Uma nova imagem obtida no Observatório de La Silla do ESO, no Chile, mostra o espetacular aglomerado estelar globular Messier 4. Esta bola de dezenas de milhares de estrelas antigas é, na realidade, um dos mais próximos e mais estudados aglomerados globulares. Um trabalho recente revelou que uma das estrelas deste aglomerado tem propriedades estranhas e incomuns, aparentemente possuindo o segredo da juventude eterna.
Em torno da nossa galáxia, a Via Láctea, orbitam mais de 150 aglomerados estelares globulares, que datam do passado distante do Universo (eso1141). Um dos mais próximos da Terra é o aglomerado Messier 4 (também conhecido como NGC 6121), situado na constelação do Escorpião. Este objeto brilhante pode ser facilmente observado com binóculos, próximo da brilhante estrela vermelha Antares, e um pequeno telescópio amador consegue distinguir algumas das estrelas que o constituem.
Esta nova imagem do aglomerado, obtida com o instrumento Wide Field Imager (WFI), instalado no telescópio MPG/ESO de 2,2 metros, situado no Observatório de La Silla do ESO, revela muitas das dezenas de milhares de estrelas deste aglomerado, o qual nos aparece sob o fundo rico da Via Láctea.
Os astrônomos também estudaram muitas das estrelas do aglomerado de modo individual, utilizando instrumentos montados no Very Large Telescope do ESO. Ao separar a radiação emitida pelas estrelas nas suas componentes coloridas, podem-se obter as suas composições químicas e idades.
Os novos resultados para as estrelas de Messier 4 foram surpreendentes. As estrelas dos aglomerados globulares são velhas e por isso não se espera que sejam ricas em elementos químicos pesados [1]. Isto é o que é geralmente observado, mas uma das estrelas encontrada num rastreio recente possui uma quantidade muito maior de lítio, um elemento leve e raro, do que o esperado. A fonte deste lítio permanece um mistério. Normalmente este elemento é gradualmente destruído ao longo dos bilhões de anos de vida da estrela, mas esta estrela, ao contrário de milhares de outras, parece possuir o segredo da juventude eterna: ou conseguiu, de alguma forma manter o seu lítio original, ou encontrou algum modo de se auto-enriquecer com lítio recentemente formado.
A imagem WFI dá-nos uma vista de campo amplo do aglomerado e dos seus arredores bastante ricos. Uma vista complementar e mais detalhada, apenas da região central, obtida com o Telescópio Espacial Hubble da NASA/ESA foi também divulgada esta semana, no âmbito da série Fotografia da Semana do Hubble.
Notas
[1] A maioria dos elementos químicos mais pesados que o hélio são formados nas estrelas e liberados no meio interestelar no final das suas vidas. É deste material enriquecido que se formam as futuras gerações de estrelas. Deste modo, as estrelas muito velhas, tais como as dos aglomerados estelares globulares, formadas muito antes de algum enriquecimento significativo ter ocorrido, possuem menor abundância de elementos pesados, quando comparadas com estrelas que, como o Sol, se formaram posteriormente.
Mais Informações
O ano de 2012 marca o quinquagésimo aniversário da fundação do Observatório Europeu do Sul (ESO). O ESO é a mais importante organização europeia intergovernamental para a pesquisa em astronomia e é o observatório astronômico mais produtivo do mundo. O ESO é financiado por 15 países: Alemanha, Áustria, Bélgica, Brasil, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Holanda, Itália, Portugal, Reino Unido, República Checa, Suécia e Suíça. O ESO destaca-se por levar a cabo um programa de trabalhos ambicioso, focado na concepção, construção e funcionamento de observatórios astronômicos terrestres de ponta, que possibilitam aos astrônomos importantes descobertas científicas. O ESO também tem um papel importante na promoção e organização de cooperação nas pesquisas astronômicas. O ESO mantém em funcionamento três observatórios de ponta, no Chile: La Silla, Paranal e Chajnantor. No Paranal, o ESO opera o Very Large Telescope, o observatório astronômico óptico mais avançado do mundo e dois telescópios de rastreio. O VISTA, o maior telescópio de rastreio do mundo que trabalha no infravermelho e o VLT Survey Telescope, o maior telescópio concebido exclusivamente para mapear os céus no visível. O ESO é o parceiro europeu do revolucionário telescópio ALMA, o maior projeto astronômico que existe atualmente. O ESO está planejando o European Extremely Large Telescope, E-ELT, um telescópio da classe dos 40 metros que observará na banda do visível e próximo infravermelho. O E-ELT será “o maior olho no céu do mundo”.
Links
Artigo científico sobre a estrela de Messier 4 surpreendentemente rica em lítio (Monaco et al.)
Fotografias do VLT
Fotografias do telescópio MPG/ESO de 2,2 metros
Outras imagens obtidas com o telescópio MPG/ESO de 2,2 metros
Fotografias de La Silla
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Este texto é a tradução da Nota de Imprensa do ESO eso1235, cortesia do ESON, uma rede de pessoas nos Países Membros do ESO, que servem como pontos de contato local para a imprensa. O representante brasileiro é Gustavo Rojas, da Universidade Federal de São Carlos. A nota de imprensa foi traduzida por Margarida Serote (Portugal) e adaptada para o português brasileiro por Gustavo Rojas.
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