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APEX Participa da Observação Astronômica Mais Precisa Já Feita

Esta é uma impressão artística do quasar 3C 279. Astrônomos ligaram pela primeira vez o Atacama Pathfinder Experiment (APEX), no Chile, com o Submillimeter Array (SMA, no Hawaii, EUA, e o Submillimeter Telescope (SMT), no Arizona, EUA, de modo a obterem as observações mais precisas até hoje do centro de uma galáxia distante, o quasar brilhante 3C 279. Os quasares são centros muito brilhantes de galáxias longínquas alimentados por buracos negros de elevada massa. Este quasar contém um buraco negro com uma massa de cerca de um bilhão de vezes a do Sol e encontra-se tão distante da Terra que a sua luz demorou mais de 5 bilhões de anos para chegar até nós. A equipe conseguiu observar escalas menores que um ano-luz ao longo do quasar – um feito extraordinário para um objeto que se encontra a bilhões de anos-luz de distância.
Crédito:
ESO/M. Kornmesser

Uma equipe internacional de astrônomos observou o coração de um quasar distante com uma precisão sem precedentes, dois milhões de vezes melhor que a da visão humana. As observações, obtidas ao ligar pela primeira vez o telescópio Atacama Pathfinder Experiment (APEX) [1] com dois outros telescópios situados em continentes diferentes, são um passo crucial em direção ao objetivo científico do projeto “Telescópio de Horizonte de Eventos” [2]: obter imagens de buracos negros de grande massa situados no centro da nossa própria Galáxia e de outras galáxias.

Os astrônomos ligaram o APEX, no Chile, com o Submillimeter Array (SMA) [3], no Hawaii, EUA e o Submillimeter Telescope (SMT), no Arizona, EUA. Deste modo, conseguiram fazer a observação direta mais precisa até hoje [5] do centro de uma galáxia distante, o quasar brilhante 3C 279, que contém um buraco negro de elevada massa – cerca de um bilhão de vezes a do Sol – e encontra-se tão distante da Terra que a sua radiação demorou mais de 5 bilhões de anos para chegar até nós. O APEX é uma colaboração entre o Instituto Max Planck para a Rádio Astronomia (MPIfR), o Observatório Espacial Onsala (OSO) e o ESO. A operação do APEX está a cargo do ESO.

Os telescópios foram ligados usando a técnica conhecida como Interferometria de Linha de Base Muito Longa (VLBI, sigla do inglês Very Long Baseline Interferometry). Telescópios maiores obtêm observações mais precisas e a interferometria permite que vários telescópios trabalhem como um só, tão grande como a separação – ou distância – entre eles. Utilizando a técnica VLBI, conseguimos obter as observações mais precisas ao tornar a separação entre telescópios tão grande quanto possível. Para as observações do quasar, a equipe usou três telescópios para criar o interferômetro com distâncias intercontinentais de 9447 km do Chile ao Hawaii, 7174 km do Chile ao Arizona e 4627 km do Arizona ao Hawaii. Ligar o APEX no Chile à rede foi crucial, já que este telescópio contribuiu com as maiores distâncias.

Astrônomos ligaram pela primeira vez o Atacama Pathfinder Experiment (APEX), no Chile, com o Submillimeter Array (SMA, no Hawaii, EUA, e o Submillimeter Telescope (SMT), no Arizona, EUA, de modo a obterem as observações mais precisas até hoje do centro de uma galáxia distante, o quasar brilhante 3C 279. Os telescópios foram ligados usando uma técnica chamada Interferometria de Linha de Base Muito Longa (VLBI, sigla do inglês Very Long Baseline Interferometry). Telescópios maiores obtêm observações mais precisas e a interferometria permite que vários telescópios trabalhem como um só, tão grande como a separação – ou distância – entre eles. A distância entre o Chile (APEX) e o Hawaii (SMA) é de 9447 km, entre o Chile e o Arizona (SMT) é de 7174 km e entre o Arizona e o Hawaii é de 4627 km.
Crédito:
ESO/L. Calçada

As observações foram feitas em ondas de rádio, em um comprimento de onda de 1,3 milímetros. Esta é a primeira vez que observações em um comprimento de onda tão curto foram feitas utilizando distâncias tão grandes. As observações atingiram uma precisão, ou resolução angular, de 28 microsegundos de arco – valor 8 bilhões de vezes menor que um grau angular. Com este valor é possível distinguir detalhes dois milhões de vezes mais precisos do que o conseguido pelo olho humano. As observações foram tão precisas que se observaram escalas menores que um ano-luz ao longo do quasar – o que é um feito extraordinário tendo em conta que o objeto que se encontra a vários bilhões de anos-luz de distância.

