Após ter ficado parada durante os festejos de fim de ano, o jipe robô Curiosity da NASA voltou a se movimentar no dia 3 de Janeiro de 2013 e registrou com suas câmeras uma interessante feição rochosa já chamada pelos cientistas de Snake River. Na verdade a feição nada mais é do que uma fina linha curva de rochas mais escuras cortando as rochas mais planas e se projetando sobre a areia. A equipe científica do Curiosity ordenou o jipe robô a fazer várias imagens dessa feição, que podem ser vistas nesse post, e já planeja uma aproximação ainda maior dessa feição antes de enviar o Curiosity para outros alvos.
“Esse é um pedaço do quebra-cabeça”, disse o cientista de projeto da missão, John Grotzinger do Instituto de Tecnologia da Califórnia em Pasadena. “Existe uma relação entre as rochas do Snake River e as rochas ao redor e parece que essa feição se formou depois da deposição da camada que ela cruza”.
Durante o centésimo quadragésimo sétimo dia da missão do Curiosity em Marte, ou o Sol 147, o Curiosity caminhou por cerca de 3 metros na direção noroeste e completou 702 metros percorridos desde o início da missão. O jipe robô atualmente se encontra dentro de uma pequena depressão chamada de Baía Yellowknife, que é um tipo de terreno mais plano e mais claro do que o terreno percorrido pela missão nos seus primeiros quatro meses de trabalho, dentro da Cratera Gale.
Durante as festas de fim de ano, o Curiosity se manteve num local dentro da Baía Yellowknife de onde ele pôde fazer imagens do seu arredor. Essas imagens foram então usadas pela equipe do jipe para começar a estudar e avaliar os possíveis primeiros alovs para a perfuração do solo marciano que começará dentro de poucas semanas Essa perfuração percussiva irá coletar amostras pulverizadas do interior da rocha para serem analisadas pelos instrumentos existentes dentro do jipe robô.
“Nós não tivemos surpresas durante a parada de fim de ano”, disse o gerente de projeto da missão Richard Cook, do Laboratório de Propulsão da NASA em Pasadena, na Califórnia. “Agora, o Curiosity está de volta ao movimento. E a área que o jipe está observando parece excelente para o nosso primeiro alvo de perfuração”.
O Projeto Mars Science Laboratory da NASA está usando o jipe robô Curiosity para acessas se áreas dentro da Cratera Gale ofereceram em algum momento da história marciana um ambiente habitável para o desenvolvimento da vida microbiana.
Perto do centro da cratera Gale, centenas de camadas de rochas expostas formam uma montanha que revelam um registro sobre as maiores mudanças ambientais ocorridas no Planeta Vermelho a bilhões de anos atrás.
A Cratera Gale, assim como a Cratera Gusev, localiza-se perto da fronteira entre as terras altas no sul do planeta Marte e as terras baixas na porção norte do planeta. Seu interior é preenchido com camadas de rocha que atingem até os 5.5 km de altura com relação ao assoalho da cratera. Porém, não se sabe ainda ao certo se esses sedimentos se depositaram ali por meio de antigas inundações, ou por fluxos de lava, ou são depósitos de cinzas vulcânicas sopradas até ali pelo intenso vento de Marte.
A história geológica contada pelas camadas de rocha se ajustam com o que tem sido proposto nos anos recentes como sendo o padrão dominante do início da história de Marte de acordo com artigos publicados pelos cientistas que trabalham com a sonda Mars Reconnaissance Orbiter, também da NASA.
“Olhando as camadas de rocha, da base para o topo, ou seja, das mais velhas para as mais novas, você pode ver uma sequência de mudanças de rochas que resultaram das mudanças nas condições ambientais através do tempo”, disse Ralph Miliken do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, em Pasadena, na Califórnia. “Essa espessa sequência de rochas parece estar mostrando etapas distintas no que se refere ao processo de secamento do planeta Marte”.
Usar as camadas geológicas para entender os estágios na evolução do clima de um planeta, tem precedente na Terra. Uma mudança ocorrida a aproximadamente 1.8 bilhões de anos atrás nos tipos de camadas de rochas formadas na Terra tornou-se peça fundamental para se entender uma dramática mudança ocorrida na antiga atmosfera do nosso planeta.
Milliken e seus colegas encontraram que os minerais de argila, que se formam sob condições bem úmidas, estão concentrados nas camadas próximas à base do chamado Monte Sharp na Cratera Gale. Acima dessa camada, minerais de sulfato estão misturados com os minerais argilosos. Sulfatos também se formam em condições úmidas e podem ser depositados quando a água onde eles se dissolveram evapora. Num nível ainda mais alto, no mesmo Monte Sharp, estão camadas contendo sulfatos sem ter argila detectável. E no topo existe uma espessa formação de camadas geológicas regularmente espaçadas onde não se detectou nenhum mineral formado por água.
Exposições de rochas com composições como as várias camadas encontradas no Monte Sharp da Cratera Gale têm sido encontradas em vários locais de Marte, e os pesquisadores incluindo Jean-Pierre Bibring da Universidade de Paris têm proposto uma cronologia planetária marciana que passa por condições de produção de argila, seguida de condições para a produção de sulfatos seguida de condições seca. Contudo, a Cratera Gale é o primeiro local onde uma única série de camadas pôde ser encontrada contendo essas pistas em uma sequência claramente definida de rochas mais velhas para rochas mais novas.
“Se você pudesse estar ali parado, poderia ver essa bela formação de sedimentos marcianos se depositando no passado, uma seção estratigráfica incrível que tem mais que o dobro da altura do Grand Canyon, apesar de não ser tão íngreme”, disse Bradley Thomson do Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins.
A Cratera Gale foi selecionada como sendo o local de pouso do Curiosity em 2008, depois de uma árdua disputa com outros locais bem interessantes. Todos os locais selecionados como finalistas tinham exposições de minerais relacionados com água, e cada um tinha atributos que o distinguiam dos outros.
A escolha da cratera Gale parece ter sido acertada, e antes de explorar o Monte Sharp, propriamente dito, onde o Curiosity irá investigar todas essas camadas de sedimentos, no seu caminho até lá ele já está fazendo inúmeras revelações como o Snake River mostrado aqui nesse post.
Para mais imagens obtidas pelo jipe robô Curiosity visitem o site oficial da missão: http://mars.jpl.nasa.gov/msl/multimedia/raw/
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