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31 de dezembro de 2025

Silêncio Cósmico: Busca por Sinais Alienígenas no Visitante Interestelar 3I/ATLAS Não Encontra Evidências

Radiotelescópio Green Bank realiza varredura profunda no terceiro objeto interestelar conhecido, mas não detecta sinais de tecnologia extraterrestre

Introdução

Em um evento que capturou a atenção da comunidade astronômica global, uma busca meticulosa por sinais de vida inteligente foi conduzida no mais recente visitante de além do nosso sistema solar, o objeto interestelar 3I/ATLAS. No dia 18 de dezembro de 2025, um dia antes de sua máxima aproximação com a Terra, o renomado programa Breakthrough Listen apontou o poderoso Radiotelescópio Robert C. Byrd Green Bank, de 100 metros de diâmetro, em direção a este enigmático viajante cósmico. A expectativa era alta: seria este o momento em que finalmente detectaríamos uma “tecnoassinatura”, um sinal inequívoco de tecnologia alienígena?

O 3I/ATLAS, descoberto em meados de 2025, segue os passos dos seus predecessores, 1I/’Oumuamua e 2I/Borisov, como o terceiro objeto interestelar já identificado cruzando nossa vizinhança cósmica. Diferente do controverso ‘Oumuamua, que intrigou cientistas por sua forma alongada e aceleração anômala, o 3I/ATLAS exibe características de um cometa clássico, com uma coma difusa e um núcleo alongado, sugerindo uma origem natural. Contudo, a raridade desses eventos – apenas três em toda a história da astronomia – torna cada um deles uma oportunidade imperdível para a busca por inteligência extraterrestre (SETI).

A hipótese, embora remota, é que uma sonda interestelar não-humana poderia utilizar sinais de rádio de banda estreita para comunicação, similarmente às nossas próprias sondas Voyager 1 e Voyager 2, que continuam a transmitir dados enquanto navegam pelo espaço interestelar. Foi com essa possibilidade em mente que os cientistas realizaram uma varredura em uma ampla faixa de frequências, de 1 a 12 GHz, na esperança de captar qualquer transmissão anômala. A busca foi intensa, os dados foram analisados com rigor, mas o resultado, embora sóbrio, é crucial para a ciência: o cosmos, na direção de 3I/ATLAS, permaneceu em silêncio.

A Descoberta do 3I/ATLAS e Sua Importância

O objeto interestelar 3I/ATLAS, também designado oficialmente como C/2025 N1 e anteriormente conhecido pelo código provisório A11pl3Z, foi descoberto em 1º de julho de 2025 pelo sistema de alerta de asteroides ATLAS (Asteroid Terrestrial-impact Last Alert System). Este sistema, composto por uma rede de telescópios robóticos, foi projetado para detectar asteroides potencialmente perigosos que se aproximam da Terra, mas sua sensibilidade também o torna capaz de identificar visitantes de outros sistemas estelares.

A descoberta do 3I/ATLAS marca um momento histórico na astronomia. Ele é apenas o terceiro objeto interestelar confirmado a passar pelo nosso sistema solar, após o famoso 1I/’Oumuamua, detectado em outubro de 2017, e o cometa 2I/Borisov, descoberto em agosto de 2019. Enquanto ‘Oumuamua despertou debates acalorados devido à sua forma incomum e comportamento dinâmico inesperado – levando alguns a especular sobre uma possível origem artificial –, o 3I/ATLAS apresenta características muito mais consistentes com um objeto natural. Observações iniciais revelaram que ele possui uma coma, a nuvem de gás e poeira que envolve o núcleo de um cometa quando este se aproxima do Sol e seus voláteis começam a sublimar. Além disso, seu núcleo aparenta ser alongado, uma morfologia comum em cometas do nosso próprio sistema solar.

Apesar de sua aparência natural, a comunidade científica reconhece que cada objeto interestelar é uma oportunidade única. Esses viajantes cósmicos são amostras de outros sistemas planetários, carregando consigo informações sobre a composição química e as condições de formação de seus locais de origem. E, por mais improvável que seja, a possibilidade de que um desses objetos possa ser uma sonda ou artefato de uma civilização extraterrestre não pode ser completamente descartada sem uma investigação adequada. Foi essa premissa que motivou o programa Breakthrough Listen a agir rapidamente.

