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Flagrante Planetário: Amadores e Profissionais Juntos no Estudo dos Impactos em Júpiter

Astrônomos amadores trabalhando com profissionais têm identificado duas bolas de fogo que atingiram e iluminaram a atmosfera de Júpiter neste verão/inverno, marcando a primeira vez que telescópios baseados na Terra registraram objetos relativamente pequenos queimando na atmosfera de um planeta gigante. As duas bolas de fogo que produziram marcas brilhantes em Júpiter foram visíveis através de pequenos telescópios amadores e ocorreram nos dias 3 de Junho e 20 de Agosto de 2010.

Um novo artigo incluindo tanto astrônomos profissionais como amadores liderado por Ricardo Hueso da Universidad del País Vasco em Bilbao na Espanha aparece na revista especializada Astrophysical Journal Letters. Nesse artigo, os astrônomos estimam que o objeto que atingiu Júpiter no dia 3 de Junho tinha entre 8 e 13 metros de diâmetro. Esse objeto é compatível  em tamanho com o asteróide 2010 RF12 que passou próximo da Terra no dia 8 de Setembro de 2010 e um pouco maior do que o o asteróide 2008 TC3 que queimou na atmosfera terrestre sobre o Sudão há dois anos atrás.

Um impacto desse tipo na Terra não causaria muitos problemas na superfície. A energia gerada pelo impacto de 3 de Junho em Júpiter foi entre 5 e 10 vezes menor que o evento ocorrido em Tugunska em 1908 e que derrubou dezenas de milhões de árvores numa parte remota da Rússia. Algumas análises ainda estão sendo feitas sobre o evento mas os cientistas dizem que são comparáveis ao asteróide de 20 de Agosto.

“Júpiter é um gigantesco aspirador gravitacional”, disse Glenn Orton, um dos co-autores do artigo e astrônomo do Jet Propulsion Laboratory da NASA em Pasadena, Califórnia. É claro agora que objetos relativamente pequenos, remanescentes da formação do Sistema Solar há 4.5 bilhões de anos atrás, ainda atingem Júpiter com freqüência. Os cientistas estão tentando entender qual é essa freqüência.

Orton e seus colegas disseram que esse tipo de descoberta não seria possível de ser feita sem a ajuda dos amadores ao redor do mundo, os quais com as observações de Júpiter forneceram uma sobrevivência ao estudo que seria impossível de ser feito com as grandes filas de cientistas que precisam esperar a vez para usar os grandes telescópios. Os astrônomos amadores, por exemplo, foram os primeiros a identificar a mancha negra que apareceu em Júpiter em 2009 como resultado de um impacto. Os astrônomos profissionais ainda analisam os dados desse impacto .

Anthony Wesley um astrônomo amador da Austrália, foi o primeiro a fazer uma imagem da mancha negra em Júpiter em Julho de 2009 e foi o primeiro também a observar o impacto de 3 de Junho de 2010. Os astrônomos amadores têm seus telescópios treinados em Júpiter nesses dias pois estamos no meio da temporada de Júpiter, quando o planeta se apresenta alto no céu e com o tamanho melhor para ser capturado pelos pequenos telescópios.

Wesley visitou um amigo, também astrônomo amador que mora a 1000 km de distância da sua casa e acoplou uma câmera de vídeo digital para registrar as imagens a uma taxa de 60 frames por segundo. Ele estava observando a câmera ao vivo quando viu um brilho que durou cerca de dois segundos e meio e aconteceu próximo ao limbo do planeta.

“Estava claro para mim que algum evento havia acontecido em Júpiter”, disse ele. “Eu normalmente observo brilhos na câmera, mas que são causados por raios cósmicos, mas esse era diferente. Quando raios cósmicos atingem o equipamento fica registrado um frame , já neste caso o brilho foi se apagando de forma gradativa e ocupou 133 frames”.

Wesley então mandou uma mensagem para a sua lista de astrônomos amadores e profissionais, essa lista incluía o nome de Orton. Após receber a mensagem de Wesley, Christopher Go foi checar seus registros e confirmou que ele também havia detectado.

Antes do trabalho de Wesley, os cientistas não sabiam que pequenos impactos pudesse ser registrados. Hueso explica: “A descoberta de brilhos ópticos produzidos por objetos deste tamanho ajudam os cientistas a entenderem quantos desses objetos ainda existem e qual o papel deles na formação do Sistema Solar”.

Pelos três dias seguintes, Hueso e seus colegas observaram Júpiter buscando sinais do impacto utilizando para isso imagens de alta resolução obtidas pelos maiores telescópios: Telescópio Espacial Hubble da NASA, os telescópios do Observatório Gemini no Chile e no Havaí, o Telescópio Keck no Havaí, o Infrared Telescope Facility no Havaí e o Very Large Telescope do ESO no Chile. Os cientistas analisaram as imagens em busca de perturbações térmicas e assinaturas químicas observadas anteriormente em imagens de impacto de Júpiter. Neste caso eles não viram sinais de detritos, o que permitiu que eles limitassem a estimativa sobre o tamanho do objeto que se chocou com o planeta.

Com base em todas as imagens e particularmente naquelas obtidas por Wesley e Go, os astrônomos confirmaram que o brilho veio de um tipo de objeto provavelmente um pequeno cometa ou asteróide – que queimou na atmosfera de Júpiter. O objeto provavelmente tinha uma massa de aproximadamente entre 500 e 2000 toneladas cúbicas, provavelmente 10000 vezes mais massivo que o objeto que atingiu o planeta em Julho de 2009.

Cálculos também estimaram que esse impacto de 3 de Junho liberou uma energia entre 1 e 4 quatriliões de Joule (algo entre 300 milhões a 1 bilhão de watt). O segundo impacto de 20 de Agosto foi detectado pelo astrônomo amador japonês Masayuki Tachikawa e posteriormente confirmado por Aoki Kazuo e Masayuki Ishimaru. Esse segundo brilho durou 1.5 segundos. O telescópio Keck, observando o planeta menos de um dia depois, também encontrou detritos remanescentes subseqüentes. Os cientistas ainda estão analisando os dados do segundo impacto.

Embora colisões desse tamanho nunca tivessem sido detectadas em Júpiter anteriormente, alguns modelos previram uma colisão desse tipo nesse ano. Outra previsão é que ocorram 100 colisões desse tipo. Os cientistas agora acreditam que essa freqüência deve estar no final da escala.

“É interessante notar que enquanto a Terra é atingida por um objeto de 10 metros a cada 10 anos em média, parece que Júpiter é atingido por objetos deste tamanho algumas vezes por mês”, disse Do Yeomans. “A taxa de impacto de Júpiter ainda está sendo aprimorada e estudos como esse ajudarão e muito os pesquisadores”.

O artigo original onde é apresentado o estudo pode ser lido aqui:

http://tecnoscience.squarespace.com/arquivo/astronomos-amadores-e-profissionais-estudam-os-impactos-em-j/

Fonte:

http://www.jpl.nasa.gov/news/news.cfm?release=2010-293

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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