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Direto da Terrinha: Tudo o Que Precisa de Saber – Cometa ISON em 2013

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observatory_150105O cometa  C/2012 S1 (ISON)  tem sido o cometa mais falado de 2013. Quando descoberto, no final de 2012, foi referido que o cometa podia ter o potencial de se tornar um objecto suficientemente brilhante para ser visto a olho nu, por altura do periélio (ponto da órbita de um dado objecto – seja planeta, asteróide, cometa ou outro objecto de um dado Sistema Solar – mais próximo de uma estrela, neste caso, o Sol) que decorrerá no dia 28 de Novembro de 2013. Começou a usar-se na mesma frase os termos cometa ISON e o cometa do século. Em Junho de 2013 e Julho de 2013, o cometa ISON estava em oposição em relação ao Sol,  do ponto de vista da Terra, mas quando o cometa reapareceu, no princípio de Agosto, não era tão brilhante como se esperava (#1). O que acontecerá ao cometa ISON nos restantes meses de 2013? Os cometas são especialmente imprevisíveis, mas é seguro dizer que muitos esperam ver se o cometa ISON irá aumentar de brilho… ou desvanecer (#2).

Qual a história do reaparecimento em Agosto de 2013 do cometa ISON e do seu brilho?

Na manhã de 12 Agosto de 2013, o astrónomo amador Bruce Gary estava a usar o telescópio de 28 cm de abertura no Observatório Hereford Arizona, apontando-o apenas a 6 graus angulares em relação ao horizonte Este, que já se encontrava em crepúsculo, quando ele se tornou a primeira pessoa a ver o cometa ISON após a passagem temporária por trás do Sol durante os meses de Junho, Julho e parte de Agosto. Ele não viu o cometa a olho nu, mas criou uma fotocomposição, ao empilhar imagens separadas, criando um pálido ponto com uma anti-cauda do cometa ISON na posição exacta prevista, em relação ao fundo de estrelas, pelos modelos teóricos.

O vídeo mostra o editor principal da Sky & Telescope, Alan MacRobert. Ele explicou que o cometa é mais pálido do que “devia” ser:

O cometa ISON é cerca de duas magnitudes (seis vezes) (#3) inferior ao que se esperava, em relação aos cálculos iniciais, que indicavam aos astrónomos que poderia dar origem a uma vista apreciável do cometa, antes do crepúsculo, em inícios de Dezembro. O cometa pode ainda tornar-se visível com considerável hipótese de ser bem apreciável a olho nu, ou pode nunca atingir o limiar da visibilidade à vista desarmada.

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O redactor-chefe da revista Sky & Telescope Robert Naeye acrescentou:

Os cometas são notavelmente inconstantes, objectos imprevisíveis, portanto não vou perder já a esperança. Porém estas últimas observações devem moderar as expectativas. Simplesmente teremos de esperar e ver como o cometa evoluirá nos seguintes meses quando se atrever a estar cada vez mais próximo do calor abrasador do Sol.

Desde a grande captura, por Bruce Gary, do cometa em 12 de Agosto de 2013, outros astrónomos também têm captado o cometa ISON em filme, mostrando também que não está à altura das expectativas. Quantas mais imagens podemos esperar ver do cometa ISON, entre este instante que lê estas linhas e o final do ano? Imensas!

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O cometa ISON mês a mÊs em finais de 2013.

Agosto 2013.

Do ponto de vista da Terra, o cometa ISON estava em oposição em relação ao Sol em Junho de 2013 e Julho de 2013. O seu reaparecimento ocorreu a 12 de Agosto de 2013 quando o astrónomo Bruce Gary do Arizona o viu. Em Agosto, era suficientemente brilhante para ser visto por observadores usando telescópios e outros equipamentos, em locais escuros. Veja aqui nesta hiperligação para cartas de busca para ver o cometa ISON.

Setembro 2013 e Outubro 2013.

O cometa ISON irá aumentar de brilho à medida que os meses passam. Em Setembro e Outubro, certamente que os astrónomos amadores irão tentar vê-lo. O cometa irá passar bem próximo da constelação Leo (Leão). Passará próximo da estrela mais brilhante da constelação, Regulus, e depois próximo do planeta Marte (#4) onde já passou a 1 de Outubro 2013. Do ponto de vista do Norte galáctico, o cometa ISON esteve muito próximo de Marte.

