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Via Láctea Cresce Devorando Outras Galáxias

Os astrônomos têm obtido novas evidências de que a Via Láctea possui pedaços de muitas outras galáxias. Os achados fortalecem a idéia de que grandes galáxias não emergem inteiramente de uma única e gigantesca nuvem de gás e poeira, mas elas crescem devorando galáxias vizinhas.

As pistas para essa descoberta são provenientes dos aglomerados globulares – concentrações esféricas com milhões de estrelas, orbitando o centro galáctico. Juntamente com os enormes braços espirais os aglomerados globulares podem ser considerados uma das feições mais impressionantes da nossa galáxia. Até então, os astrônomos pensavam que esses aglomerados se formavam a partir da concentração de gás e poeira no início de vida da Via Láctea. Porém, dois artigos na revista Nature dessa semana mostram algo totalmente novo.

Em um dos artigos, uma equipe de astrônomos Koreanos mediu o conteúdo de cálcio de estrelas em 37 dos 158 aglomerados globulares conhecidos na Via Láctea. Metade deles continham quantidades significantes do elemento, indicando que eles se formaram a partir de uma supernova, uma explosão titânica de estrelas gigantes que fabricaram em seus núcleos elementos pesados como o cálcio. Essa descoberta é significante, diz o principal autor do artigo Jae-Woo Lee da Universidade Sejong em Seoul, pois indica que os aglomerados globulares já foram muito maiores do que se apresentam hoje em dia. Por outro lado, esses aglomerados não exerceram força gravitacional suficiente para aprisionar as partes remanescentes da supernova de modo que pudessem se condensar formando novas estrelas. “Isso nos leva a acreditar que muitos dos aglomerados estudados se parecem mais com relíquias de galáxias anãs  massivas que se fundiram com a Via Láctea” , diz ele.

No segundo artigo uma equipe internacional encontrou evidências para essas idéisas em um aglomerado globular chamado Terzan 5. Localizado acima do centro da Via Láctea, numa região conhecida como bojo galáctico, o aglomerado possui grande quantidade de pulsares, que são objetos que giram rapidamente e são ultradensos, resultados da explosão de uma supernova. Análises químicas revelaram que o material ejetado nessas explosões ao invés de escapar do aglomerado em alta velocidade, ficam presos ao redor formando novas estrelas. Para que isso aconteça é necessário que a gravidade da galáxia seja 1000 vezes maior que a gravidade atual do Terzan 5. Como no outro estudo a melhor explicação é que o Terzan 5, foi uma galáxia muito maior e que foi devorada pela Via Láctea, diz o principal autor Francesco Ferraro da Universidade de Bologna na Itália. Quando o Terzan 5 e outras galáxias anãs se fundiram à Via Láctea, explica ele, a colisão expulsou muitas estrelas, deixando os aglomerados muito menores, como são vistos hoje.

Ferraro diz que estudos futuros sobre os aglomerados globulares devem produzir mais surpresas. “Esses sistemas são verdadeiras minas de ouro de informação” , diz ele, “e a cada dia que os observamos temos novas surpresas e novos segredos são revelados”.

As descobertas podem mudar as premissas prévias dos aglomerados globulares, diz o astrônomo David Weinberg da Universidade de Ohio. Pesquisadores, pensam normalmente que um dos aglomerados da Via Láctea, Omega Centauro, foi uma anomalia da própria galáxia. Agora, diz Weinberg, “parece que as anomalias estão se tornando comuns”.

Aglomerados globulares como o Terzan 5 e o M22 (em destaque) são restos de outras galáxias devoradas pela Via Láctea.
Aglomerados globulares como o Terzan 5 e o M22 (em destaque) são restos de outras galáxias devoradas pela Via Láctea.

(Fonte: http://sciencenow.sciencemag.org/cgi/content/full/2009/1125/2)

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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