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16 de novembro de 2024

Missão JUICE Faz Sobrevoo Histórico Pela Terra E Lua

A missão Jupiter Icy Moons Explorer (Juice) da Agência Espacial Europeia (ESA) representa um marco significativo na exploração espacial contemporânea. Lançada em abril de 2023 a partir do Porto Espacial Europeu em Kourou, a missão Juice é um empreendimento ambicioso destinado a realizar observações detalhadas do gigante gasoso Júpiter e suas três grandes luas oceânicas: Ganimedes, Calisto e Europa. Equipado com um conjunto poderoso de instrumentos de sensoriamento remoto, geofísicos e in situ, o Juice visa desvendar os mistérios desses corpos celestes, investigando seu potencial como habitats para vida passada ou presente.

O recente flyby lunar-terrestre, realizado nos dias 19 e 20 de agosto de 2024, marca um feito inédito na história da exploração espacial. Esta manobra complexa e arriscada, que envolveu a passagem da sonda primeiro pela Lua e depois pela Terra, foi projetada para ajustar a velocidade e a trajetória da Juice, utilizando a gravidade desses corpos celestes como uma espécie de “freio” natural. Este evento não apenas representa a primeira vez que uma sonda realiza um flyby lunar-terrestre, mas também a primeira vez que uma dupla assistência gravitacional é empregada em uma missão espacial.

A importância desta missão não pode ser subestimada. Júpiter, localizado a uma distância média de 800 milhões de quilômetros da Terra, representa um desafio logístico monumental para qualquer missão espacial. Sem um foguete de proporções colossais, enviar a Juice diretamente para o gigante gasoso exigiria uma quantidade impraticável de propelente a bordo, cerca de 60.000 kg. Além disso, a sonda precisaria de uma quantidade adicional de combustível para desacelerar o suficiente para entrar em órbita ao redor de Júpiter, em vez de simplesmente passar direto e se perder no espaço profundo.

Portanto, a Juice está tomando uma rota mais cênica, utilizando a gravidade de outros planetas para ajustar cuidadosamente sua trajetória através do espaço. Esta rota incrivelmente complexa e em constante evolução foi meticulosamente planejada pela equipe de análise de missão da Juice ao longo dos últimos 20 anos. A recente manobra de flyby lunar-terrestre é apenas o primeiro passo nesta jornada épica, que inclui futuras assistências gravitacionais de Vênus e da Terra antes de finalmente alcançar Júpiter em julho de 2031.

Este artigo explora em detalhes a recente manobra de flyby lunar-terrestre, as razões por trás da complexidade da rota da Juice, os resultados científicos obtidos até agora e os próximos passos esperados para esta missão histórica. Acompanhe-nos enquanto desvendamos os desafios e as descobertas que moldam a exploração do nosso Sistema Solar.

A recente manobra de flyby lunar-terrestre realizada pela missão Juice da Agência Espacial Europeia (ESA) representa um marco significativo na exploração espacial. Este evento, ocorrido entre os dias 19 e 20 de agosto de 2024, não apenas marca a primeira vez que uma espaçonave realiza um flyby duplo que envolve a Lua e a Terra, mas também demonstra a complexidade e a precisão necessárias para tal empreendimento. A missão Juice, cujo objetivo final é explorar as luas geladas de Júpiter, utilizou a gravidade da Lua e da Terra para ajustar sua trajetória e velocidade, um feito que exigiu uma coordenação meticulosa e uma navegação em tempo real extremamente precisa.

O flyby lunar-terrestre é uma manobra de assistência gravitacional que aproveita a gravidade de corpos celestes para alterar a velocidade e a direção de uma espaçonave sem a necessidade de grandes quantidades de combustível. No caso da Juice, a aproximação mais próxima da Lua ocorreu às 23:15 CEST (21:15 UTC) em 19 de agosto, seguida pela aproximação da Terra às 23:56 CEST (21:56 UTC) em 20 de agosto. Durante essa janela de tempo, a Juice passou a apenas 6840 km acima do Sudeste Asiático e do Oceano Pacífico, capturando uma série de imagens e coletando dados científicos com oito de seus dez instrumentos a bordo.

A manobra foi projetada para aumentar a velocidade da Juice em 0,9 km/s em relação ao Sol durante o flyby da Lua e, subsequentemente, reduzir sua velocidade em 4,8 km/s durante o flyby da Terra. Este ajuste resultou em uma deflexão de 100° na trajetória da Juice, redirecionando-a em direção a Vênus. Este processo, embora arriscado, economizou entre 100 e 150 kg de combustível, uma economia significativa que poderá ser utilizada para estender a missão científica uma vez que a Juice chegue ao sistema de Júpiter.

