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Cassini Registra Estações em Saturno

A atmosfera de Saturno é afetada por mudanças sazonais como na Terra, mas talvez, seja mais afetado pelo fato dos pólos de Saturno passarem 15 anos terrestres na escuridão do inverno e os próximo 15 anos na luz do Sol. No topo de tudo isso, ainda temos a sombra dos anéis causando diferenças entre as regiões diretamente voltadas para o Sol e as regiões sombreadas pelos anéis, diferenças essas principalmente identificadas na química dos elementos.

Os anos que a Cassini passou em órbita de Saturno foram importantes e deram a capacidade de produzir as primeiras medidas baseadas no espaço das mudanças sazonais que acontecem nesse gigante gasoso. Em particular, o espectrômetro infravermelho composto da Cassini registrou mudanças sazonais na atmosfera de Saturno, sendo capaz de testemunhar  as respostas rápidas na temperatura atmosférica e na nebulosidade à medida que o equinócio se aproximava em Agosto de 2009. Neste período a luz solar que chega ao planeta atinge os anéis de forma perpendicular reduzindo a sombra do anel para uma simples linha através da parte central do planeta. Os cientistas da missão ficaram impressionados com a rapidez com a qual a atmosfera se altera em resposta à sombra gerada pelo anel do planeta.

Mesmo pensando-se que a porção sombreada da atmosfera seja mais fria que o resto, o planeta parece rapidamente se ajustar a esse desequilíbrio, preenchendo as partes com ar quente. “Devido ao fato da região da atmosfera se mover com o tempo ela gera uma situação atmosférica dinâmica interessante nas regiões novas que emergem da sombra do anel na primavera”, disse o pesquisador Leigh Fletcher do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA e da Universidade de Oxford. “A Cassini descobriu que a atmosfera de Saturno muda drasticamente dependendo da estação em que o planeta se encontra. Quando a sombra se vai, a atmosfera responde rapidamente através de seu aquecimento”.

À medida que o equinócio se aproximava em Agosto de 2009, o hemisfério norte de Saturno começava a mudar rapidamente, disse Fletcher. A estratosfera nas latitudes norte intermediárias esquentaram mais rapidamente do que qualquer lugar do planeta à medida que emergiam da sombra dos anéis. Entre a chegada da Cassini em 2004 e o equinócio de primavera em 2009, essa área aqueceu de 6 a 8 Kelvin. Na mesma época, as sombras azuis observadas no hemisfério norte de Saturno no início da missão foram rapidamente substituídas por linhas amarelas, demonstrando uma forte relação entre as estações, as temperaturas e a cor das nuvens. A estratosfera do pólo sul de Saturno também foi vista esfriando no decorrer da missão e os cientistas da Cassini esperam desenvolver uma analogia do que acontece com a estratosfera do pólo norte à medida que a primavera caminha.

Observando como os gases na atmosfera de Saturno circulam, esquentam e esfriam, contribui para o nosso entendimento básico das atmosferas planetárias incluindo a Terra. Fletcher disse: “Esse estudo coloca as mudanças sazonais da Terra em um contexto de mudanças sazonais que acontecem em todo o Sistema Solar”.

“De alguma maneira, Saturno é mais simples que a Terra – não existe influência biogênica no clima, não existem continentes para interromper o fluxo da atmosfera de um lugar para outro, mas por outro lado a atmosfera de Saturno é complicada, com uma dinâmica atividade de ondas e química que os cientistas ainda estão estudando e tentando entender”. Fletcher aponta como exemplo a recente descoberta de um padrão de onda equatorial de vida longa que aparece e desaparece na atmosfera externa de Saturno. Nesta região, as temperaturas mudam de uma altitude para outra em um padrão diferenciado. Essas variações de temperatura  forçam o vento nesta região se manter alterando de direção do leste para o oeste pulando e mergulhando. Como resultado desse processo toda a região oscila como uma onda.

A missão da sonda Cassini foi recentemente prorrogada até 2017. Isso será muito interessante principalmente se o hemisfério norte continuar a responder rapidamente às mudanças de estação. De acordo com os pesquisadores poderá der possível iniciar a observar o desenvolvimento de uma estratosfera polar norte mais quente, como o que foi observado no sul. Eles têm quase que certeza total de que poderão ver essa mudança no campo de temperatura de Saturno, e no final da missão da Cassini, o hemisfério norte estará mais quente que o sul, quase que completando uma reversão completa das condições no decorrer da missão.

No final da missão a Cassini irá ter um registro das estações de Saturno no mínimo para algumas partes das estações. “A Cassini é a primeira sonda na história a fornecer essa oportunidade. Para realmente entender o clima de um planeta é necessário observar como as coisas mudam com o decorrer do tempo”, concluiu Fletcher.

Fonte:

http://saturn.jpl.nasa.gov/news/cassiniscienceleague/science20100420/

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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