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Um Espalhamento Inesperado da Luz – Astrônomos Detectam Novo Fenômeno Que Pode Ajudar no Entendimento Sobre o Nascimento de Estrelas e Planetas

Astrônomos descobriram um novo fenômeno cósmico, chamado de “coreshine”, que está revelando novas informações sobre como as estrelas e planetas se formam.

Os cientistas usaram os dados do Telescópio Espacial Spitzer da NASA para medir a luz infravermelha defletida por núcleos, casulos frios e escuros onde estrelas jovens e sistemas planetários estão se formando. Esse efeito “coreshine”, que ocorre quando a luz de uma estrela próxima rebate no núcleo revela informações sobre a sua idade e consistência. Em um novo artigo publicado no dia 24 de Setembro de 2010 na Science, a equipe relata a descoberta do “coreshine” através de dezenas de núcleos negros.

“Nuvens escuras na nossa Via Láctea, longe da Terra, são enormes lugares onde as novas estrelas estão nascendo. Mas elas são obscurecidas por uma espessa camada de poeira e nós não podemos ver o que acontece em seu interior”, disse Laurent Pagani do Observatorie de Paris e do Centre National de la Recherche Scientifique, ambos na França. “Nós encontramos uma nova maneira de detectá-los. Eles são como fantasmas pois nós os observamos e também observamos através deles”.

Pagani e sua equipe observou primeiro um caso do fenômeno “coreshine” em 2009. Eles ficaram surpresos ao verem que a luz de uma estrela estava sendo espalhada por um núcleo escuro na forma de uma luz infravermelha que o Spitzer poderia enxergar. Os astrônomos então pensaram que os grãos de poeira que constituem o núcleo eram muito pequenos para defletir a luz da estrela, em vez disso eles esperavam que a luz viajasse através deles. A descoberta disse a eles que os grãos de poeira eram maiores do que se imaginava antes, aproximadamente 1 mícron ao invés de 0.1 mícron, um fio de cabelo humano tem em média 100 mícrons.

Isso parece não fazer muita diferença, mas pode alterar significantemente os modelos que os astrônomos têm para a formação de planetas e estrelas. Por um lado, os grãos maiores significam que os planetas, que se formam de poeira circulando estrelas jovens e se aglomerando, podem tomar a sua forma mais rapidamente. Em outras palavras, a semente para a formação de um planeta pode ser formada antes quando a estrela está ainda em sua fase pré-embrionária.

Mas esse objeto particular observado em 2009 poderia ter sido uma casualidade. Os pesquisadores não sabem se o que eles encontraram era na verdade outra nuvem escura. No novo estudo, eles examinaram 110 núcleos escuros, e encontraram que metade deles exibia o efeito de “coreshine”.

A descoberta fornece então uma nova ferramenta não somente para estudar a poeira que constitui os núcleos escuros, mas também para acessar sua idade. Os núcleos de formação de estrelas mais desenvolvidos terão os maiores grãos de poeira, então, usando essa ferramenta, os astrônomos podem de uma forma melhor mapear suas idades através de toda a Via Láctea. O efeito de “coreshine” pode também ajudar na construção de modelos tridimensionais dos núcleos, a luz defletida é espalhada de uma maneira que depende da estrutura das nuvens.

Disse Pagani, “nós estamos abrindo uma nova janela no tema obscuro dos núcleos formadores de estrelas”.

O artigo original onde a pesquisa é apresentada em detalhe pode ser acessado no seguinte link:

The Ubiquity of Micrometer-Sized Dust Grains in the Dense Interstellar Medium

Fonte:

http://www.jpl.nasa.gov/news/news.cfm?release=2010-311

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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