O sucesso desta manobra foi garantido por uma navegação ultra-precisa e ajustes contínuos na trajetória da Juice, realizados pela equipe de operações da ESA. Entre os dias 17 e 22 de agosto, a espaçonave foi monitorada 24 horas por dia, garantindo que cada pequeno ajuste necessário fosse realizado em tempo real. Ignacio Tanco, Gerente de Operações da Espaçonave, comparou a manobra a “passar por um corredor muito estreito, muito rapidamente, acelerando ao máximo quando a margem ao lado da estrada é de apenas milímetros”.

Além de ajustar a trajetória da Juice, o flyby lunar-terrestre também proporcionou uma oportunidade única para testar e calibrar os instrumentos científicos da espaçonave. Este evento permitiu que os cientistas coletassem dados valiosos e ajustassem os instrumentos para futuras observações, garantindo que a Juice esteja preparada para sua missão principal de explorar as luas geladas de Júpiter.

Alcançar Júpiter, o maior planeta do nosso Sistema Solar, representa um desafio monumental para qualquer missão espacial. A distância média entre a Terra e Júpiter é de aproximadamente 800 milhões de quilômetros, uma jornada que exige um planejamento meticuloso e uma engenharia de precisão. A missão Juice (Jupiter Icy Moons Explorer) da Agência Espacial Europeia (ESA) exemplifica a complexidade envolvida em tal empreendimento, especialmente devido à necessidade de economizar combustível e ajustar a trajetória da espaçonave de maneira eficiente.

Uma das principais razões para a complexidade da rota da Juice é a necessidade de economizar combustível. Enviar uma espaçonave diretamente para Júpiter exigiria uma quantidade colossal de propulsor, estimada em cerca de 60.000 kg. Além disso, a Juice precisaria de uma quantidade adicional significativa de combustível para desacelerar e entrar em órbita ao redor de Júpiter, evitando assim que a espaçonave simplesmente passasse pelo planeta e se perdesse no espaço profundo. Para contornar esses desafios, a missão utiliza uma série de manobras de assistência gravitacional, aproveitando a gravidade de outros corpos celestes para ajustar sua trajetória e velocidade.

O recente flyby lunar-terrestre é um exemplo perfeito dessa estratégia. Ao passar primeiro pela Lua e depois pela Terra, a Juice conseguiu alterar sua velocidade e direção de maneira precisa, utilizando a gravidade desses corpos para “frear” e redirecionar sua trajetória. Essa manobra, embora contraintuitiva, é mais eficiente do que tentar acelerar a espaçonave diretamente em direção a Júpiter. Se a missão tivesse optado por um flyby que aumentasse a velocidade da Juice em direção a Marte, por exemplo, teria sido necessário esperar muito mais tempo para a próxima assistência gravitacional, atrasando significativamente a missão.

O planejamento dessa rota complexa não é algo que se faz da noite para o dia. A equipe de análise de missão da Juice dedicou duas décadas para mapear e calcular a trajetória ideal, levando em consideração a posição e a gravidade de vários corpos celestes ao longo do caminho. Cada ajuste na trajetória é meticulosamente calculado para garantir que a Juice chegue a Júpiter com a velocidade e a direção corretas, minimizando o uso de combustível e maximizando a eficiência da missão.

Em suma, a complexidade da rota da Juice é um testemunho da engenhosidade e do planejamento detalhado necessário para explorar os confins do nosso Sistema Solar. A utilização de assistências gravitacionais não apenas economiza combustível, mas também permite que a espaçonave siga uma trajetória que seria impossível de alcançar de outra maneira, demonstrando a sofisticação e a precisão da engenharia espacial moderna.

O recente flyby lunar-terrestre da missão Juice da Agência Espacial Europeia (ESA) não apenas alterou a trajetória da espaçonave, mas também proporcionou uma oportunidade única para a coleta de dados científicos valiosos. Durante a manobra, oito dos dez instrumentos científicos a bordo da Juice foram ativados, permitindo a obtenção de informações cruciais sobre a Lua e a Terra, além de testar o funcionamento dos instrumentos em um ambiente espacial real.

Entre os instrumentos ativados, destaca-se a câmera científica JANUS, que capturou imagens de alta resolução da superfície lunar e terrestre. Essas imagens são essenciais para a calibração dos sensores e para a preparação dos instrumentos para a chegada em Júpiter. A precisão e a qualidade das imagens obtidas durante o flyby fornecem uma base sólida para futuras observações das luas geladas de Júpiter.