A Campanha de Observação do Breakthrough Listen

A campanha de observação do 3I/ATLAS foi um exemplo notável de agilidade e precisão na radioastronomia moderna. Coordenada pelo projeto Breakthrough Listen, a iniciativa mais ambiciosa e abrangente de busca por inteligência extraterrestre já realizada, a observação mobilizou um dos instrumentos mais sensíveis do planeta: o Telescópio Green Bank (GBT). Localizado em um vale remoto na Virgínia Ocidental, nos Estados Unidos, o GBT é o maior radiotelescópio totalmente orientável do mundo, com um prato de 100 metros de diâmetro que pode ser apontado para qualquer parte do céu visível.

A escolha do momento foi estratégica e cuidadosamente calculada. As observações ocorreram entre 04:15 e 09:15 no Tempo Universal (UT) de 18 de dezembro de 2025, aproximadamente um dia antes do perigeu do objeto, ou seja, sua máxima aproximação da Terra. Naquele momento, o 3I/ATLAS estava a cerca de 1.8 Unidades Astronômicas (UA) de distância, o equivalente a aproximadamente 270 milhões de quilômetros. Embora essa distância possa parecer vasta em termos humanos, ela é relativamente próxima em escalas astronômicas e representava a melhor janela de oportunidade para maximizar a sensibilidade da busca. Quanto mais próximo o objeto, mais fraco um sinal poderia ser e ainda assim ser detectado.

A equipe de pesquisa, liderada por Ben Jacobson-Bell do Departamento de Astronomia da Universidade da Califórnia, Berkeley, e incluindo colaboradores de instituições como o SETI Institute, a Universidade de Oxford, a Universidade de Malta e a Universidade de Manchester, projetou uma estratégia de observação abrangente. O GBT foi configurado para varrer quatro bandas de frequência distintas, designadas pelas letras L, S, C e X, que juntas cobrem um espectro contínuo de 1.1 a 11.7 GHz. Esta ampla cobertura foi escolhida porque não sabemos em qual frequência uma hipotética civilização extraterrestre poderia transmitir.

Banda Faixa de Frequência
L 1.1 – 1.9 GHz
S 1.8 – 2.7 GHz
C 4.0 – 7.8 GHz
X 7.6 – 11.7 GHz

Para cada banda, foi utilizada uma cadência de observação conhecida como ABACAD, uma técnica padrão em radioastronomia para diferenciar sinais cósmicos de interferências terrestres. Neste método, o telescópio alterna sua posição, apontando por 5 minutos para o alvo (posição “A”) e depois para uma região do céu adjacente e vazia (posições “B”, “C” e “D”). Um sinal real, originado do objeto interestelar, apareceria apenas nas observações “A”, enquanto uma interferência de radiofrequência (RFI), geralmente de origem terrestre como satélites de comunicação, torres de celular ou outros equipamentos eletrônicos, estaria presente em todas as direções, independentemente de para onde o telescópio estivesse apontado.

Metodologia de Análise: O Software turboSETI

O coração da análise de dados foi o software turboSETI, uma ferramenta de código aberto desenvolvida especificamente para a busca de tecnoassinaturas. Este programa sofisticado é projetado para procurar por um tipo específico de sinal: transmissões de rádio de banda estreita. Sinais de banda estreita são aqueles que estão comprimidos em uma faixa de frequência muito pequena, tipicamente de apenas alguns Hertz. Fenômenos astrofísicos naturais, como pulsares, quasares ou emissões de gás interestelar, tendem a produzir sinais de banda larga, espalhados por uma ampla gama de frequências. A tecnologia, por outro lado, como a conhecemos na Terra, favorece a banda estreita para uma comunicação eficiente, pois permite concentrar a energia do sinal em uma frequência específica, facilitando sua detecção a grandes distâncias.

O turboSETI processou os dados do GBT com uma resolução de frequência de 2.8 Hz, uma precisão extraordinária que permite identificar sinais extremamente estreitos. O software vasculhou os dados em busca de “hits” – picos de sinal que excedessem um limiar estatístico de 16 vezes o ruído de fundo (16 sigma, ou 16σ) para as observações apontadas para o alvo. Para as observações de controle (fora do alvo), um limiar ligeiramente mais baixo de 10σ foi utilizado para garantir que qualquer sinal de interferência fosse identificado e descartado.