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Novembro 2013.

O cometa ISON tornar-se-á cada vez mais brilhante, ao longo do mês de Novembro, enquanto se aproximar do periélio no final do mês. O especialista em cometas John Bortle escreveu a 13 de Junho de 2013 que espera que o cometa atinja a visibilidade à vista desarmada cerca de três semanas antes da data do periélio que decorrerá a 28 de Novembro de 2013. O cometa estará a aproxidamente 1,2 milhões de quilómetros da fotosfera do Sol na data de passagem do periélio, ou seja, nesse dia a distância do cometa ISON ao Sol corresponderá a um centésimo da distância mínima do cometa à Terra. Esta passagem muito próxima à fotosfera do Sol pode fazer com que o cometa se desfaça em pedaços, e, se tal acontecer, o cometa provavelmente desvanecerá de brilho. Ou ainda o cometa ISON poderá emergir do periélio de forma suficientemente brilhante para ser visto a olho nu, com uma cauda cometária. Dado que os cometas são bastante imprevisíveis, não há forma de afirmar, nesta fase, o quão brilhante será o cometa. Em Novembro, o cometa ISON passará muito próximo – em termos de distância angular – da brilhante estrela Spica na constelação Virgo (Virgem) e de Saturno (visível na constelação Virgo nesta altura). Estes objectos brilhantes poderão ajudar-lhe a procurar o cometa. Tem sido dito que o cometa ISON pode tornar-se visível durante o dia, ainda que brevemente. Relembre, que no periélio, o cometa ISON irá estar próximo do Sol na abóbada celestial (o cometa estará apenas a 4,4º a Norte do Sol no dia 28 de Novembro de 2013). Embora o cometa se preveja ser brilhante nesta altura, é provável que só os especialistas que saibam como olhar próximo do Sol, bloqueando o brilho deste, poderão ver o cometa.  

Dezembro 2013.

Este é provavelmente o melhor mês para ver o cometa ISON, assumindo que sobreviva, à sua breve passagem pelo Sol, de forma intacta. O cometa será visível no céu, à vista desarmada (no caso de não se fragmentar aquando a passagem no periélio), tanto ao entardecer após o pôr-do-Sol como ao amanhecer antes do nascer-do-Sol. À medida que a distância do cometa ISON aumenta em relação ao Sol, o cometa irá empalidecer de brilho. O especialista de cometas John Bortle escreveu a 13 de Junho:

O crescendo da aparição irá ocorrer provavelmente entre 10 de Dezembro de 2013 e 14 de Dezembro de 2013, quando o cometa será melhor visto um pouco antes do crepúsculo assim que Lua tiver o seu ocaso. Embora pouca ou talvez nenhuma cabeça se irá manter, a enorme cauda assomará no céu Nordeste. Praticamente o seu brilho será uniforme em todo o seu comprimento, e a extensão da cauda, que desvanecerá rapidamente, pode abarcar quase um quarto da abódaba celestial sob condições de poluição luminosa parca ou mesmo inexistente.

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Todas as pessoas da Terra serão capazes de o ver, mas as melhores hipóteses de observação serão sentidas no Hemisfério Norte, à medida que 2013 se vai aproximando do fim.

Janeiro 2014.

Irá o cometa ISON ser visível à vista desarmada? Espera-se que sim. Só o tempo o dirá. A 8 de Janeiro de 2014 o cometa irá passar apenas a 2º da estrela Polaris (Polar) – a estrela do Norte. E há aqui algo de interessante. A 14 de Janeiro de 2014 e 15 de Janeiro de 2014, depois do próprio cometa ter passado a órbita da Terra, assim que esta passar pela órbita do cometa, poderá produzir uma chuva de meteoros, ou pelo menos, algumas nuvens noctilucentes.

Quão brilhante será o cometa ISON no final do ano 2013? Quão longa será a sua cauda? 

