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A Lua Está Viva

Um grupo de pesquisadores, descobriu um sistema de cordilheiras no lado visível da Lua que possui no topo pedaços de rochas expostos. Essas cordilheiras poderiam ser a evidência de um processo tectônico ativo na Lua, possivelmente disparado por um impacto ocorrido a muito tempo atrás que quase partiu a Lua ao meio.

Existe a premissa que a Lua há muito tempo é um corpo morto, mas esse novo estudo parece mostrar que não é bem assim, aparentemente a Lua ainda está rangendo e rachando, e a evidência para isso estariam em cordilheiras.

A maior parte da superfície da Lua é coberta pelo que chamamos de regolito, um cobertor de rocha pulverizada pelo constante bombardeamento de pequenos meteoroides e por outros objetos. As áreas livres do regolito, onde o embasamento da Lua está exposto são bem raras de se encontrar. Mas um grupo de pesquisadores, usou os dados da sonda LRO da NASA e conseguiu registrar pontos estranhos dentro dos mares lunares e ao redor dos mares lunares.

Esses blocos de rocha que fiam expostos na superfície possuem uma vida bem curta, pois logo o regolito os cobre e aí fica impossível identificar. Então quando se observa um desses pontos, é preciso explicar como e porque eles estão expostos em determinadas localizações. E na tentativa de encontrar essa explicação os pesquisadores podem descoberto algo bem interessante.

Os pesquisadores usaram dados do instrumento Diviner da LRO, que mede a temperatura da superfície lunar. O embasamento e a superfície irregular da Lua se mantem mais quente durante a noite do que o a região coberta com regolito. E usando o Diviner, os pesquisadores conseguiram registrar mais de 500 pontos de embasamento exposto em estreitas cordilheiras que seguiam um padrão através dos mares lunares no lado visível do nosso satélite.

Algumas dessas cordilheiras com embasamento exposto no topo já tinham sido vistas antes. Mas essas cordilheiras estavam nas bordas de antigas bacias preenchidas com lava e poderiam ser explicadas resposta ao peso causado pela própria lava, ou seja, a Lua continuava morta.

Mas esse novo estudo descobriu algo diferente, que a maior parte das cordilheiras ativas estão relacionadas com um misterioso sistema de feições tectônicas, cordilheiras e falhas, no lado visível da Lua, que não estão relacionadas com as bacias preenchidas por lava.

Isso merecia uma nova explicação, os pesquisadores então mapearam todas as rochas expostas e descobriram uma interessante correlação. Essas rochas expostas e o terreno irregular estavam alinhados com intrusões profundas na Lua, essas intrusões formam uma rede de fraturas na crosta lunar. E pela correlação encontrada, esse é um processo que está em andamento, ou seja, a Lua estaria viva.

A explicação é que as cordilheiras acima dessas intrusões ainda estão sofrendo soerguimento. Esse movimento quebra a superfície e permite que o regolito seja drenado pelas fraturas, deixando os blocos expostos. Como os pontos são rapidamente cobertos esse fraturamento precisa ser recente, e possivelmente ainda está em andamento. Os pesquisadores se referem a eles como Sistema Tectônico Ativo do Lado Visível da Lua.

Mas o que despertou esse movimento, se a Lua não tem placas tectônicas?

Para os pesquisadores, foi uma grande colisão que aconteceu no lado oculto do nosso satélite, o impacto que formou a Bacia Aitken do Polo Sul, isso criou uma rede de fraturas por onde a lava fluiu e isso criou zonas de fraqueza onde a movimentação acontece atualmente.

Aparentemente, as cordilheiras representam a resposta a algo que aconteceu a 4.3 bilhões de anos atrás. Impactos gigantes têm um efeito duradouro. A Lua tem uma longa memória. O que vemos na superfície hoje é a testemunha dos eventos e segredos que a Lua esconde de nós.

Fontes:

https://www.brown.edu/news/2020-04-30/tectonics

https://www.hou.usra.edu/meetings/lpsc2018/pdf/2385.pdf

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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