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A Descoberta dos Satélites de Júpiter por Galileu

Provavelmente a contribuição mais significante que Galileu Galilei fez para a ciência foi a descoberta dos quatro satélites orbitando ao redor de Júpiter que foram então nomeados em sua honra. Galileu descobriu as luas de Júpiter no dia 7 de Janeiro de 1610, por meio de um telescópio caseiro. Ele originalmente pensou que estava observando três estrelas próximas a Júpiter, localizadas em uma linha reta com relação ao planeta. Na noite seguinte, essas estrelas aparentemente tinham se movido na direção errada, o que chamou sua atenção. Galileu continuou observando as estrelas e Júpiter por uma semana. Em 13 de Janeiro, uma quarta estrela apareceu. Após algumas semanas, Galileu tinha notado que as quatro estrelas nunca deixavam a vizinhança de Júpiter e pareciam ser levadas com o planeta, além disso elas mudavam de posição uma em relação a outra e em relação ao planeta Júpiter também. Finalmente, Galileu determinou que o que ele tinha observado não eram estrelas, mas sim corpos planetários que estavam em órbita de Júpiter. Essa descoberta forneceu evidências para comprovar o sistema proposto por Copérnico e assim mostrar que nem tudo orbita o planeta Terra.

Além de descobrir as luas de Júpiter, Galileu também notou que o telescópio possuía aplicações que iam além da astronomia:
“Maioral Príncipe Sereno. Galileu Galileu se posta humildemente ante Sua Alteza, cuidadosamente, e com todo o espírito de vontade, não só para satisfazer o interesse de leituras em matemática no estudo de Padova, mas para escrever que decide apresentar a Sua Alteza um telescópio (“Ochiale”) que será de grande valia tanto em empreendimentos marítimos como terrestres. Eu garanto que irei manter em segredo essa nova invenção e só mostrar para Sua Alteza. Esse telescópio foi construído para estudos mais precisos de distâncias. Esse telescópio tem a vantagem de identificar navios do inimigo duas horas antes que eles sejam visíveis a olho nu, e é possível também distinguir a quantidade e a qualidade das embarcações, julgar seu poderio e estar pronto para perseguí-los, combatê-los ou escapar deles ou em um país aberto ver os detalhes e distinguir cada movimento e preparação”.

Galileu publicou suas observações no Sidereus Nuncius em Março de 1610, como se segue:

“Eu devo descobrir e publicar para o mundo a ocasião da descoberta e observação de quatro Planetas, nunca antes vistos desde o início dos tempos até os nossos dias, suas posições, e as observações feitas durante os últimos dois meses sobre sues movimentos e suas mudanças de magnitude, e eu chamo todos os astrônomos para aplicar seus esforços e examinar e determinar seus tempos periódicos, que não foram possíveis de serem determinados até o momento…No sétimo dia de Janeiro deste ano presente, 1610, na primeira hora da noite, quando eu estava observando as constelações através do telescópio, o planeta Júpiter se apresentou na meu campo de visão e como eu estava preparado com um excelente instrumento, eu notei uma situação que nunca tinha notado anteriormente, de que três pequenas estrelas  mas muito brilhante, estavam próximas do planeta, e embora eu acreditasse que elas pertencessem ao conjunto das estrelas fixas, elas me surpreenderam, pois pareciam se posicionar em uma linha reta paralela a eclíptica e mais brilhante que as outras estrelas. Quando em 8 de janeiro eu novamente observei a mesma parte do céu, encontrei as coisas em um diferente estado, nesta ocasião as três pequenas estrelas estavam a oeste de Júpiter, e mais próxima uma das outras que na noite anterior. Eu então conclui que existiam três estrelas no céu se movimentando ao redor de Júpiter assim como Vênus e Mercúrio giram ao redor do Sol, que podem ser claramente comprovadas com observações subsequentes. Essas observações também estabeleceram que não existem três, mas sim quatro, corpos siderais erráticos realizando suas revoluções ao redor de Júpiter”.

Simon Marius clamou ter observado as luas de Júpiter no início de Novembro de 1609 (aproximadamente 5 semanas antes de Galileu) e tinha começado a registrar suas observações em Janeiro de 1610, na mesma época que Galileu fez sua primeira observação do sistema. Contudo, como Marius não publicou suas observações como fez Galileu, ficou impossível de verificar sua descoberta. A partir do momento que o trabalho de Galileu foi mais confiável e extenso, geralmente se dá a ele o crédito da descoberta das luas de Júpiter. Em 1614, Marius, deu o nome as luas de Júpiter como são conhecidos hoje em dia, com base numa sugestão de Johannes Kepler:

“Júpiter é muito culpado pelos poetas devido aos seus amores irregulares. Especialmente três moças são mencionadas como terem sido cortejadas clandestinamente por Júpiter com sucesso. Io, filha do Rio, Inachus, Calisto de Lycaon, Europa de Agenor. Então existia Ganimedes, o bonito filho do rei Tros, o qual Júpiter, tendo a forma de uma águia, transportou aos céus em suas costas, como contam os poetas na forma de fábulas…Eu penso então, que não estarei cometendo loucura se chamar a primeira lua de Io, a segunda de Europa, a terceira e mais luminosa de Ganimedes e a quarta de Calisto…Esses nomes pomposos foram sugeridos a mim por Kepler, Astrônomo Imperial, quando nos encontramos em Ratsibon em outubro de 1613. Assim sendo, como um gracejo e em memória da nossa amizade então começada, eu o saudo como o pai em comum  dessas quatro estrelas, novamente não devo estar fazendo a coisa errada”.

Galileu chamou as luas originalmente de “Planetas Mediceanos”, após a família de Medici e se referia as luas individualmente como números I, II, III e IV. O nome do sistema dado por Galileu foi usado por alguns séculos, até metade de 1800 quando o nome para as luas Galileanas Io, Europa, Ganimedes e Calisto foram oficialmente adotados e somente depois disso ficou aparente que nomear as luas com números poderia causar grande confusão a medida que novas luas fossem descobertas.

Carta de Galileu ao príncipe de Veneza.
Observações de Galileu das luas de Júpiter.
As Luas Galileleanas, Io, Europa, Ganimedes e Calisto, imagem da sonda Voyager.
As luas de Júpiter, Ganimedes, Calisto, Io e Europa, imagem da sonda Galileo.

Fonte:

http://www2.jpl.nasa.gov/galileo/ganymede/discovery.html

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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