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18 de dezembro de 2024

Os Lagos do Satélite Titã, Migram para o Sul no Inverno?

Imaginem se toda a água dos Grandes Lagos americanos, fossem transferidas para o hemisfério sul, na forma de chuva e formassem novos lagos no Brasil. Então, milhares de anos depois o processo poderia se repetir com os lagos retornando para o hemisfério norte. Esse fenômeno é o que dizem os pesquisadores estar acontecendo no maior satélite de Saturno, Titã. Enetender esse processo poderia dar uma luz em como ciclos climáticos de longo período operam em outros mundos.

Os lagos de Titã, não são nada parecidos com os lagos encontrados na Terra. Embora, alguns deles sejam tão grandes e profundos como os lagos encontrados na Terra e por isso possuem denominações interessantes, como Lago Ontario, esses lagos são constituídos na sua maior parte por metano, que se torna líquido em temperaturas abaixo de -180 graus Celsius. Ainda mais estranho é a localização desses lagos, centenas deles se localizam no pólo norte de Titã, e nenhum lago foi observado próximo ao equador do satélite.

A assimetria dos lagos de Titã, como é chamado pelos pesquisadores, não é causada pela diferença topográfica. Mapeamentos feitos por radar da sonda Cassini da NASA, mostram que tanto o hemisfério norte como o sul possuem regiões onde o metano poderia se acumular. As diferenças observadas também não estão relacionadas com as variações sasonais de temperatura. Titã está no verão há 7 anos e nem isso foi capaz de fazer com que os lagos sofressem evaporação.

Em vez disso, os pesquisadores tentam defender a tese de que processos climáticos de longo período podem causar tais diferenças. Somente variações de longo período na órbita da Terra causada pela variação do eixo de rotação contribui para que o nosso planeta sofra a cada 100000 anos uma era glacial, um processo similar causa a mesma variação em Titã, a cada 45000 anos, de acordo com os pesquisadores. Porém, a hipótese mais concreta até o momento, diz que as ocilações climáticas de Titã parecem produzir uma total migração dos lagos de hidrocarboneto. Essa hipótese, afirma que, no fim de um desses ciclos, as altas temperaturas causadas pela inclinação do pólo de Titã em direção ao Sol evapora o metano localizado nos lagos. Então a circulação atmosférica  transporta os gases para o hemisfério oposto, onde eles condensam e caem novamente no planeta em forma de chuva, formando novos lagos. Aproximadamente na metade do período o processo volta a ocorrer de maneira reversa, os lagos evaporam do hemisfério sul e são novamente transportados para o hemisfério norte.

Embora, os pesquisadores tenham somente hipóteses sobre o que está acontecendo, algumas evidências observacionais podem existir, diz o cientista planetário e co-autor do trabalho, Jonathan Lumine da Universidade do Arizona. “O Lago Ontario tem se esvaziado nos últimos 5 anos de observação”, diz ele, “então nós aparentemente poderemos acompanhar esse processo de evaporação em tempo real”.

O artigo apresenta uma explicação plausível para a discrepância na distribuição dos lagos polares de Titã, diz a cientista planetária Ellen Stofan do Proxemy Research em Gaithersburg, Maryland, uma pequena empresa que realiza estudos planetários para a NASA. Mas, para realmente conhecer o que está acontecendo será necessário monitorar troca de metano entre os lagos e a atmosfera de Titã, e para isso será necessário num futuro próximo uma missão interplanetária que consiga pousar nos lagos.

A passagem da sonda Cassini pelo satélite, tem revelado muitos lagos de metano no hemisfério norte e poucos no hemisfério sul (manchas azuis).
A passagem da sonda Cassini pelo satélite, tem revelado muitos lagos de metano no hemisfério norte e poucos no hemisfério sul (manchas azuis).

(Fonte: http://sciencenow.sciencemag.org/cgi/content/full/2009/1130/2)

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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