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17 de novembro de 2024

Descoberto Primeiro Exoplaneta Extragaláctico

Utilizando o telescópio MPG/ESO de 2.2 metros instalado no Observatório de La Silla do ESO, no Chile, uma equipa europeia de astrônomos detectou um exoplaneta em órbita de uma estrela que entrou na nossa Via Láctea vinda de outra galáxia. O planeta do tipo de Júpiter é particularmente invulgar, já que orbita uma estrela que se aproxima do final da sua vida e pode ser engolido pela estrela a qualquer momento, fornecendo assim pistas importantes sobre o destino do nosso próprio sistema planetário num futuro distante.

Durante os últimos 15 anos os astrônomos detectaram cerca de 500 planetas em órbita de estrelas da nossa vizinhança cósmica, mas nunca nenhum foi confirmado fora da Via Láctea. Agora, no entanto, um planeta com uma massa mínima de 1.25 vezes a massa de Júpiter foi descoberto em órbita de uma estrela de origem extragaláctica, embora essa estrela se encontre atualmente no interior da nossa própria Galáxia. A estrela faz parte da chamada corrente de Helmi – um grupo de estrelas que pertenciam originalmente a uma galáxia anã que foi devorada pela nossa Galáxia, a Via Láctea, num ato de canibalismo galáctico há cerca de seis a nove mil milhões de anos. Estes resultados são hoje publicados na Science Express.

“Esta descoberta é muito emocionante,” diz Rainer Klement do Max-Planck-Institut für Astronomie (MPIA), responsável pela seleção das estrelas alvo para este estudo. “Pela primeira vez, os astrônomos detectaram um sistema planetário numa corrente estelar de origem extragaláctica. Devido às grandes distâncias envolvidas, não existem detecções confirmadas de planetas em outras galáxias. Mas esta fusão cósmica pôs ao nosso alcance um planeta extragaláctico.”

A estrela é conhecida por HIP 13044 e situa-se a cerca de 2000 anos-luz de distância na constelação austral da Fornalha. Os astrónomos detectaram o planeta, chamado HIP 13044 b, ao procurar minúsculas oscilações da estrela causadas pelo puxão gravitacional de um companheiro em órbita. Para obter estas medições tão precisas, a equipa utilizou o espectrógrafo de alta resolução FEROS montado no telescópio MPG/ESO de 2.2 metros situado no observatório de La Silla do ESO, no Chile.

Para o tornar ainda mais famoso, o HIP 13044 b é igualmente um dos poucos exoplanetas conhecidos que sobreviveu ao período de expansão da sua estrela hospedeira, depois desta gastar todo o hidrogénio do seu núcleo – a fase de gigante vermelha na evolução estelar. A estrela contraiu-se novamente e está agora a queimar hélio no seu centro. Até à data, estas estrelas do chamado ramo horizontal tinham-se mantido território bastante inexplorado para os caçadores de planetas.

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“Esta descoberta faz parte de um estudo no qual estamos sistematicamente à procura de exoplanetas que orbitem estrelas que se aproximam do final das suas vidas,” diz Johny Setiawan, também do MPIA, que liderou a equipe. “Esta descoberta é particularmente intrigante quando consideramos o futuro distante do nosso próprio sistema planetário, uma vez que o Sol também se tornará numa gigante vermelha dentro de cerca de cinco bilhões de anos.”

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O HIP 13044 b encontra-se próximo da sua estrela hospedeira. No ponto mais próximo da sua órbita elíptica, está a menos de um diâmetro estelar da superfície da estrela (o que corresponde a 0.55 vezes a distância Sol – Terra). Completa uma órbita em apenas 16.2 dias. Setiawan e colegas pensam que a órbita do planeta seria inicialmente muito maior, mas que se teria deslocado para o interior durante a fase de gigante vermelha.

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Planetas mais interiores não teriam tido tanta sorte. “A estrela gira de forma relativamente depressa para uma estrela do ramo horizontal,” diz Setiawan. “Uma explicação possível é que a HIP 13044 tenha engolido os seus planetas interiores durante a fase de gigante vermelha, o que fez que começasse a girar mais depressa.”

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Embora o HIP 13044 b tenha escapado até agora ao destino dos outros planetas interiores, a estrela irá expandir-se outra vez na próxima fase da sua evolução. HIP 13044 b pode por isso estar prestes a ser engolido pela estrela, o que significa que afinal sempre esteve condenado. Este fenômeno pode também predizer o desaparecimento dos nosso planetas exteriores – tais como Júpiter – quando o Sol se aproximar do final da sua vida.

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Esta estrela coloca-nos questões interessantes sobre a formação de planetas gigantes, já que parece conter poucos elementos mais pesados que o hidrogénio e o hélio – menos que qualquer outra estrela conhecida por albergar planetas. “Este é um dos mistérios que o modelo de formação de planetas geralmente aceito terá que explicar: como é que uma estrela que não contém praticamente nenhum elemento pesado pode ter formado um planeta? Os planetas em torno de estrelas como esta devem provavelmente formar-se de modo diferente,” acrescenta Setiawan.

Fonte:

http://www.eso.org/public/news/eso1045/

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Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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