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15 de novembro de 2024

Missão Kepler Descobre Dois Planetas Orbitando a Mesma Estrela

A missão Kepler da NASA descobriu o primeiro sistema planetário com mais de um planeta transitando a mesma estrela.

O anúncio de hoje 26 de Agosto de 2010 da descoberta dos dois planetas, Kepler 9b e 9c é baseada nos sete meses de observação de mais de 156000 estrelas que foram monitoradas e onde se buscou por sutis mudanças no brilho delas como parte da atual pesquisa por planetas parecidos com a Terra fora do Sistema Solar. Os cientistas chamaram a estrela parecida com o Sol de Kepler-9.

O planeta mais interno do sistema, Kepler 9b, orbita a estrela a cada 19.2 dias a uma distância de 13 milhões de milhas, enquanto que o planeta mais externo tem uma órbita de 38.9 dias e uma distância de 21 milhões de milhas. Só para comparação, Mercúrio tem uma órbita de 88 dias ao redor do Sol. Eles orbitam a estrela quase que em ressonância, com o planeta interno completando duas órbitas para cada órbita completada pelo planeta mais externo. Ambos os planetas tem o tamanho de Saturno, com o planeta interno pesando cerca de 0.25 vezes a massa de Jupiter, ou 80 vezes a massa da Terra enquanto que o planeta externo pesa 0.17 vezes a massa de Júpiter, ou 54 vezes a massa da Terra.

“Esse é o primeiro sistema confirmado que possui mais de um planeta transitando a mesma estrela”, disse Matthew Holman, cientista da missão Kepler do Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics, de Cambridge. Os cientistas confirmaram os múltiplos trânsitos com as análises de velocidade radial sendo conduzidas no W.N Keck Observatory no Havaí.

Holman disse que sistemas com múltiplos trânsitos de planetas são particularmente ricos em informações que fornecem pistas de acordo com suas características físicas. Especificamente, os astrônomos podem medir como o tempo entre  trânsitos sucessivos mudam de uma órbita para a outra devido interação gravitacional mútua entre os dois planetas. “Nós podemos ver evidências da interação gravitacional desses dois planetas através de seus tempos de trânsito”, disse Holman.

“Essa descoberta é a primeira clara detecção de variações no tempo de trânsito”, adicionou ele.

Em adição aos dois planetas gigantes confirmados, disse Holman, os cientistas da missão Kepler também identificou um planeta muito maior que a Terra transitando só que serão necessárias nesse caso observações adicionais para confirmar se ele é mesmo um planeta ou meramente um falso alarme. As observações atuais sugerem que o candidato a planeta poderia ter um tamanho de 1.5 vezes o tamanho da Terra e orbitar a estrela a cada 1.6 dias a uma distância de somente 2.5 milhões de milhas.

O Kepler é um observatório baseado no espaço que busca pela assinatura de planetas medindo a diminuição em brilho de estrelas quando o planeta cruza a sua frente, ou a transita. O tamanho do planeta pode ser derivado da mudança no brilho da estrela. Em Junho de 2010, os cientistas responsáveis por essa missão tinham identificado mais de 700 candidatos a planetas, incluindo cinco sistemas com mais de um planeta candidato. Esse é o primeiro dos sistemas a ser confirmado.

Os 28 membros da equipe científica do Kepler estão usando telescópios baseados na Terra e os telescópios espaciais Hubble e Spitzer para realizar observações adicionais em 400 dos candidatos a planeta. O campo estelar observado pelo Kepler fica na constelação Cygnus e Lyra e só podem ser vistos por observatórios baseados na Terra na primavera e no início do outono. Os dados dessas observações irão determinar quais candidatos podem ser identificados como planetas.

Sem as informações adicionais, os candidatos que poderiam ser planetas não podem ser distinguidos de alarmes falsos, como por exemplo, estrelas binárias – duas estrelas que se orbitam mutualmente. O tamanho dos candidatos a planetas também só podem ser aproximados até o tamanho das estrelas que eles orbitam seja determinado por meio de observações adicionais espectroscópicas feitas por telescópios na Terra. No caso da Kepler-9 a natureza planetária foi primeiro confirmada pela escala das variações no tempo de trânsito e foi posteriormente verificado por meio de medidas de velocidade radial.

A Missão Kepler continuará conduzindo operações científicas até no mínimo Novembro de 2012, buscando por planetas do tamanho da Terra, incluindo aqueles que orbitam estrelas numa zona quente provavelmente habitável onde possa existir água em estado líquido na superfície do planeta. A partir do momento que o trânsito dos planetas seja identificado em uma zona habitável são necessários três trânsitos completos para se fazer a verificação, por isso espera-se aproximadamente três anos no mínimo para se localizar e verificar planetas do tamanho da Terra.

Abaixo uma série de slides utilizados hoje (26 de Agosto de 2010) na conferência da Missão Kepler na NASA, que facilita o entendimento de como funciona essa missão e seus resultados.


Fonte:

http://www.cfa.harvard.edu/news/2010/pr201013.html

http://www.nasa.gov/mission_pages/kepler/news/two_planet_orbit.html

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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