fbpx

Phaethon – Cometa ou Asteroide?

Um asteroide azul, bizarro que age como um cometa e parece ser o responsável pela Chuva de Meteoros Anual dos Geminídeos, fez um sobrevoo pela Terra em 2017, dando aos astrônomos uma oportunidade de estudar o objeto com detalhes sem precedentes. Eles descobriram que o asteroide é ainda mais estranho do que eles imaginavam.

O asteroide 3200 Phaethon é uma rocha espacial especial com uma coloração azulada rara e com uma órbita extremamente excêntrica que faz o objeto passar muito perto do Sol, e então passar na órbita de Marte. Uma órbita dele leva 1.4 anos terrestres. Esse tipo de órbita é mais comum para cometas do que para asteroides.

Mas, enquanto o Phaethon age como um cometa, ele não se parece com um. Quando os cometas chegam perto do Sol, eles formam uma coma e uma cauda de gás e poeira. O Phaethon, contudo sempre para como um pedaço de rocha flutuando no espaço.

Em 16 de Dezembro de 2017, o asteroide Phaethon passou bem perto da Terra, na verdade a passagem mais próxima desde 1974, ele chegou a 10.3 milhões de quilômetros do nosso planeta. Enquanto astrônomos apontavam seus telescópios para a rocha espacial com a finalidade de registrar esses histórico sobrevoo, os astrônomos profissionais em observatórios espalhados por todo o mundo tiveram a oportunidade de aprender mais sobre o que é esse objeto e de onde ele veio.

Teddy Kareta, um estudante da Universidade do Arizona, que liderou um grupo internacional de pesquisadores que estudaram o Phaethon nessa sua passagem pela Terra, apresentou as descobertas feitas no encontro anual da Divisão de Ciência Planetária da Sociedade Astronômica Americana, no dia 23 de Outubro de 2018. Kareta e seus colegas observaram a aproximação do Phaethon usando o Infrared Telescope Facility da NASA em Mauna Kea, no Havaí e o Telescópio Tillinghast no Monte Hopkins no Arizona.

Um dos seus achados podem contradizer a teoria atual sobre a origem do Phaethon. Os astrônomos há muito tempo suspeitavam que o Phaethon era um fragmento do asteroide azul Pallas, que é bem maior. “Contudo, o albedo do Pallas, é cerca de duas vezes o albedo do Phaethon”, disse Kareta. Com um albedo de cerca de 8%, o Phaethon é um pouco mais brilhante do que o carvão e tem somente metade do brilho do Pallas, disse Kareta.

Os pesquisadores também descobriram que a superfície do Phaethon é igualmente toda azulada, o que significa que o objeto foi de forma regular “cozinhado” pelo calor do Sol. A cor azul do Phaethon indica que a rocha passou por intenso aquecimento, disse Kareta. Durante as viagens do Phaethon ao redor do Sol, ele foi aquecido a temperaturas de 800 graus Celsius, que é um calor tão intenso que os metais na superfície se tornam uma gosma, disse ele.

A Chuva de Meteoros dos Geminídeos, que acontece todo ano no mês de Dezembro, é a única chuva de meteoros que aparentemente se origina de um objeto que não seja um cometa. Os cometas são corpos congelados que contém uma mistura de gelo, rocha, poeira e gás congelado. Quando o cometa chega perto do Sol, parte do seu material é vaporizado e pequenos pedaços do cometa se quebram, deixando para trás um rastro de pedaços de cometa no espaço. Quando a Terra passa através desse rastro de detritos, nós temos uma chuva de meteoros.

Asteroides como o Phaethon são objetos rochosos que não se comportam da mesma maneira que os cometas quando eles passam perto do Sol, e os astrônomos não sabem ao certo como o Phaethon cria os Geminídeos. Antes do Phaethon ter sido descoberto, em 1983, os astrônomos não tinham ideia de onde os Geminídeos vinham. Ao observar que a órbita do Phaethon se ajustava com o rastro de detritos que gera a chuva anual de meteoros, os astrônomos então determinaram que o Phaethon deveria ser a origem.

Exatamente, como o Phaethon cria esse rastro de detritos ainda é um mistério, disse Kareta. Embora seja possível que o material varrido da superfície do asteroide possa contribuir para os detritos, “a quantidade de poeira que é varrida nem de perto é suficiente para sustentar os Geminídeos”, disse ele. Uma possibilidade é que o Phaethon tenha colidido com outro objeto no espaço, e então os Geminídeos sejam resultado dessa colisão. “Então, nesse caso, o que nós vemos, essencialmente é a poeira resultante desse violento evento”.

Outra possibilidade é que o Phaethon é um cometa adormecido, ou um cometa que se transformou num asteroide com o passar do tempo. “Se ele foi um cometa em algum ponto no passado, talvez ele teria feito a chuva de meteoro de maneira normal, e tenha deixado para trás esses pedaços de cometa, mas desde então, ele tem sido cozinhado, deixado de ser um cometa, e atualmente é apenas uma rocha espacial”, disse Kareta.

O Phaethon pode parecer mais com um asteroide do que com um cometa, mas ele mostra características de ambos os objetos. Ele não tem uma coma e uma cauda como os cometas, mas ele lança uma fina cauda de poeira quando ele chega perto do Sol num processo que seja similar ao leito de um rio seco sendo rachado pelo calor, disseram pesquisadores da Universidade do Arizona. “Esse tipo de atividade só foi vista em dois objetos em todo o Sistema Solar, o Phaethon e outro objeto similar que parece deixar mais confusa a linha que tradicionalmente separa os asteroides dos cometas”.

As descobertas dessa nova pesquisa serão usadas pelos cientistas da JAXA, a Agência de Exploração Aeroespacial do Japão, que está atualmente planejando mandar uma missão para o Phaethon. A missão é chamada de DESTINY+, uma abreviação para Demonstration and Experiment of Space Technology for Interplanetary Voyager, Phaethon Flyby and Dust Science, e atualmente está programada para ser lançada em 2022.

A missão DESTINY+ irá sobrevoar o Phaethon e outros objetos próximos da Terra, para estudar como a poeira é ejetada desses objetos. Isso pode explicar no futuro como a pequena e tênue cauda do Phaethon é gerada. A DESTINY+ poderia ajudar os cientistas a descobrirem se o Phaethon é um asteroide, um cometa, ou outra coisa. Para o pesquisador Kareta, ele provavelmente é algo entre um asteroide e um cometa.

Fonte:

https://www.space.com/42236-weird-blue-asteroid-phaethon.html

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

Veja todos os posts

Arquivo