Um dos principais desafios enfrentados pela equipe da missão foi o ruído eletrônico que afetava o Radar para Exploração das Luas Geladas (RIME). Durante a aproximação mais próxima da Lua, o RIME teve uma janela de oito minutos para operar sozinho, enquanto os outros instrumentos foram desligados ou colocados em modo silencioso. Esses minutos preciosos permitiram à equipe de cientistas observar como o ruído estava impactando o desempenho do instrumento e desenvolver algoritmos para mitigar esse problema. A correção desse ruído é vital para garantir a precisão das futuras medições do RIME nas luas de Júpiter.

Além disso, a coleta de dados durante o flyby lunar-terrestre ofereceu uma oportunidade única para estudar a interação da espaçonave com o ambiente espacial. A análise desses dados permitirá aos cientistas entender melhor como os instrumentos respondem a diferentes condições espaciais, ajustando e otimizando seu desempenho para futuras missões. A localização e o momento do flyby foram ideais, pois a proximidade com a Terra e a Lua, cujas propriedades físicas são bem conhecidas, forneceu um ambiente de teste controlado e previsível.

Os dados coletados durante o flyby serão analisados nas próximas semanas, e espera-se que imagens e espectros de alta resolução sejam publicados em breve. Essas informações não apenas ajudarão na preparação para a chegada em Júpiter, mas também poderão revelar novas descobertas científicas sobre a Lua e a Terra. A missão Juice, com sua abordagem inovadora e detalhada, continua a expandir nosso conhecimento sobre o Sistema Solar e a preparar o caminho para futuras explorações espaciais.

Após o bem-sucedido flyby lunar-terrestre, a missão Juice da Agência Espacial Europeia (ESA) está agora em uma trajetória cuidadosamente calculada que a levará a uma série de eventos críticos antes de alcançar seu destino final, Júpiter. O próximo marco significativo na jornada da Juice é o flyby de Vênus, previsto para agosto de 2025. Este encontro com Vênus fornecerá um impulso gravitacional essencial, redirecionando a sonda de volta em direção à Terra para mais duas assistências gravitacionais, programadas para setembro de 2026 e janeiro de 2029.

Essas manobras são cruciais não apenas para economizar combustível, mas também para garantir que a Juice chegue a Júpiter com a velocidade e a trajetória corretas. A complexidade dessas assistências gravitacionais reflete a precisão e o planejamento meticuloso da equipe de dinâmica de voo da ESA, que tem trabalhado incansavelmente para garantir o sucesso da missão. Cada flyby é uma oportunidade para ajustar a trajetória da sonda, garantindo que ela esteja no caminho certo para sua missão científica principal.

Uma vez que a Juice alcance Júpiter em julho de 2031, a sonda iniciará uma série de 35 sobrevoos das três grandes luas geladas do planeta: Ganimedes, Calisto e Europa. Esses corpos celestes são de particular interesse para os cientistas devido à possibilidade de abrigarem oceanos subterrâneos, o que poderia potencialmente sustentar formas de vida. A Juice está equipada com um conjunto poderoso de instrumentos de sensoriamento remoto, geofísicos e in situ, projetados para estudar a composição, a estrutura e a atividade geológica dessas luas.

Além de investigar as luas, a Juice também monitorará o ambiente magnético, de radiação e de plasma de Júpiter, e como esses fatores interagem com suas luas. Este estudo abrangente do sistema joviano fornecerá insights valiosos não apenas sobre Júpiter, mas também sobre outros sistemas de gigantes gasosos no universo, servindo como um arquétipo para a compreensão desses corpos celestes.

A missão Juice representa um marco significativo na exploração espacial, combinando inovação tecnológica com objetivos científicos ambiciosos. A expectativa é que as descobertas feitas pela Juice possam revolucionar nossa compreensão sobre a habitabilidade de outros mundos e a formação dos sistemas planetários. À medida que a sonda se aproxima de seus encontros com Vênus e, eventualmente, Júpiter, a comunidade científica e o público em geral aguardam ansiosamente pelos dados e imagens que serão transmitidos de volta à Terra.

Em suma, a jornada da Juice é um testemunho do engenho humano e da busca incessante por conhecimento. Com cada flyby e cada ajuste de trajetória, nos aproximamos mais de desvendar os mistérios do nosso sistema solar e, potencialmente, de encontrar respostas para uma das perguntas mais profundas da humanidade: estamos sozinhos no universo?

Fontes:

https://www.esa.int/Science_Exploration/Space_Science/Juice/Juice_s_lunar-Earth_flyby_all_you_need_to_know

https://www.esa.int/Science_Exploration/Space_Science/Juice/Juice_rerouted_to_Venus_in_world_s_first_lunar-Earth_flyby

https://www.esa.int/ESA_Multimedia/Images/2024/08/Juice_snaps_Moon_en_route_to_Earth

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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