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BepiColombo Realiza Sexto Sobrevoo Por Mercúrio

A missão BepiColombo, uma fascinante e ambiciosa empreitada de exploração interplanetária, representa a primeira colaboração entre a Agência Espacial Europeia (ESA) e a Agência de Exploração Aeroespacial do Japão (JAXA) com o objetivo de estudar o planeta Mercúrio, o menos explorado dos planetas terrestres do sistema solar. Este empreendimento internacional surge como uma resposta ao enigma apresentado por Mercúrio, cuja proximidade ao Sol e características extremas levantam questões fundamentais sobre a formação e evolução dos planetas próximos à nossa estrela.

Lançada em 20 de outubro de 2018, a BepiColombo consiste em uma dupla de orbitadores científicos: o Mercury Planetary Orbiter (MPO) da ESA e o Mercury Magnetospheric Orbiter (Mio) da JAXA. Estas duas sondas são transportadas pelo módulo de transferência europeu, o Mercury Transfer Module (MTM), em uma jornada complexa e meticulosamente planejada de oito anos até Mercúrio. Esta missão se destaca não apenas por sua colaboração internacional, mas também por sua abordagem inovadora em termos de engenharia e ciência espacial.

A complexidade da missão BepiColombo é acentuada pela necessidade de realizar uma série de manobras de assistência gravitacional, conhecidas como flybys, que permitem ao módulo de transferência ajustar sua velocidade e trajetória rumo ao planeta-alvo. No total, são nove flybys planejados: um ao redor da Terra, dois em torno de Vênus e seis sobrevoando Mercúrio. Esta série de manobras é crucial para garantir que a nave espacial possa se inserir na órbita de Mercúrio com sucesso, utilizando a gravidade dos planetas para controlar sua energia cinética e minimizar o consumo de combustível.

Até o presente momento, a missão BepiColombo já completou mais de seis anos de sua jornada, tendo realizado com sucesso os flybys da Terra e de Vênus, além dos cinco primeiros flybys em Mercúrio. Cada um desses encontros próximos proporcionou aos cientistas dados valiosos sobre os ambientes planetários, contribuindo para o ajuste dos instrumentos científicos e a calibração dos sistemas a bordo. Este processo é vital para maximizar a eficiência e a precisão das observações científicas durante a fase principal da missão, prevista para iniciar em 2027.

À medida que a BepiColombo se aproxima de seu destino final, a expectativa cresce em torno das descobertas que poderão elucidar muito sobre a geologia, a atmosfera e o campo magnético de Mercúrio, revelando segredos que estão além do alcance dos telescópios terrestres e expandindo, assim, nossa compreensão do sistema solar interior.

Detalhes do Sexto Flyby de Mercúrio

Em 8 de janeiro de 2025, a missão BepiColombo, uma colaboração entre a Agência Espacial Europeia (ESA) e a Agência de Exploração Aeroespacial do Japão (JAXA), alcançará um marco significativo em sua jornada rumo a Mercúrio. Este evento crucial marca o sexto e último flyby da espaçonave sobre o planeta mais próximo do Sol, oferecendo uma oportunidade única para a coleta de dados científicos antes do início da fase principal da missão. Durante este flyby, a BepiColombo passará a apenas 295 km da superfície de Mercúrio, com o ponto de maior aproximação previsto para as 06:59 CET (05:59 UTC).

O objetivo deste flyby é duplo: além de capturar imagens de alta resolução da superfície de Mercúrio, a missão visa realizar medições detalhadas do ambiente planetário. Este evento não só permitirá ajustes finos nos instrumentos científicos a bordo, mas também contribuirá para a redução da velocidade da espaçonave e a alteração de sua trajetória, preparando-a para a inserção em órbita ao redor do planeta prevista para o final de 2026. Este processo de desaceleração e redirecionamento é essencial para a segurança e o sucesso das operações científicas futuras.

A abordagem da BepiColombo começará pelo lado noturno de Mercúrio, um desafio técnico significativo, dado que a espaçonave não receberá luz solar direta por mais de 23 minutos. Durante este período, a BepiColombo dependerá exclusivamente de suas baterias internas. Os operadores da missão no Centro Europeu de Operações Espaciais (ESOC) estão meticulosamente preparados para este momento crítico da missão. Um dia antes da entrada na sombra de Mercúrio, a espaçonave será aquecida para economizar energia, minimizando assim o uso dos aquecedores durante o eclipse.

Este flyby não é apenas um desafio técnico, mas também uma oportunidade para testar a resiliência da BepiColombo em condições extremas. O gerenciador de operações da espaçonave, Ignacio Clerigo, destacou a importância de monitorar de perto o status da bateria e a temperatura de todos os sistemas durante a passagem. O uso do Acelerômetro de Primavera Italiano (ISA) proporcionará dados valiosos sobre as acelerações sentidas pela espaçonave, resultantes não apenas da atração gravitacional de Mercúrio, mas também das mudanças na radiação solar e temperatura ao entrar e sair da sombra do planeta. Assim, este flyby representa um passo crítico na continuidade e sucesso da missão BepiColombo, preparando o caminho para uma exploração mais detalhada deste planeta ainda pouco compreendido.