Ninguém pode responder ainda a estas questões. No seu artigo de 13 de Junho de 2013 na revista Sky & Telescope, o especialista de cometas, John Bortle, explicou a razão pela qual não sabemos ainda o quão brillante irá ser o cometa ISON:

Uma passagem próxima do Sol pode fragmentar e evaporar completamente o núcleo do cometa. O cometa rasante Ikeya-Seki de 1965, sobreviveu à passagem com o Sol razoavelmente intacto. Os cometas rasantes com longas caudas de 1880 e 1887 tiveram total fragmentação dos seus núcleos e dissiparam-se completamente passadas algumas semanas após a passagem pelo periélio. As últimas observações do cometa ISON sugerem que é intrinsecamente tão brilhante como os cometas do século XIX, assim a sobrevivência do seu núcleo para além de 28 de Novembro está em causa.

Contudo, ISON é decididamente mais brilhante que o recente cometa Lovejoy, que se fragmentou totalmente e, apesar de tal ou talvez por causa disso, deslumbrou com uma impressionante cauda para os observadores o Hemisfério Sul em finais de 2011.

Quem descobriu o cometa ISON? 

Os astrónomos russos e europeus do Leste anunciaram o novo cometa a 24 de Setembro de 2012. A magnitude do cometa na altura da descoberta era de 18,8 – ou seja, extremamente pálido. Vitali Nevski, Bielorússia, e Artyomm Novichonok, Rússia viram o cometa em imagens, extraídas por intermédio de CCD, obtidas a 21 de Setembro de 2012 com um reflector Santel de 0,4 m com relação focal f/3 do International Scientific Optical Network (ISON), próximo de Kislovodsk, Rússia. Seguidamente, os astrónomos no Observatório Remanzacco em Itália confirmaram a presença do cometa com a imagem supramencionada.

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Irá o cometa ISON superar as expectativas? 

Não parece que o cometa ISON se tornará um cometa lendário do século. O cometa ISON pode desfazer em fragmentos quando se aproximar do Sol, tal como o tão apregoado cometa Elenin o fez por altura de Agosto de 2011.

Ou, o cometa pode sobreviver ao seu encontro na vizinhança com a fotosfera do Sol, como fez o cometa Lovejoy em finais de 2011, quando emergir do periélio em finais de Novembro, pode tornar-se então visível a olho nu. E aí há algo com que podemos contar. Isto é, se o cometa ISON se tornar visível a olho nu será belíssimo. Todos os cometas brilhantes o são.

Não haja dúvidas, os cometas têm uma mística. No passado considerados presságios da desgraça, sabemos actualmente que são passageiros de gelo vindos da parte mais exterior do Sistema Solar que se aventuram de quando em quando no Sistema Solar interior, e voltam a desaparecer nos confins das profundezas do espaço, talvez para nunca mais regressarem. As pessoas ficam entusiasmadas com os cometas. São visitantes temporários na nossa região do Sistema Solar. Este cometa pode não ser tão brilhante como esperado, mas… será observado.

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NOTA: Artigo traduzido e melhorado/adaptado do original http://earthsky.org/space/big-sun-diving-comet-ison-might-be-spectacular-in-2013#month-by-month por Deborah Byrd que gentilmente autorizou a permissão para tradução do artigo no presente blog ASTROPT.ORG.

(#1) Para evitar confusões, o cometa nos períodos de Junho e Julho e principios de Agosto estava entre as órbitas de Júpiter e de Marte (vide vídeo em anexo do artigo para maior clareza), estando mais próximo da órbita de Marte. Nessa altura, grosso modo, Terra e Marte estavam em oposição com o Sol por permeio. Assim o termo reaparecimento do cometa, apenas significa que o cometa deixou de estar oculto pelo Sol.

(#2) O artigo original usa os termos sizzle e fizzle como jogo de palavras que não é possível mimetizar na língua portuguesa.


(#3) A magnitude dos objectos celestiais tem escala LOGARÍTMICA e NUNCA linear!

(#4) O cometa passará tão próximo de Marte, ou seja, a cerca de 0,07 UA, em que UA é a distância média entre Terra e Sol, chamada de Unidade Astronómica.


Fonte:

http://astropt.org/blog/2013/10/12/tudo-o-que-precisa-de-saber-cometa-ison-em-2013/

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Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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