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Peça Perdida do Quebra-Cabeça Marciano Inspira Novas Interpretações

Experimentos realizados em 2008 surpreenderam os pesquisadores que analisaram dados do módulo de pouso Phoenix Mars da NASA, sugerindo que os módulos de pouso Viking da NASA que chegaram ao planeta vermelho em 1976 podem ter encontrado os blocos fundamentais para o desenvolvimento da vida baseados no carbono.

“Isso não quer dizer nada sobre a questão de se existiu ou não vida em Marte, mas poderia fazer uma imensa diferença em como nós podemos buscar evidências para responder a essa pergunta”, disse Chris McKay do Ames Research Center da NASA. McKay é co-autor de um novo estudo publicado pelo Journal of Geophysical Research – Planets onde são analisados novamente resultados de testes da Viking para a busca de compostos químicos orgânicos no solo de Marte.

O único composto químico orgânico identificado quando a Viking pousou em Marte e aqueceu as amostras do solo foram clorometano e diclorometano – compostos de cloro interpretados na época como provável contaminante proveniente de fluidos de limpeza. Mas esses compostos químicos são exatamente o que os novos estudos encontraram quando uma pequena quantidade de perclorato – encontrados pela Phoenix – foram adicionados ao solo no deserto do Chile contendo compostos orgânicos e analisados utilizando a mesma abordagem utilizada nos testes da Viking.

“Nossos resultados sugerem que não somente compostos orgânicos, mas também perclorato, pode ter estado presente no solo onde ambos os módulos Viking pousaram”, disse o líder do estudo, Rafael Navarro-González da National Autonomous University of Mexico.

Compostos orgânicos podem ser encontrados por fontes biológicas ou não biológicas. Muitos meteoritos que caíram em Marte e na Terra nos últimos 5 bilhões de anos contém compostos orgânicos. Mesmo se Marte nunca tivesse tido vida, os cientistas antes da Viking já haviam antecipados que o solo poderia conter compostos orgânicos provenientes de meteoritos.

“A falta de compostos orgânicos, quando os dados da Viking foram analisados, foi uma grande surpresa negativa”, disse McKay. “Mas por 30 anos nós estávamos procurando montar o quebra-cabeça marciano com uma peça a menos. A Phoenix nos deu essa peça: perclorato. O perclorato descoberto pela Phoenix foi um dos mais importantes resultados da exploração marciana desde as sondas Viking”. Perclorato, um íon de cloro e oxigênio, torna-se um forte oxidante quando aquecido. “Ele poderia existir no solo marciano com compostos orgânicos ao redor por bilhões de anos e não ter os quebrado, mas quando você aquece o solo para buscar pelos compostos orgânicos, o perclorato os destrói rapidamente”, disse McKay.

Essa interpretação proposta por Navarro-Gonzále e seus quatro co-autores desafiam a interpretação dada pelos cientistas da Viking que disseram que compostos orgânicos não estavam presentes nas suas amostras no limite de detecção do experimento realizado pela Viking. Em vez disso, os cientistas da Viking interpretaram os compostos de cloro como contaminantes. Futuras missões a Marte e a análise de meteoritos de Marte podem ajudar a resolver essa questão.

A sonda Curiosity que o Mars Science Laboratory da NASA deve enviar a Marte em 2012 irá carregar consigo o Sample Analysis at Mars (SAM), instrumento desenvolvido pelo Goddard Space Flight Center da NASA. Em contraste com a Viking e com a Phoenix, a Curiosity poderá se movimentar mais pelo planeta analisando uma grande variedade de rochas e amostras. O instrumento SAM pode verificar compostos orgânicos no solo de Marte e pode pulverizar as rochas levando as amostras a temperaturas mais altas do que aquelas atingidas pela Viking, e também pode usar métodos alternativos de análise por extração líquida que utiliza temperaturas muito menores. Combinando esses métodos numa grande variedade de amostras será possível testar a hipótese desse novo estudo de que a oxidação dada pelo aquecimento do perclorato que podia estar presente nas amostras da Viking destruiu os compostos orgânicos.

Uma razão para que os compostos orgânicos clorados encontrados pela Viking fossem interpretados como uma contaminação vinda da Terra foi o fato de que a razão de dois isótopos de cloro nessas amostras se ajustarem a razão de três para um para esses isótopos na Terra. A razão desses isótopos em Marte ainda não foi totalmente esclarecida. Se for encontrado que a razão é muito diferente que a razão encontrada na Terra, isso poderia então suportar a interpretação da década de 1970.

Se compostos orgânicos podem persistir na superfície de Marte, contrariando o pensamento predominante das últimas três décadas, uma maneira de buscar por evidências de vida em Marte poderia ser procurar por tipos de moléculas complexas orgânicas, grandes como o DNA, que aí sim indicariam uma atividade biológica. “Se os compostos orgânicos não pudessem persistir na superfície, essa abordagem não levaria a nada, mas se eles podem, a história é diferente”, concluiu McKay.

Fonte:

http://www.jpl.nasa.gov/news/news.cfm?release=2010-286

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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