Estas observações representam um passo importante no sentido de obter imagens de buracos negros de elevada massa e das regiões que os rodeiam. No futuro pensa-se ligar entre si ainda mais telescópios, de modo a criar o chamado Telescópio de Horizonte de Eventos. O Telescópio de Horizonte de Eventos será capaz de obter imagens da sombra do buraco negro de elevada massa que se situa no centro da nossa Via Láctea, assim como de outros buracos negros situados em outras galáxias próximas. A sombra – uma região escura vista em contraste com um fundo mais brilhante – é causada pela curvatura da luz devido ao buraco negro e seria a primeira evidência observacional direta da existência do horizonte de eventos de um buraco negro, a fronteira a partir da qual nem mesmo a luz consegue escapar.

Esta fotografia mostra o Atacama Pathfinder Experiment (APEX), no planalto do Chajnantor, a uma altitude de 5000 metros nos Andes chilenos. O plano da nossa Galáxia – a Via Láctea – pode ser visto no céu como uma banda de nuvens tênues brilhantes. À esquerda do APEX encontra-se a região central da Via Láctea, onde um buraco negro de elevada massa se esconde no coração da nossa Galáxia.
O APEX é uma colaboração entre o Instituto Max Planck para a Rádio Astronomia (MPIfR), o Observatório Espacial Onsala (OSO) e o ESO. A operação do APEX no Chajnantor está a cargo do ESO.
Crédito:
ESO/B. Tafreshi/TWAN (twanight.org)

A experiência marca a primeira vez que o APEX fez parte de observações VLBI e é o ápice de três anos de trabalho árduo no local onde está instalado o APEX, a uma altitude de 5000 metros, no planalto do Chajnantor nos Andes chilenos, onde a pressão atmosférica é apenas metade da pressão ao nível do mar. Para que o APEX estivesse pronto para o VLBI, cientistas da Alemanha e da Suécia instalaram novos sistemas digitais de aquisição de dados, um relógio atômico muito preciso e gravadores de dados pressurizados capazes de gravar 4 gigabits por segundo durante muitas horas sob condições ambientais muito adversas [6]. Os dados – 4 terabytes para cada telescópio – foram enviados para a Alemanha em discos rígidos e processados no Instituto Max Planck para a Rádio Astronomia, em Bonn.

A bem sucedida contribuição do APEX é também importante por outra razão. O APEX partilha a sua localização e muitos aspectos da sua tecnologia com o novo telescópio Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA) [7]. O ALMA encontra-se atualmente a ser construído e no final será uma rede de 54 antenas com 12 metros de diâmetro, como a antena do próprio o APEX, mais 12 antenas menores com um diâmetro de 7 metros. A possibilidade de ligar o ALMA à rede está atualmente sendo estudada. Com a área coletora das antenas do ALMA, que tem aumentado cada vez mais, as observações poderiam atingir uma sensibilidade 10 vezes melhor do que a destes testes iniciais, o que colocaria a sombra do buraco negro de elevada massa da Via Láctea ao nosso alcance em futuras observações. 

Esta fotografia mostra o Telescópio Submilimétrico (SMT) no Observatório Rádio do Arizona, a uma altitude de 3100 metros no Monte Graham, Arizona, EUA.
Crédito:
Used with permission from University of Arizona, David Harvey, photographer

Notas

[1] O APEX é uma colaboração entre o Instituto Max Planck para a Rádio-Astronomia (MPIfR), o Observatório Espacial Onsala (OSO) e o ESO. A operação do APEX no Chajnantor está a cargo do ESO. O APEX é o percursor do telescópio submilimétrico de nova geração, o Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA), que se encontra em construção e operação no mesmo planalto.

