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A Nebulosa IC 2944: Um Pássaro Zangado no Céu


A nova imagem do instrumento Wide Field Imager montado no telescópio MPG/ESO de 2,2 metros revela a Nebulosa Lambda Centauri, uma nuvem de hidrogênio brilhante e estrelas recém-nascidas na constelação de Centauro. A nebulosa, também conhecida como IC 2944, é também conhecida pelo nome popular de nebulosa da Galinha Fugitiva, devido à forma de pássaro que algumas pessoas identificam na região mais brilhante.

Na nebulosa, situada a cerca de 6500 anos-luz de distância, as estrelas quentes recém-nascidas que se formaram a partir de nuvens de hidrogênio gasoso brilham intensamente no ultravioleta. Esta radiação intensa excita, por sua vez, a nuvem de hidrogênio à sua volta, fazendo com que esta nuvem brilhe em tons de vermelho. Esta cor é típica de regiões de formação estelar, sendo outro exemplo famoso a Nebulosa da Lagoa.

Algumas pessoas pensam ver a forma de uma galinha nas imagens desta região de formação estelar avermelhada, o que dá à nebulosa o seu nome popular – embora exista algum desacordo sobre que parte da nebulosa é que tem efetivamente a forma de galinha, distinguindo-se aparentemente diferentes formas de pássaro por toda a imagem [1].

Para além do gás brilhante, outro sinal de formação estelar na IC 2944 consiste numa série de glóbulos negros opacos que aparecem em silhueta sob o fundo vermelho, em algumas partes da imagem. São exemplos de um tipo de objetos chamados glóbulos de Bok. Aparecem escuros porque absorvem radiação do fundo luminoso. No entanto, observações destes glóbulos escuros com telescópios infravermelhos, que observam através da poeira que normalmente bloqueia a radiação visível, revelaram estrelas se formando no interior de muitos deles.

A coleção mais proeminente de glóbulos de Bok nesta imagem é conhecida por Glóbulos de Thackeray, devido ao astrônomo sul americano que os descobriu nos anos 1950. Visíveis no seio de um grupo de estrelas brilhantes, em cima e à direita na imagem, estes glóbulos aparecem numa imagem famosa obtida com o Telescópio Espacial Hubble, da NASA/ESA.

Enquanto o Hubble obtém uma imagem de uma pequena região do céu em grande detalhe, o Wide Field Imager, montado no telescópio MPG/ESO de 2,2 metros no Observatório de La Silla do ESO, captura imagens muito maiores, cobrindo uma área do céu aproximadamente do tamanho da Lua Cheia [2]. Tal como uma lente zoom que permite ao fotógrafo escolher o enquadramento mais apropriado a uma fotografia, também os diferentes campos oferecidos por diferentes telescópios permitem aos cientistas obter dados complementares no estudo de objetos astronômicos que cobrem uma extensa região do céu.

Se as estrelas que fizeram casulo nos glóbulos de Thackeray estão ainda em gestação, as estrelas do aglomerado IC 2948 embebidas no interior da nebulosa são as suas irmãs mais velhas. Ainda jovens em termos estelares, com apenas alguns milhões de anos de idade, estas estrelas brilham intensamente e a sua radiação ultravioleta fornece muita da energia que ilumina a nebulosa. Estas nebulosas brilhantes têm uma vida relativamente curta em termos astronômicos (tipicamente alguns milhões de anos), o que significa que a Nebulosa Lambda Centauri irá eventualmente desvanecer à medida que perde gás e combustível de radiação ultravioleta.

Notas

[1] Ideias de como as formas de galinha possam definir-se na imagem podem ser submetidas através do grupo Your ESO Pictures Flickr. Haverá oportunidade de ganhar prêmios interessantes.

[2] Esta imagem foi produzida no âmbito do programa ESO Cosmic Gems. Trata-se duma nova iniciativa que visa obter imagens de objetos interessantes, intrigantes ou visualmente atrativos, utilizando os telescópios do ESO, para efeitos de educação e divulgação científica. O programa utiliza pouco tempo de observação combinado com tempo inutilizado nos telescópios, de modo a minimizar o impacto nas observações científicas. Todos os dados obtidos ficam igualmente disponíveis aos astrônomos através do arquivo científico do ESO.

Fonte:

http://www.eso.org/public/news/eso1135/


Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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