Além da intensidade, o turboSETI também procurou por sinais com uma “taxa de deriva” (drift rate), uma mudança na frequência do sinal ao longo do tempo. Essa deriva é uma característica esperada de um transmissor que está em um objeto em movimento, como um planeta em rotação, uma espaçonave em órbita ou um objeto interestelar atravessando o sistema solar. Devido ao efeito Doppler, a frequência de um sinal emitido por uma fonte em movimento relativo ao observador será deslocada. A busca considerou taxas de deriva de até ±4 Hz por segundo, um intervalo que abrange os movimentos esperados do 3I/ATLAS e da própria Terra.

Resultados: Um Silêncio Eloquente

Inicialmente, a análise revelou um número impressionante de candidatos: 471.198 “hits” foram sinalizados pelo software turboSETI. No entanto, este é um resultado bruto e esperado em qualquer busca SETI, dado o ambiente de rádio cada vez mais poluído do nosso planeta. A proliferação de satélites, redes de comunicação sem fio e uma miríade de dispositivos eletrônicos cria um ruído de fundo constante que os radiotelescópios precisam filtrar.

O passo seguinte foi aplicar o filtro crucial da cadência ABACAD. Ao exigir que um sinal só aparecesse quando o telescópio estava apontado diretamente para o 3I/ATLAS, e não nas posições de controle, o número de candidatos foi drasticamente reduzido. Dos quase meio milhão de hits iniciais, apenas nove “eventos” sobreviveram a este primeiro corte rigoroso.

Uma investigação mais aprofundada desses nove finalistas foi então conduzida. Os pesquisadores examinaram a frequência de cada evento e a compararam com bandas conhecidas por estarem contaminadas por interferência de radiofrequência. Eles também analisaram a distribuição dos eventos em relação à taxa de deriva esperada, levando em conta o movimento orbital e rotacional da Terra, bem como a aceleração radial do próprio 3I/ATLAS. A conclusão foi inequívoca: todos os nove eventos poderiam ser atribuídos a RFI de origem humana. Eles correspondiam a frequências conhecidas por estarem contaminadas por satélites e outras fontes terrestres, e sua aparição nas varreduras de controle confirmou sua natureza artificial e terrestre.

Em outras palavras, após uma análise exaustiva, nenhum sinal de origem tecnológica vindo do 3I/ATLAS sobreviveu ao escrutínio. O resultado foi claro: um silêncio profundo emanava do visitante interestelar.

Implicações Científicas: O Valor de um Resultado Nulo

A não detecção de tecnoassinaturas no 3I/ATLAS, embora possa parecer decepcionante para o público em geral, representa um resultado científico de grande valor. Na ciência, um “resultado nulo” – a ausência de uma detecção – é tão informativo quanto uma descoberta positiva. Cada busca infrutífera como esta permite aos cientistas estabelecer limites mais rigorosos sobre a prevalência de vida tecnológica na nossa galáxia, refinando nossa compreensão do cosmos e das probabilidades envolvidas na busca por inteligência extraterrestre.

O estudo, intitulado “Breakthrough Listen Observations of 3I/ATLAS with the Green Bank Telescope at 1–12 GHz”, estabelece um limite superior claro para a presença de transmissores no objeto. Os pesquisadores concluíram que não existem transmissores de rádio isotrópicos de onda contínua com uma potência efetiva isotrópica radiada (EIRP) superior a 0.1 Watts (100 miliwatts) na localização do 3I/ATLAS. Para colocar isso em perspectiva, um simples telefone celular transmite a uma potência de aproximadamente 1 Watt. Isso significa que, se houvesse uma civilização no 3I/ATLAS usando uma tecnologia de comunicação omnidirecional comparável à nossa, nós a teríamos detectado.