[2] O projeto Telescópio de Horizonte de Eventos é uma colaboração internacional, coordenada pelo Observatório MIT Haystack (EUA).

[3] A Rede Submilimétrica (SMA, sigla de Submillimeter Array) situada no Mauna Kea, Hawaii, composta por 8 antenas de 6 metros de diâmetro cada uma, é operada pelo Smithsonian Astrophysical Observatory (EUA) e pela Academia Sinica Institute of Astronomy and Astrophysics (Ilha Formosa).

[4] O Telescópio Submilimétrico (SMT, sigla de Submillimeter Telescope) de 10 metros de diâmetro situado no topo do Monte Graham, Arizona, é operado pelo Arizona Radio Observatory (ARO) no Tucson, Arizona (EUA).

[5] Algumas técnicas indiretas foram usadas para investigar escalas mais pequenas, por exemplo usando microlentes gravitacionais (ver heic1116) ou cintilação interestelar, mas esta é uma observação direta.

[6] Estes sistemas foram desenvolvidos em paralelo nos Estados Unidos (observatório MIT-Haystack) e na Europa (MPIfR, INAF – Istituto di Radioastronomia Noto VLBI Station e HAT-Lab). Um padrão de tempo de maser de hidrogênio (T4Science) foi usado como relógio atômico de alta precisão. O SMT e o SMA já tinham sido equipados similarmente ao VLBI.

[7] O Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA), uma infraestrutura internacional de astronomia, é uma parceria entre a Europa, América do Norte e Leste Asiático, em cooperação com a República do Chile. O ESO é o parceiro europeu no ALMA. 

Esta fotografia mostra a Rede Submilimétrica (SMA), a uma altitude de 4100 metros no Mauna Kea, Hawaii, EUA. A SMA é operada pelo Observatório Astrofísico Smithsonian (EUA) e pela Academia Sinica do Instituto de Astronomia e Astrofísica (Ilha Formosa).
Crédito:
J. Weintroub

Mais Informações

O ano de 2012 marca o quinquagésimo aniversário da fundação do Observatório Europeu do Sul (ESO). O ESO é a mais importante organização europeia intergovernamental para a investigação em astronomia e é o observatório astronómico mais produtivo do mundo. O ESO é financiado por 15 países: Alemanha, Áustria, Bélgica, Brasil, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Holanda, Itália, Portugal, Reino Unido, República Checa, Suécia e Suíça. O ESO destaca-se por levar a cabo um programa de trabalhos ambicioso, focado na concepção, construção e funcionamento de observatórios astronómicos terrestres de ponta, que possibilitam aos astrónomos importantes descobertas científicas. O ESO também tem um papel importante na promoção e organização de cooperação na investigação astronómica. O ESO mantém em funcionamento três observatórios de ponta, no Chile: La Silla, Paranal e Chajnantor. No Paranal, o ESO opera o Very Large Telescope, o observatório astronómico óptico mais avançado do mundo e dois telescópios de rastreio. O VISTA, o maior telescópio de rastreio do mundo que trabalha no infravermelho e o VLT Survey Telescope, o maior telescópio concebido exclusivamente para mapear os céus no visível. O ESO é o parceiro europeu do revolucionário telescópio ALMA, o maior projeto astronómico que existe atualmente. O ESO encontra-se a planear o European Extremely Large Telescope, E-ELT, um telescópio da classe dos 40 metros que observará na banda do visível e próximo infravermelho. O E-ELT será “o maior olho no céu do mundo”. 

Este mapa mostra a posição do quasar 3C 279 – marcado com uma circunferência vermelha – na constelação de Virgem.
Crédito:
ESO, IAU and Sky & Telescope

httpvh://www.youtube.com/watch?v=7aT3Cji8ZBg&feature=youtu.be

httpvh://www.youtube.com/watch?v=xFJFZ4BGDic&feature=youtu.be

httpvh://www.youtube.com/watch?v=RmIjJVhcGvg&feature=youtu.be

Fonte:

http://www.eso.org/public/brazil/news/eso1229/

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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