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Dupla Comemoração – Bastilha e Santos Dumont

Quando nós pensamos no início da aviação, invariavelmente o nome dos Irmãos Wrigth vem a mente. Mas existem muitos outros que fizeram contribuições significantes para a realização dos primeiros vôos, entre eles está o brasileiro inventor e pioneiro na aviação Alberto Santos-Dumont.

Nascido no Brasil em 1873, Santos Dumont se mudou para Paris aos 18 anos de idade, onde teve a chance de viver de forma intensa a sua paixão. Logo de cara ele ficou fascinado com a possibilidade de voar, inicialmente com balões e depois com os chamados dirigíveis – aeronaves movidas com motor, baterias elétricas e eventualmente motores a gasolina.

Santos-Dumont fez seu primeiro vôo com sucesso a bordo de um dirigível em 1898, decolando de um jardim botânico a oeste de Paris e pousando depois de 1300 pés. Infelizmente a máquina perdeu pressão do gás e a sua descida foi na verdade um acidente quando o envelope principal perdeu a sua forma. Um ano depois, Santos-Dumont fez seu segundo vôo em um dirigível, que sofreu do mesmo problema do primeiro, perdeu pressão e se dobrou. Destemido como sempre para realizar seu objetivo, Santos-Dumont substituiu a forma de salsicha de sua máquina, por um envelope elíptico que era mais espesso na parte central mantendo assim a sua forma e sustentação durante o vôo.

Um novo incentivo para o sucesso veio no final do ano, quando o chefe do Aero Clube Francês ofereceu um prêmio de 100000 francos para a primeira aeronave que completasse a viagem saindo do Parc d’Aerostation do clube localizado em Saint-cloud fosse até a Torre Eiffel e voltasse ao lugar de partida em menos de 30 minutos. A distância total era de 6.8 milhas, necessitando para isso uma velocidade de 14 mph, uma velocidade que até então nenhuma máquina voadora tinha atingido. Faminto pelo desafio, Santos-Dumont construiu o seu próprio hangar em Saint Cloud para conduzir seus experimentos. Ele construiu sua quarta máquina voadora no final de 1900 e fez alguns vôos de teste com ela no verão seguinte, eventualmente incorporando o que ele aprendeu no desenho de sua quinta máquina. Com isso ele decidiu que estava pronto para tentar o prêmio.

Alberto Santos-Dumont no cesto de uma de suas aeronaves.

Em 12 de Julho de 1901, Santos-Dumont fez três vôos separados sobre a cidade de Paris, conseguindo alcançar a Torre e contorná-la na terceira tentativa. Mas ele foi forçado a pousar em um jardim devido a problemas no leme. No dia seguinte, ele tentou novamente, e conseguiu com sucesso voar sua aeronave de hidrogênio redor da Torre Eiffel e voltar em 40 minutos, dez minutos depois do tempo que valia o prêmio. Em 8 de Agosto ele fez uma nova tentativa novamente circulando a Torre, mas foi então forçado a pousar devido a falta de combustível hidrogênio, caindo sobre um restaurante no Trocadero. O envelope da aeronave se despedaçou e a sua estrutura se posicionou de certa forma contra a parede dos prédios ao redor que Santos-Dumont pôde descer tranqüilamente, são e salvo.

Mas o brasileiro era persistente. Ele rapidamente construiu uma aeronave substituta e em 19 de Outubro de 1901 ele estava pronto para a tentativa final. No caminho para a Torre Eiffel o vento estava a seu favor e ele chegou apenas 9 minutos atrasado. Ele quase se chocou com a Torre devido a uma manobra ousada no momento de contornar o monumento e teve uma verdadeira guerra contra o vento durante a viagem de volta para o aeródromo. Ele chegou em Saint Cloud apenas 40 segundos depois do tempo estabelecido como limite e os juízes depois de reconhecerem o feito deram o prêmio a ele que foi generosamente doado para instituições de caridade de Paris. O feito demonstrou que uma aeronave poderia ser um veículo prático e Santos- Dumont se tornou então uma figura familiar. Em 1902 ele tentou cruzar o Mar Mediterrâneo em uma aeronave, mas sofreu um acidente e caiu no percurso.

Santos-Dumont então se voltou para desenvolver e voar as chamadas máquinas mais pesadas que o ar. Em 12 de Novembro de 1906, ele fez um vôo de sucesso em uma de suas invenções por 772 pés em 21 segundos – três anos depois e 150 pés mais curto que o histórico vôo dos Irmãos Wright em Kitty Hawk em 1903. Mas como os Wright trabalharam em segredo para proteger o seu direito de patente, as notícias de suas realizações só chegaram a Paris anos depois. Santos-Dumont era então o terceiro homem a voar uma aeronave motorizada no mundo. Alguns historiadores acreditam que ele foi mesmo o primeiro ser humano a pilotar uma máquina mais pesada que o ar com sua própria impulsão. Existem algumas dúvidas se os irmãos Wright não usaram uma catapulta rudimentar em um plano inclinado para colocar a sua máquina no ar. Aqueles que defendem os Irmãos Wright dizem que o sistema de catapulta não tinha sido inventado até 1904 um ano depois do vôo. Eles começaram a usar esse sistema posteriormente para evitar danos as aeronaves. Uma das aeronaves desenhadas por Santos-Dumont – o Demoiselle inventado em 1900 – tornou-se o progenitor dos modernos ultraleves. Santos-Dumont terminou seus dias voltando para o Brasil, foi atacado por uma profunda depressão quando soube que os aviões estavam sendo usados com finalidade militar. Ele cometeu suicídio em 1932. Mas o seu lugar no hall da fama do Primeiro Vôo da Sociedade está garantido.

O Demoiselle o avião mais conhecido de Santos-Dumont.

Fonte:

http://www.aps.org/publications/apsnews/200407/history.cfm


Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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