Explorações Científicas e Descobertas Potenciais

À medida que a missão BepiColombo se prepara para seu sexto e último flyby de Mercúrio, a expectativa entre a comunidade científica é palpável. Este evento não é apenas um marco técnico, mas também uma oportunidade inestimável para realizar explorações científicas detalhadas do planeta mais interno do sistema solar. Durante esse flyby, o foco se concentrará em algumas das regiões mais intrigantes de Mercúrio, especialmente aquelas que permanecem perpetuamente sombreadas.

Uma das áreas de interesse primordial são os polos de Mercúrio, onde crateras profundas ocultam mistérios que desafiam a compreensão convencional. Estas regiões polares, em permanente sombra, são de particular interesse devido às evidências de depósitos de gelo de água, um enigma científico dado o ambiente escaldante do planeta. O BepiColombo, equipado com câmeras de monitoramento e instrumentos científicos de ponta, buscará olhar dentro das crateras Prokofiev, Kandinsky e Tolkien, que são notórias por suas sombras geladas, para coletar dados cruciais que poderão confirmar ou refutar a presença de gelo.

O conjunto de instrumentos a bordo do BepiColombo inclui analisadores de partículas, magnetômetros e câmeras de alta resolução, cada um desempenhando um papel essencial nesta investigação. Os analisadores de partículas, como o SERENA e o MPPE, estão configurados para ‘degustar’ as partículas que fluem através das regiões magnéticas de Mercúrio, proporcionando uma visão sem precedentes sobre a interação entre o planeta e o vento solar. Os magnetômetros, MPO-MAG e MMO-MGF, são vitais para mapear o campo magnético de Mercúrio, especialmente nas regiões polares, onde as linhas do campo magnético podem canalizar partículas solares até a superfície do planeta.

Além disso, o BepiColombo passará por regiões do ambiente magnético e de partículas de Mercúrio que ainda não foram exploradas, oferecendo novas perspectivas sobre a dinâmica planetária e os processos que ocorrem em torno de Mercúrio. A medição de partículas de poeira maiores pelo monitor de poeira (MDM) também fornecerá dados importantes sobre o ambiente espacial do planeta.

Esses esforços combinados visam não apenas responder às questões sobre a presença de gelo em Mercúrio, mas também aprofundar o entendimento sobre a evolução dos planetas terrestres sob condições extremas. As descobertas potenciais deste flyby podem revolucionar as teorias existentes sobre a geologia planetária e os processos atmosféricos, pavimentando o caminho para novas perguntas e explorações futuras.

Significado e Impacto Futuro da Missão

A missão BepiColombo, ao se aproximar do culminar de seus objetivos científicos, representa um marco significativo na exploração espacial, especialmente no que diz respeito à compreensão dos planetas terrestres do nosso sistema solar. Através de suas investigações em Mercúrio, BepiColombo promete fornecer insights cruciais que podem redefinir nosso entendimento das condições extremas que moldam os corpos planetários próximos ao Sol.

Mercúrio, sendo o planeta mais interno do nosso sistema solar, apresenta desafios únicos e condições ambientais extremas, com temperaturas que flutuam dramaticamente e uma superfície bombardeada por ventos solares intensos. A capacidade da BepiColombo de estudar este ambiente hostil em detalhe não apenas ilumina a história e a evolução de Mercúrio, mas também oferece paralelos e contrastes importantes com a Terra e Vênus. Esses estudos são vitais para teorias sobre a formação planetária e a dinâmica do sistema solar interior.

A exploração de Mercúrio pela BepiColombo pode, além disso, ter implicações mais amplas para a astrobiologia e a busca por vida em outros planetas. Ao entender como Mercúrio retém traços de gelo em suas crateras permanentemente sombreadas, os cientistas podem extrapolar para condições semelhantes que possam existir em exoplanetas orbitando estrelas próximas de maneira similarmente próxima. Tal conhecimento é essencial para avaliar a habitabilidade potencial desses corpos extraterrestres.

O futuro da missão, após a entrada em órbita prevista para 2026, promete ainda mais descobertas. Com o início das operações científicas em 2027, BepiColombo irá coletar dados sem precedentes que podem expandir nossa compreensão não apenas de Mercúrio, mas também dos processos geomagnéticos e atmosféricos que ocorrem em planetas que orbitam perto de suas estrelas hospedeiras. Este conhecimento é crítico para a modelagem de atmosferas planetárias e a compreensão das interações entre ventos solares e campos magnéticos planetários.

À medida que a missão avança, espera-se que suas descobertas informem futuras missões interplanetárias, fornecendo uma base de dados robusta e um modelo para a exploração de outros planetas rochosos. A ESA e a JAXA, através da BepiColombo, estão não apenas desvendando os mistérios de Mercúrio, mas também pavimentando o caminho para uma nova era de exploração planetária. As descobertas da missão prometem enriquecer nosso conhecimento científico e inspirar a próxima geração de missões de exploração espacial, com potencial para impactar profundamente nossa compreensão do cosmos e do lugar da Terra dentro dele.

Fonte:

https://www.esa.int/Science_Exploration/Space_Science/BepiColombo/BepiColombo_to_swing_by_Mercury_for_the_sixth_time

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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