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Pesquisadores Usam Telescópios Em Terra E Estudam Por 5 Anos Os Vulcões de Io

Não é só usando telescópios espaciais que os astrônomos conseguem fazer grandes descobertas, é possível fazer muita coisa incrível com telescópios em Terra. Um novo estudo explora as lições aprendidas depois de 5 anos monitorando o satélites vulcânico Io de Júpiter, com telescópios em Terra.

Io é o satélite mais próximo de Júpiter, e é um mundo com uma atividade vulcânica insana. O satélite não tem uma órbita circular ao redor de Júpiter, isso quer dizer que ele recebe uma força gravitacional variável durante a sua órbita, o que causa uma fricção aquecendo o seu interior. Esse calor escapa da superfície de Io na forma de aberturas vulcânicas ativas, explosões espetaculares e fluxos escaldantes de lava.

O monitoramento contínuo de todas essas atividades, é essencial para entender como o calor é dissipado nesse satélites violentamente ativo. Os pontos de Io com vulcões são chamados de hotspots pelos pesquisadores, pois são os pontos onde ocorrem emissões térmicas. Através das sondas Voyager, Galileo, Cassini e New Horizons, foi possível registrar de perto a atividade vulcânica de Io, o que revelou mais de 150 vulcões ativos na superfície do satélite. Mas esses breves sobrevoos não forneceram as observações de longo prazo importantes para que se possa rastrear a atividade do satélite.

Para a sorte dos astrônomos, existem telescópios em Terra que são capazes de estudar Io.

E foi isso que os cientistas fizeram nos últimos 5 anos, monitoraram cuidadosamente as emissões térmicas de Io usando os telescópios Keck e Gemini norte, ambos no Havaí.

Você acha que essas observações não poderiam ser úteis como aquelas realizadas pela sonda? Achou errado. O poderoso sistema de óptica adaptativa tanto no Keck como no Gemini Norte permitiu que a equipe de astrônomos pudesse resolver feições na superfície de Io com tamanhos entre 100 e 500 km, no infravermelho, uma resolução não muito diferente daquela obtida, por exemplo, pela sonda Galileo durante seus sobrevoos.

Além disso, o cronograma flexível do Gemini Norte e um programa de observação dedicada do Keck fez com que fosse possível para equipe reunir um total de 271 noites de observações de Io, durante 5 anos. Em um novo estudo publicado por Katherine Kleer, os detalhes do que eles aprenderam nessa campanha são apresentados.

Os 5 anos de observação produziram um total de 980 detecções de mais de 75 hotpspots únicos. Alguns pontos são destacados aqui.

As erupções mais brilhantes normalmente tem uma curta duração, poucos dias, e são muito quentes, acima dos 800 graus Kelvin. Elas estão todas concentradas no hemisfério de Io, voltado para longe da direção de movimento do satélite, algo que continua sem explicação.

Um grande número de hotspots só foi detectado nos últimos 3 anos. Alguns desses novos provavelmente existiam antes mas tinham emissões esporádicas, outros podem mesmo ter surgido recentemente.

113 detecções da região extremamente ativa, conhecida como Loki Patera se ajusta com a periodicidade de 470 dias, comportamento que poderia estar de acordo com as propriedades orbitais de Io.

Os autores disponibilizaram todos os dados de hotspots em Io para o público poder baixar e estão convidando a comunidade científica para estender seu trabalho. Com futuras análises desses dados e novas observações de Io, será possível entender melhor e mais sobre esse mundo quente e dinâmico que é Io.

Fonte:

Five Years Watching Volcanoes on Another World

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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