Este resultado reforça a ideia de que, se civilizações tecnológicas existem, elas podem não estar usando transmissores de rádio potentes e contínuos de uma forma que seja facilmente detectável. Elas poderiam usar sinais direcionados, como feixes de laser ou micro-ondas focados, que só seriam detectáveis se estivessem apontados diretamente para nós. Poderiam também usar transmissões intermitentes, enviando sinais apenas em momentos específicos, ou talvez uma forma de comunicação completamente desconhecida para nós, baseada em princípios físicos que ainda não compreendemos. A ausência de um sinal não é a ausência de evidência de vida, mas sim uma peça importante no que é conhecido como o Paradoxo de Fermi – a aparente contradição entre a alta probabilidade estatística de existência de civilizações extraterrestres e a falta de evidências ou contato com tais civilizações.

O Futuro da Astronomia Interestelar e da Busca SETI

A observação do 3I/ATLAS demonstra a capacidade crescente da comunidade SETI de responder rapidamente a eventos astronômicos transitórios. A capacidade de mobilizar um telescópio de classe mundial e realizar observações profundas em um alvo recém-descoberto e de passagem rápida é um testemunho do avanço tecnológico e da colaboração internacional que caracteriza a ciência moderna. Os dados coletados nesta campanha serão disponibilizados publicamente através do Breakthrough Listen Data Portal, servindo como um recurso valioso para astrônomos em todo o mundo. Outras equipes poderão realizar suas próprias análises, talvez procurando por tipos de sinais que não foram o foco principal deste estudo, como pulsos intermitentes ou padrões modulados de forma complexa.

O estudo do 3I/ATLAS, juntamente com as observações anteriores de ‘Oumuamua e Borisov, está apenas começando a arranhar a superfície do campo emergente da astronomia interestelar. Cada novo visitante nos oferece uma amostra única de outro sistema estelar e uma nova oportunidade para a busca SETI. O futuro é promissor, com a expectativa de que novos observatórios, como o Vera C. Rubin Observatory, com seu Levantamento Sinóptico do Espaço e do Tempo (LSST), descubram dezenas ou até centenas de objetos interestelares nos próximos anos. Cada um será um novo alvo, uma nova chance de encontrar uma agulha no palheiro cósmico.

Conclusão

A busca por tecnoassinaturas no objeto interestelar 3I/ATLAS terminou em silêncio, mas não em fracasso. Pelo contrário, representa um passo sóbrio e necessário na longa jornada da humanidade para responder à pergunta fundamental: “estamos sozinhos no universo?”. A equipe do Breakthrough Listen, utilizando o Telescópio Green Bank, realizou uma das buscas mais sensíveis já feitas em um objeto interestelar, e a ausência de sinais anômalos nos diz algo importante sobre a natureza do nosso cosmos. O resultado sugere que sondas ou transmissores alienígenas óbvios não são comuns em nossa vizinhança galáctica, pelo menos não na forma que procuramos.

Enquanto o 3I/ATLAS continua sua jornada de volta ao espaço profundo, ele deixa para trás um legado de dados valiosos e uma lição de humildade. A busca continua. O silêncio do universo não é um desconvite, mas um desafio para que nos tornemos melhores ouvintes, para que desenvolvamos novas técnicas e para que continuemos a explorar, com paciência e rigor científico, a vasta e silenciosa fronteira final. O cosmos pode estar quieto, mas nossa curiosidade permanece mais ruidosa do que nunca.

Perguntas Frequentes (FAQ)

1. O que é o 3I/ATLAS?

O 3I/ATLAS é o terceiro objeto interestelar já descoberto pela humanidade, ou seja, um corpo celeste que se originou fora do nosso sistema solar e está apenas de passagem por nossa vizinhança cósmica. Descoberto em 1º de julho de 2025 pelo sistema de alerta de asteroides ATLAS, ele segue os passos do famoso 1I/’Oumuamua (2017) e do cometa 2I/Borisov (2019). Diferente de ‘Oumuamua, o 3I/ATLAS apresenta características típicas de um cometa, incluindo uma coma (nuvem de gás e poeira) e um núcleo alongado.

2. O que é o programa Breakthrough Listen?

O Breakthrough Listen é a iniciativa de busca por inteligência extraterrestre (SETI) mais abrangente e ambiciosa já realizada. Lançado em 2015 com financiamento do empresário Yuri Milner, o programa utiliza alguns dos maiores radiotelescópios do mundo, incluindo o Green Bank Telescope nos EUA e o Parkes Observatory na Austrália, para vasculhar o cosmos em busca de sinais de tecnologia alienígena, conhecidos como tecnoassinaturas.

