Por que estão dois grupos de pequenas criaturas marítimas chamadas de briozoários separados por 1500 milhas de gelo? Para isso ter acontecido eles precisaram ter viajado através do continente gelado há muito tempo atrás – em um grande caminho aberto no continente Antártico.
O briozoário é um organismo marinho simples que se acopla ao fundo oceano e filtra nutrientes da água ao seu redor. Existem muitas diferentes subespécies de briozoários, mas uma nova pesquisa sobre organismos antárticos identificou muitas similaridades entre duas populações distantes geograficamente. Ambas vivem na plataforma continental de gelo, espessas plataformas de gelo que são criadas quando as geleiras continentais alcançam o mar. Uma população está localizada na Plataforma de Gelo Ross e a outra na Plataforma de Gelo Weddell. Como é possível observar no mapa existe uma grande porção do continente antártico separando as duas populações. Então como explicar que essas duas espécies similares se localizam a distâncias tão grandes?
David Barnes, um cientista da British Antarctic Survey, explica por que os animais não poderiam ter simplesmente trabalhado um caminho ao redor da costa da Antártica, e por que eles precisavam na verdade ter viajado através do continente:
“Quando nós encontramos grupos de briozoários similares a centenas de milhas de distância sabíamos que estávamos de frente a algo muito interessante. Talvez essas espécies tenham sobrevivido a última era glacial, enquanto que em todas as outras regiões da Antártica elas foram destruídas. Nós sabemos que depois da última era glacial, grupos de briozoários dispersaram livremente entre muitas das regiões estudadas. Mas pelo fato das larvas desses animais afundarem e pelo fato desse estágio de suas vida ser curto – e a forma adulta desses organismos se ancorarem no fundo do mar – é muito pouco provável que eles tenham se dispersado por grandes distâncias sendo carregados pelas correntes oceânicas. Ambos os briozoários tanto nas plataformas continentais de Ross e Weddell, são mais comuns entre eles do que qualquer outra espécie encontrada entre os dois locais. Nossa conclusão é que a colonização de ambas as regiões é um sinal que os dois mares estavam conectados por um caminho trans-antártico em um passado recente”.
Esse caminho por dentro do continente teria sido aberto recentemente a 125000 anos atrás durante um período de aquecimento interglacial onde o nível dos mares estavam aproximadamente quinze pés mais elevado do que está atualmente. Nós não sabemos exatamente o processo que causou essa abertura, mas o processo ainda desconhecido criou uma abertura de mais de uma milha de largura no gelo sólido. A tese da existência dessa antiga passagem também levanta a questão de quão estável é o gelo da Antártica atualmente.
A calota de gelo do oeste da Antártica, que é a região onde essa passagem trans-antártica deve ter se aberto, é instável e corre o alto risco de se colapsar, pelo menos parcialmente como resultado do aquecimento global. Se essa calota de gelo colapsar, o nível global dos mares aumentaria de 10 a 15 pés o que poderia ser fatal para bilhões de pessoas que vivem em regiões costeiras. A descoberta dos briozoários, contudo, nos ajuda a entender melhor como o derretimento da Antártica se ajusta ao atual modelo de mudanças climáticas. Barnes explica:
“A calota de gelo oeste da Antártica pode ser considerada como o tendão de Aquiles do continente gelado e como qualquer colapso que acontecer afetará de forma global o nível dos mares é importante que os cientistas tenham um melhor entendimento sobre os grandes eventos de deglaciação. Essa evidência biológica é uma das novas maneiras de buscarmos pistas que nos ajudam a reconstruir a história da calota de gelo da Antártica. Nossa nova pesquisa fornece evidências de que essa passagem trans-antártica só poderia ter sido aberta se a calota de gelo tivesse entrado em colapso no passado”.
Fonte: