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22 de dezembro de 2024

VLT Observa Par de Galáxias em Virgem Conhecido como Os Olhos


O Very Large Telescope do ESO obteve uma imagem extraordinária de um par de galáxias, bonitas mas incomuns, chamadas Os Olhos. A maior, NGC 4438, já foi uma galáxia espiral, mas entretanto sofreu deformações devido a colisões com outras galáxias nas últimas centenas de milhões de anos. Esta imagem é a primeira obtida no âmbito do programa Jóias Cósmicas do ESO, uma iniciativa através da qual o ESO concedeu tempo de telescópio para fins de divulgação.

Os Olhos situam-se a cerca de 50 milhões de anos-luz de distância na constelação da Virgem e encontram-se separados entre si de cerca de 100 000 anos-luz. O nome vem da aparente semelhança entre os núcleos deste par de galáxias – duas ovais brancas que parecem um par de olhos brilhando na escuridão, quando observados através de um telescópio de tamanho moderado.

Embora os centros destas duas galáxias sejam semelhantes, as regiões exteriores não podiam ser mais diferentes. A galáxia que se encontra no canto inferior direito da imagem, conhecida por NGC 4435, é compacta e parece ser praticamente desprovida de gás e poeira. Contrariamente, na galáxia grande da parte superior esquerda (NGC 4438) observa-se uma zona de poeira logo por baixo do núcleo, estrelas jovens à esquerda do centro e gás que se estende pelo menos até aos limites da imagem.

A NGC 4438 perdeu o seu conteúdo devido a um processo violento: uma colisão com outra galáxia. Este choque distorceu a forma espiral da galáxia, tal como poderá acontecer com a Via Láctea quando esta colidir com a sua galáxia vizinha Andrômeda daqui a três ou quatro bilhões de anos.

A NGC 4435 pode ser a culpada dessa situação. Alguns astrônomos pensam que a deformação da NGC 4438 resultou de uma aproximação de cerca de 16 000 anos-luz entre estas duas galáxias, fenômeno que teria acontecido há 100 milhões de anos. Mas enquanto a galáxia maior sofreu apenas algumas deformações, a menor foi significativamente mais afetada pela colisão. As forças de maré originadas pelo choque são as prováveis responsáveis por arrancar conteúdo da NGC 4438, reduzir a massa da NGC 4435 e remover a maior parte do seu gás e poeira.

Outra possibilidade é que tenha sido a galáxia gigante elíptica Messier 86, mais afastada dos Olhos e não visível na imagem, a responsável pelas deformações da NGC 4438. Observações recentes encontraram filamentos de hidrogênio ionizado ligando as duas galáxias, indicando que estas podem ter colidido no passado.

A galáxia elíptica Messier 86 e os Olhos pertencem ao aglomerado de Virgem, um agrupamento de galáxias muito rico. Em zonas tão populosas como esta as colisões de galáxias são relativamente frequentes, por isso talvez a NGC 4438 tenha sofrido encontros tanto com a NGC 4435 como com a Messier 86.

Esta imagem é a primeira a ser produzida no âmbito do programa Jóias Cósmicas do ESO, uma nova iniciativa que pretende obter imagens astronômicas para fins de educação e divulgação científica. O programa aproveita essencialmente o tempo em que o céu não se encontra em condições aceitáveis para observações científicas, para obter imagens de objetos interessantes, intrigantes ou visualmente atrativos. Os dados são igualmente postos à disposição dos astrônomos profissionais através do arquivo científico do ESO.

Neste caso, embora houvessem algumas nuvens, a atmosfera encontrava-se excepcionalmente estável, o que permitiu revelar muitos detalhes nestes objetos. Os dados foram obtidos com o instrumento FORS2 [1] montado no VLT e na composição da imagem utilizou-se radiação captada com dois filtros distintos: vermelho (dados mostrados a vermelho na imagem) e verde-amarelo (a azul na imagem). Os tempos de exposição foram de 1800 e 1980 segundos, respectivamente.

Notas

[1] FORS2 (sigla do inglês, FOcal Reducer and low dispersion Spectrograph) é um espectrógrafo montado no telescópio 1 do VLT, que trabalha na região de comprimentos de onda do visível e ultravioleta próximo.


Fonte:

http://www.eso.org/public/news/eso1131/

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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