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Água Em Marte: Rover Curiosity Da NASA Descobre Uma Enxurrada de Evidências

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observatory_150105Água, água em todo o lugar e uma parte serve para beber.

Essa é a imagem de um Marte antigo que emergiu durante os últimos meses graças às descobertas feitas pelo rover Curiosity da NASA, que vem explorando o Planeta Vermelho desde que tocou o seu solo no interior da Cratera Gale em Agosto de 2012.

O anúncio sempre apareceu de forma desconectada, mas apresentados de forma conjunta, recentemente no European Planetary Science Congress, eles fornecem evidências cruciais de que Marte um planeta bem molhado no seu passado distante.

Durante muitas sessões na conferência, que aconteceu de 8 a 13 de Setembro em Londres, os cientistas apresentaram detalhes das mais excitantes descobertas realizadas pelo rover, feitas antes de se iniciar a longa jornada em direção ao Monte Sharp em Julho de 2013.

E as palavras que mais foram ouvidas das bocas dos pesquisadores, foram hidrogênio, rochas hidratadas e água, especialmente a palavra água.

“Nós sabemos que em Marte existiu o que nós interpretamos como sendo um ambiente habitável, onde a água era boa suficiente para se beber”, disse Melissa Rice, do Instituto de Tecnologia da Califórnia em Pasadena depois da apresentação dos resultados de imageamento feitos com o instrumento chamado de Mastcam do Curiosity.

Ela falou sobre rochas que o Curiosity estudou no começo de 2013, encontrando evidências de que o antigo planeta Marte poderia ter suportado a vida microbiana.

“Nós sabemos que nós tínhamos um ambiente habitável inicial quando essas rochas se formaram, e então algum tempo depois – nós não sabemos quando – essas rochas tinham água fluindo através delas, através de suas fraturas, deixando assim sulfato de cálcio para traz”, disse Rice. “Nós não sabemos se essa era teria sido também habitável, mas isso nos diz que existiram no mínimo dois grandes estágios úmidos em Marte”.

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Uma das rochas mencionadas por Rice foi um lamito que o rover Curiosity perfurou. Dentro dela os pesquisadores encontraram minerais de argila, o que significa que eles foram formados ou sofreram uma substancial alteração pela água em Marte.

Posteriormente, essa água tornou-se neutra e benigna. Essa é a grande questão com relação a habitabilidade, os primos menores e mais velhos do Curiosity, os rovers Spirit e Opportunity da NASA, encontraram evidências de um antigo planeta Marte úmido depois que tocaram o solo em 2004, mas a maior parte dessa água  era provavelmente extremamente ácida.

“É espetacular que nós encontramos um lamito”, disse o apresentador Aileen Yingst, um membro da equipe de ciência do rover Curiosity do Planetary Science Institute em Tucson no Arizona. “Lamitos significam que você tem grãos bem finos dentro da rocha – significando que esses grãos se depositaram vagarosamente. Na Terra, isso normalmente significa que isso precisa acontecer devido a água ou o vento. E nós pensamos que isso provavelmente aconteceu devido a água”.

Os pesquisadores pensam que o lamito se formou num lugar onde a água era calma, como um lago, talvez um lugar ideal para os micróbios sobreviverem e se reproduzirem.

“Se você é um micróbio que está tentando encontrar um lugar para viver, você não necessariamente que viver em uma água turbulenta, não é um bom lugar para você começar a crescer e se desenvolver”, disse Yingst. “A água de um lago calmo é um lugar melhor para se viver”.

Outra rocha que recebeu muita atenção na conferência foi a Tintina, um pequeno seixo que o Curiosity rolou sobre e quebrou.

O pequeno pedaço de rocha revelou um interior branco como neve, fortemente indicando a presença de minerais hidratados que se formaram quando a água fluiu através da Cratera Gale a bilhões de anos atrás.


A evidência mais forte do passado úmido de Marte veio da descoberta feita pelo rover Curiosity de veios de sulfato de cálcio – fissuras na superfície da rocha, que uma vez amostradas com um instrumento a laser, chamado de ChemCam, mostraram conter sulfato.

“Se você tem veios, então você tem água que tinha algum tipo de solução mineral de formação de rocha que foi dissolvida na água, transportada para algum outro lugar e então depositada novamente. Assim, esse é apenas outro indicador que você teve uma atividade guiada pela água em Marte”, disse Yingst.

Uma dessas feições da superfície marciana, estudada pelo Curiosity enquanto ele esteve numa pequena depressão perto de seu local de pouso e chamada de Baía Yellowknife, é um afloramento que os pesquisadores chamaram de Shaler.

Shaler é um exemplo de rocha com estratificação cruzada, que compreende finas e inclinadas camadas de sedimentos. Feições encontradas no afloramento Shaler são normalmente formadas pelos rios na Terra. A água turbulenta cria dunas no leito do rio, que vagarosamente migra na direção da corrente.

O que o Curiosity tem visto são as partes remanescentes desse processo de migração, dizem os pesquisadores.

“O tamanho dos grãos ali são pequenos seixos e grãos de areia grossos, muito grandes para serem levantados e transportados pelo vento, assim, a única maneira de produzir essas duas é por meio do fluxo de água”, disse o apresentador Sanjeev Gupta, do Imperial College de Londres, um membro da equipe do Curiosity.

“E isso se parece exatamente com as feições que eu vi na Terra e que foram formadas por rios antigos”, adicionou Gupta. “Assim, podemos dizer que esses afloramentos são uma evidência clara para sustentar o transporte via água e a migração da duna. Quando elas são preservadas, elas estão registrando de minutos a horas de movimento, e elas tem sido preservadas por milhões a bilhões de anos”.

O fluxo de água que produziu as dunas provavelmente ocorreu a bilhões de anos atrás, disse Gupta. Os cientistas ainda estão analisando as imagens feitas pelo Curiosity dos depósitos, um processo que pode levar meses ainda.

O Curiosity está agora embarcado numa longa jornada até o Monte Sharp, que se ergue a 5.5 km no céu marciano desde o centro da Cratera Gale.

O rover de 1 tonelada pode finalmente chegar na base da montanha no próximo mês de Maio ou Junho, afirma a equipe. O Curiosity então escalará as partes mais baixas do Monte Sharp, estudando os muitos tipos de rochas.

“Quem sabe o que tem lá? Eu espero encontrar evidências para as paisagens antigas, e como elas mudaram, como o ambiente se desenvolveu”, disse Gupta.

Outro objetivo é analisar as rochas contendo minerais de argila no sopé do Monte Sharp e entender como elas se transformaram em rochas contendo minerais sulfatos.

“Nós queremos entender quais são os mecanismos para essas rochas se formarem”, disse Gupta. “Esses minerais de argila se depositaram num lago? Ou diagênese, que é quando as rochas foram alteradas quando fluidos fluíram através delas e alteraram os minerais?”

O Monte Sharp tem sido o primeiro destino para o Curiosity desde antes do lançamento do rover em Novembro de 2011. O cientistas da missão estão famintos para encontrar o que o rover irá descobrir ali.

“Eu acho que a porta está totalmente aberta e o melhor ainda está por vir”, disse Yingst. “Julgando pelo material animador que encontramos até agora, as coisas só tendem a melhorar”.


Fonte:

http://www.space.com/22854-mars-water-curiosity-rover-discoveries.html

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Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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