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24 de novembro de 2024

Descoberta da Missão Kepler da NASA Confirma O Primeiro Planeta Orbitando Um Sistema Binário de Estrelas


A existência de um mundo com um duplo pôr-do-Sol, como mostrado no filme de Guerra nas Estrelas a mais de 30 anos atrás, é agora um fato científico. A missão Kepler da NASA fez a primeira detecção sem ambigüidade de um planeta chamado de circumbinário – ou seja, um planeta que orbita duas estrelas – localizado a 200 anos-luz de distância da Terra.

Diferente do planeta Tatooine do filme Guerra nas Estrelas, o planeta é frio, gasoso e não deve suportar vida, mas a descoberta demonstra que a nossa galáxia é povoada com uma grande variedade de planetas. Pesquisas anteriores já tinham identificado pistas sobre a existência de planetas circumbinários, mas a confirmação clara era elucida. O Kepler detectou esse planeta, conhecido como Kepler-16b, observando os trânsitos, onde o brilho da estrela aparente era reduzido devido à passagem do planeta em frente de seu disco.


“Essa descoberta confirma uma nova classe de sistemas planetários que poderiam abrigar vida”, disse o pesquisador principal do Kepler William Borucki do Ames Research Center da NASA em Moffett Field na Califórnia. “Dado que a maior parte das estrelas na nossa galáxia fazem parte de sistemas binários, isso significa que a oportunidade da vida existir nesse tipo de ambiente é muito maior do que se os planetas orbitassem uma única estrela. Essa descoberta é um marco e confirma a teoria que os cientistas tinham por décadas mas que não podiam provar até o momento”.

Uma equipe de pesquisa liderada por Laurence Doyle do SET Institute em Mountain View, Califórnia, usou dados do Kepler, que mede as variações de brilho de mais de 150000 estrelas, para buscar por planetas que executassem um trânsito em frente a elas. O Kepler é a primeira missão da NASA capaz de encontrar planetas do tamanho da Terra na ou próximo da chamada zona habitável, a região do sistema planetário onde a água líquida poderia existir na superfície do planeta.


Os cientistas detectaram o novo planeta no sistema Kepler-16, um par de estrelas que se eclipsam, ou seja, uma passa em frente da outra, e a Terra nesse caso encontra-se num ponto de vista privilegiado. Quando a estrela menor bloqueia parcialmente a estrela maior, um eclipse primário ocorre, e um eclipse secundário ocorre quando a estrela menor é ocultada ou completamente bloqueada pela estrela maior.

Os astrônomos observaram que o brilho do sistema variava mesmo quando as estrelas não estavam se eclipsando, dando a pista então de que deveria existir ali um terceiro corpo. A diminuição adicional nos eventos de brilho, chamados de eclipses terciários e quaternários, reaparecendo em intervalos irregulares de tempo, indicando que as estrelas estavam em diferentes posições em suas órbitas cada vez que o terceiro corpo passava. Isso mostrou que esse terceiro corpo estava circulando não só uma, mas ambas as estrelas, numa grande ‘orbita circumbinária.


A força gravitacional nas estrelas, medida pelas mudanças nos tempos dos eclipses, foi um bom indicador da massa do terceiro corpo. Somente uma força gravitacional bem pequena foi detectada, o que só poderia ser causado por um corpo de pequena massa. A descoberta está descrita em um artigo do periódico Science e que é apresentado ao final desse post.

“A maior quantidade de informações que temos sobre o tamanho das estrelas vêem de sistemas binários eclipsantes, e as maiores informações que temos sobre o tamanho dos planetas vêem do trânsito”, disse Doyle que é o principal autor do artigo. “O sistema Kepler-16 combina o melhor dos dois mundos, com eclipses estelares e trânsitos planetários, tudo num só sistema”.


Essa descoberta confirma que o Kepler-16b é um mundo inóspito, frio, do tamanho aproximado de Saturno e acredita-se que seja constituído metade de rocha e metade de gás. As estrelas do sistema são menores que o Sol. Uma delas tem 69% da massa do Sol e a outra apenas 20%. O Kepler-16b orbita as estrelas com um período de 229 dias, período semelhante ao de Vênus, que gasta 225 dias para completar uma volta ao redor do Sol, mas localiza-se fora da zona habitável do sistema, onde a água líquida poderia existir na superfície, pois as estrelas são mais frias que o Sol.

“Trabalhando em um filme, nós muitas vezes somos pressionados a criar algo que nunca havia sido visto antes”, disse o supervisor de efeitos visuais John Knoll da Industrial Light & Magic, uma divisão da Lucasfilm Ltd., em San Francisco. “Contudo, quase sempre, as descobertas científicas provam ser mais espetaculares do que qualquer coisa que possamos imaginar. Não há dúvida de que essas descobertas influenciam e inspiram os diretores, produtores, escritores, etc… A nossa própria existência e a nossa vivência servem como causa para se sonhar alto e abrir as nossas mentes para as novas possibilidades além daquilo que pensamos que conhecemos”.

Fonte:

http://www.jpl.nasa.gov/news/news.cfm?release=2011-292&cid=release_2010-292&msource=11292&tr=y&auid=9506424#4



Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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