3. Por que os cientistas procuraram sinais de rádio no 3I/ATLAS?

Embora o 3I/ATLAS pareça ser um objeto natural, a raridade de objetos interestelares – apenas três foram descobertos até hoje – torna cada um deles uma oportunidade única para investigação. Existe uma hipótese teórica de que sondas interestelares de civilizações avançadas poderiam se comunicar via sinais de rádio de banda estreita, semelhante às nossas sondas Voyager. Por precaução científica, os pesquisadores decidiram investigar essa possibilidade.

4. O que é uma tecnoassinatura?

Uma tecnoassinatura é qualquer sinal ou evidência detectável que indique a presença de tecnologia. No contexto da busca por vida extraterrestre, isso inclui sinais de rádio artificiais, emissões de laser, poluição atmosférica industrial ou até mesmo megaestruturas como esferas de Dyson. As tecnoassinaturas são o foco principal do SETI moderno, pois representam evidências diretas de civilizações tecnológicas.

5. O que significa dizer que a busca teve um “resultado nulo”?

Um resultado nulo significa que nenhum sinal de origem tecnológica foi detectado. Na ciência, isso não é considerado um fracasso, mas sim um resultado valioso. Ele permite aos pesquisadores estabelecer limites sobre o que não existe em determinada região do espaço. Neste caso, o estudo concluiu que não há transmissores de rádio com potência superior a 0.1 Watts na localização do 3I/ATLAS, o que é uma informação científica importante.

6. O que é o Telescópio Green Bank e por que ele foi usado?

O Telescópio Green Bank (GBT) é o maior radiotelescópio totalmente orientável do mundo, com um prato de 100 metros de diâmetro. Localizado em um vale remoto na Virgínia Ocidental, EUA, ele está em uma zona de silêncio de rádio, o que minimiza interferências terrestres. Sua enorme área de coleta e alta sensibilidade o tornam ideal para detectar sinais de rádio extremamente fracos vindos do espaço profundo.

7. O que é a técnica de observação ABACAD?

A técnica ABACAD é um método padrão em radioastronomia para distinguir sinais cósmicos reais de interferências terrestres. O telescópio alterna entre apontar para o alvo (posição “A”) e para regiões vazias do céu (posições “B”, “C”, “D”). Um sinal genuíno do objeto apareceria apenas nas posições “A”, enquanto uma interferência de origem terrestre estaria presente em todas as direções. Isso permite filtrar eficientemente o ruído de satélites, celulares e outros equipamentos eletrônicos.

8. O que é o Paradoxo de Fermi e como este resultado se relaciona com ele?

O Paradoxo de Fermi é a aparente contradição entre a alta probabilidade estatística de existência de civilizações extraterrestres no universo e a completa ausência de evidências ou contato com elas. A não detecção de sinais no 3I/ATLAS adiciona mais um dado a este enigma. Cada busca infrutífera sugere que, se civilizações tecnológicas existem, elas podem não estar se comunicando de formas que possamos detectar facilmente, ou podem ser extremamente raras.

9. Existem outros objetos interestelares conhecidos?

Sim, antes do 3I/ATLAS, dois outros objetos interestelares foram descobertos. O primeiro foi o 1I/’Oumuamua, detectado em outubro de 2017, que chamou atenção por sua forma alongada incomum e aceleração não-gravitacional, levando alguns a especular sobre uma possível origem artificial. O segundo foi o 2I/Borisov, descoberto em agosto de 2019, que era claramente um cometa com uma cauda visível. Com a melhoria dos sistemas de detecção, espera-se que muitos mais sejam descobertos nos próximos anos.

10. Isso significa que não existe vida extraterrestre?

Absolutamente não. A não detecção de sinais de rádio em um único objeto interestelar não descarta a existência de vida extraterrestre. Ela apenas indica que este objeto específico não está emitindo sinais de rádio detectáveis na faixa de frequência e potência que foi investigada. A vida pode existir em inúmeras formas, e civilizações tecnológicas podem usar métodos de comunicação completamente diferentes dos nossos. A busca continua, e cada observação nos aproxima de uma resposta mais completa.

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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