162635/variable-stars-can-tell-us-where-and-when-to-search-for-extraterrestrials/

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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