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Estrelas Jovens nas Luzes da Ribalta


O New Technology Telescope do ESO (NTT) captou esta imagem extraordinária do aglomerado aberto NGC 2100. Este aglomerado estelar brilhante tem cerca de 15 milhões de anos de idade e situa-se na Grande Nuvem de Magalhães, uma galáxia satélite da Via Láctea. O aglomerado encontra-se rodeado por gás brilhante pertencente à nebulosa da Tarântula.

Os observadores do céu ignoram muitas vezes o NGC 2100 devido à sua proximidade  com a impressionante nebulosa da Tarântula (eso0650) e o superaglomerado estelar RMC 136 (eso1030). Nesta imagem o gás brilhante da nebulosa da Tarântula tenta ainda roubar o protagonismo a este aglomerado estelar – as cores brilhantes que aqui aparecem pertencem às regiões mais exteriores da nebulosa. Esta imagem foi criada a partir de exposições obtidas através de diferentes filtros de cor utilizando o instrumento EMMI [1], montado no New Technology Telescope, instalado no Observatório de La Silla do ESO, no Chile.  As estrelas aparecem com as suas cores naturais, enquanto que a radiação emitida pelo hidrogênio ionizado (a vermelho) e pelo oxigênio (a azul) se encontra sobreposta.

As cores que aparecem nas nebulosas dependem das temperaturas das estrelas que as iluminam. As estrelas quentes jovens da nebulosa da Tarântula, que se situam no superaglomerado estelar RMC 136, encontram-se em cima e à direita desta imagem e são suficientemente poderosas para fazerem brilhar o oxigênio [2], aparecendo na imagem como uma nebulosidade azul. Por baixo do NGC 2100 o brilho vermelho indica que ou se atingiu as regiões mais afastadas de influência das estrelas quentes da RMC 136 ou estrelas mais velhas e frias, que são apenas capazes de excitar o hidrogênio, são a influência dominante nesta região. As estrelas que compõem o NGC 2100 são mais velhas e menos energéticas e por isso têm pouca ou nenhuma nebulosidade associada a elas.

Os aglomerados de estrelas são grupos de estrelas que se formaram mais ou menos ao mesmo tempo a partir de uma única nuvem de gás e poeira. As estrelas de maior massa  tendem a formar-se no centro do aglomerado, enquanto que as de menor massa dominam as regiões mais exteriores. Este fato, juntamente com o maior número de estrelas concentradas no centro, torna o centro do aglomerado mais brilhante que as suas regiões exteriores.

O NGC 2100 é um aglomerado aberto, o que significa que as estrelas estão ligadas gravitacionalmente de modo relativamente solto. Estes aglomerados têm um tempo de vida que se mede em dezenas ou centenas de milhões de anos, já que eventualmente se dispersam devido a interações gravitacionais com outros corpos. Os aglomerados globulares que, à primeira vista, parecem similares, contêm muito mais estrelas velhas e estão ligados gravitacionalmente de maneira muito mais forte, tendo por isso tempos de vida muito maiores: mediram-se em muitos aglomerados globulares idades tão antigas como a do próprio Universo. Assim, embora o NGC 2100 possa ser mais velho que os seus vizinhos da Grande Nuvem de Magalhães, é ainda considerado um jovem pelos padrões dos aglomerados estelares.

Os dados utilizados para criar esta imagem foram selecionados a partir do seio dos arquivos de dados do ESO pelo concorrente David Roma, que participou em 2010 no concurso de astrofotografia Tesouros Escondidos do ESO [3].

Notas

[1] EMMI é a sigla do inglês para ESO Multi Mode Instrument, instrumento que é ao mesmo tempo uma câmara e um espectrógrafo.

[2] A maior parte do brilho do oxigênio vem dos átomos de oxigênio que perderam dois elétrons. Esta emissão forte é muito comum em nebulosas mas era bastante misteriosa para os primeiros astrônomos que trabalhavam com espectros, pensando-se inicialmente que vinha de um novo elemento ao qual se deu o nome de nebulium.

[3] O concurso Tesouros Escondidos do ESO 2010 deu a oportunidade a astrônomos amadores de procurarem no seio dos vastos arquivos de dados astronômicos do ESO, tentando encontrar uma jóia escondida a precisar de ser polida pelos participantes. Para saber mais sobre os Tesouros Escondidos, visite http://www.eso.org/public/outreach/hiddentreasures/.

Fonte:

http://www.eso.org/public/news/eso1133/


Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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