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21 de dezembro de 2024

NASA Desliga Instrumento da Voyager 2

Em 1977, a NASA lançou uma das missões mais ambiciosas e transformadoras da história da exploração espacial: as sondas Voyager 1 e Voyager 2. Estas sondas foram projetadas para aproveitar um raro alinhamento dos planetas exteriores do sistema solar, permitindo que realizassem uma série de sobrevoos históricos. Enquanto ambas as sondas passaram por Júpiter e Saturno, a Voyager 2 se destacou ao ser a única missão a realizar um reconhecimento próximo dos gigantes gelados Urano e Netuno, ampliando significativamente nosso entendimento sobre esses mundos distantes e misteriosos.

Desde o seu lançamento, a Voyager 2 tem sido um farol de descoberta científica, proporcionando dados inestimáveis sobre os planetas exteriores e suas luas, além de explorar as fronteiras do nosso sistema solar. Atualmente, a sonda se encontra a impressionantes 20,5 bilhões de quilômetros da Terra, uma distância que equivale a quase 138 vezes a distância entre a Terra e o Sol. Este feito extraordinário a posiciona além da heliosfera, a região ao redor do Sol onde seu campo magnético protetor nos resguarda de partículas intergalácticas.

A importância da missão Voyager 2 transcende suas descobertas planetárias iniciais. À medida que a sonda avança para além dos confins do nosso sistema solar, ela adentra o espaço interestelar, uma região pouco compreendida e repleta de mistérios. Este ambiente, que se estende entre as estrelas, é composto por partículas e campos magnéticos que influenciam a dinâmica do cosmos em escalas vastas. A Voyager 2, ao atravessar a fronteira da heliosfera em 2018, tornou-se uma das poucas testemunhas diretas deste domínio, oferecendo medições cruciais que ajudam a decifrar a natureza do espaço interestelar.

O legado da missão Voyager é inegável. Ao carregar a bordo os icônicos “Discos de Ouro”, que contêm mensagens e saudações da Terra destinadas a possíveis civilizações alienígenas, as sondas simbolizam a curiosidade inata da humanidade e seu desejo de se conectar com o cosmos. A Voyager 2, em particular, continua a desafiar as expectativas, operando além de sua vida útil projetada e fornecendo dados que enriquecem nosso conhecimento sobre o universo. À medida que ela avança em direção à constelação austral do Pavão, a missão persiste como um testemunho do engenho humano e da busca incessante por respostas às perguntas fundamentais sobre nosso lugar no universo.

Em uma decisão estratégica que visa prolongar a vida útil da sonda Voyager 2, os engenheiros da NASA optaram por desligar o instrumento de ciência de plasma a bordo da espaçonave. Este movimento é parte de um plano de longo prazo para garantir que a missão continue operando até a década de 2030, explorando as profundezas do espaço interestelar. A decisão de desativar este instrumento específico não foi tomada de forma leviana, considerando sua importância crítica para a missão até o momento.

O instrumento de ciência de plasma da Voyager 2 desempenhou um papel fundamental na análise do fluxo e da direção dos átomos eletricamente carregados, conhecidos como plasma, no ambiente ao redor da sonda. Este conjunto de instrumentos é composto por quatro “copos” que capturam e medem o plasma. Três desses copos estão orientados na direção do Sol, enquanto o quarto coleta material em um ângulo reto em relação aos outros. Foi através das medições deste instrumento que, em 2018, os cientistas puderam confirmar que a Voyager 2 havia cruzado a fronteira da heliosfera, entrando no espaço interestelar.

No entanto, a operação contínua deste instrumento consome uma quantidade significativa de energia e combustível, recursos que são cada vez mais escassos à medida que a missão avança. A Voyager 2 é alimentada por um gerador termoelétrico de radioisótopos (RTG), que utiliza o decaimento do plutônio-238 para gerar eletricidade. Desde seu lançamento, a capacidade de geração de energia da sonda diminuiu gradualmente, perdendo cerca de 4 watts por ano. Portanto, a conservação de energia tornou-se uma prioridade para prolongar a missão.

Além disso, a operação do instrumento de plasma requer manobras que consomem hidrazina, um combustível essencial para manter a estabilidade da sonda e a comunicação com a Rede de Espaço Profundo da NASA. Com o objetivo de preservar esses recursos críticos, a NASA decidiu priorizar outros instrumentos que continuam a fornecer dados valiosos sobre o meio interestelar.

Embora a desativação do instrumento de ciência de plasma represente uma perda em termos de coleta de dados específicos, a missão Voyager 2 continua a ser uma fonte inestimável de informações sobre o espaço além da influência do Sol. Os dados coletados até agora contribuíram significativamente para nossa compreensão do espaço interestelar, e os instrumentos restantes a bordo da sonda continuarão a fornecer insights sobre este ambiente misterioso e inexplorado.

A missão Voyager 2, ao longo de suas décadas de operação, tem proporcionado uma janela única para o cosmos, oferecendo insights sem precedentes sobre o espaço interestelar. Desde sua travessia além da heliosfera, a região dominada pela influência solar, a Voyager 2 tem sido uma pioneira na coleta de dados sobre o meio interestelar, uma área que, até então, permanecia em grande parte um mistério. A importância dessa missão reside na sua capacidade de fornecer as primeiras medições diretas deste ambiente, permitindo que os cientistas estudem a composição e o comportamento de raios cósmicos e partículas energéticas, além de compreender melhor as oscilações de plasma e as características do campo magnético interestelar.

Os dados coletados pela Voyager 2 continuam a ser de suma importância para a comunidade científica, especialmente no que diz respeito à evolução das partículas e campos no meio interestelar. A capacidade de monitorar a densidade do plasma e as ondas geradas por erupções solares oferece uma visão detalhada das interações entre o vento solar e o meio interestelar. Este conhecimento é crucial para entender não apenas a estrutura do espaço interestelar, mas também para prever como o ambiente espacial pode afetar futuras missões interplanetárias e interestelares.

Apesar do desligamento do instrumento de ciência de plasma, a Voyager 2 ainda possui outros instrumentos operacionais que continuarão a transmitir dados valiosos. A missão, agora focada em estudar o meio interestelar, promete continuar a enriquecer nosso entendimento do universo por pelo menos mais uma década. Este prolongamento da missão é uma demonstração da engenhosidade e resiliência das tecnologias desenvolvidas pela NASA, que, mesmo após quase meio século, continuam a operar em condições extremas.

O legado da missão Voyager é imensurável. Ela não apenas ampliou nosso conhecimento sobre os planetas exteriores do sistema solar, mas também nos proporcionou uma nova perspectiva sobre nosso lugar no cosmos. À medida que a Voyager 2 se afasta cada vez mais, rumo à constelação de Pavo, ela simboliza a incessante busca humana por conhecimento e a exploração do desconhecido. A missão serve como um lembrete do poder da curiosidade científica e da capacidade da humanidade de alcançar além dos limites conhecidos, inspirando futuras gerações de cientistas e engenheiros a continuar essa jornada de descoberta.

Em última análise, a Voyager 2 não é apenas uma missão científica; é um testemunho da capacidade humana de sonhar e realizar feitos extraordinários, deixando um legado duradouro que continuará a influenciar a exploração espacial por muitos anos vindouros.

Fonte:

https://skyandtelescope.org/astronomy-news/nasa-powers-down-voyager-2-experiment/

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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