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22 de novembro de 2024

Vergonha, Decepção e Depressão – O que Fazer Com a Ciência no Brasil: Deputado do PSB Veta Acordo Científico Brasil-ESO

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observatory_1501051A luta política parece gostar de primar pela mediocridade. Diante da possibilidade de participar de um projeto de pesquisa tecnológica, que estimula a indústria nacional a desenvolver equipamentos de grande valor agregado, um deputado prefere a quebra de um acordo internacional em vias de implantação. Sua argumentação é repisadamente antiga e reiteradamente falsa: não se deve investir em ciência de ponta porque há grandes problemas nacionais (entre os quais a “corrupção”). Se formos esperar para resolver todos os problemas nacionais antes de ousar participar de grandes projetos internacionais, estaremos condenados a ficar para sempre na rabeira das nações industrializadas. Não há, de fato, perspectiva de horizonte aos que apenas insistem em olhar a sujeira do próprio umbigo.

É, no mínimo, bizarro que um deputado do PSB avance para tentar derrubar o acordo que foi idealizado e costurado pelo ex-ministro Sérgio Rezende, do seu próprio partido, o qual foi durante anos responsável pela pasta de C&T ao longo dos governos petistas.

Aos que não sabem, o acordo de adesão do Brasil à ESO prevê que uma parte grande dos custos retorne ao país através de contratos na indústria civil. A Astronomia pode parecer uma “ciência do outro mundo”, mas suas necessidades de equipamento são um estímulo constante ao desenvolvimento e elaboração de novas tecnologias de detetores, ótica, semicondutores, soluções de engenharia, entre outros. A ESO só faz contratos com empresas dos países membros, status que está sendo pleiteado pelo país.

O que é mais grave: a ESO já cede tempo aos pesquisadores brasileiros, nos termos do acordo, uma vez que as autoridades do governo desde 2010 acenaram com sua aprovação em diversas ocasiões. O cancelamento do acordo seria um vexame internacional, tal como foi a expulsão do Brasil da Estação Espacial Internacional, anos atrás, por falta de pagamento (http://www.pampalivre.info/brasil_expulso_do_projeto_da_estacao_espacial…). O deputado não parece perceber que um segundo vexame internacional prejudica qualquer novo pleito do país para participação em projetos científicos internacionais, afetando inclusive os projetos de outras áreas da ciência.

A retirada da pauta que prevê estudos astronômicos no Hemisfério Austral, pelo deputado Fábio Garcia (PSB) na Câmara Federal, no último dia 05, está causando controvérsia e desconforto entre estudiosos do Brasil e União Europeia. Trata-se de um projeto que propõe um investimento de R$ 800 milhões ao país, de Decreto Legislativo (1287/2013), cujo Brasil será o 15º país membro – o primeiro não europeu, nesta empreitada.

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Este acordo foi relatado pelo então deputado Jorge Bittar (PT-RJ) na Comissão de Ciência e Tecnologia em 2014, para o funcionamento de um telescópio de 39 metros de diâmetro cujo projeto está atualmente em fase de detalhamento.

Será o maior “olho” do mundo para o espaço. Isso porque, sendo um telescópio extremamente grande, vai propiciar um enorme avanço no conhecimento astrofísico, permitido, a partir do Chile.

Lá ficará alocado estudos detalhados a respeito de exoplanetas, os primeiros objetos do Universo, super-buracos negros, e a natureza e distribuição da matéria escura e energia escura.

“O parlamentar mato-grossense alegou que o país não pode gastar R$ 800 milhões com pesquisas astronômicas enquanto o povo brasileiro sofre com a ausência de Saúde, Educação e segurança pública de qualidade”, destaca o diretor presidente do Planetário Via-Láctea de Cuiabá/MT, Carlos Wagner Ribeiro.

Para ele este descarte é um absurdo, tendo o Brasil fora desse contexto. Ribeiro acrescenta ainda que há verbas de impostos alocadas para as áreas que o parlamentar lembra serem prioritárias como a Saúde, a Educação e a Segurança.

“Contudo, milhões são desviados para a corrupção e muito pouco é feito, problema, este sim, que deve ser combatido veementemente na tribuna da Câmara Federal e não a busca pelo conhecimento, que, afinal, é uma forma de incremento à educação e não um desperdício para o País”, disse Ribeiro, que há anos pesquisa o assunto e tenta trazer conhecimento sempre atualizado para o Estado.

A contribuição do Brasil deveria ser de € 270 milhões em 10 anos, mas o congresso começou a travar esse investimento que garantiria ao Brasil o acesso as maiores descobertas astronômicas jamais realizadas até então.

Desde então a entidade responsável pelo telescópio, o Observatório Europeu do Sul (OES – em inglê: European Southern Observatory – ESO), já realizou importantes descobertas astronômicas e produziu diversos catálogos do segmento financiado por: Alemanha, Áustria, Bélgica, Brasil, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Holanda, Itália, Portugal, Reino Unido, República Checa, Suécia e Suíça.

Por que no Chile?

O Chile foi o local escolhido por apresentar as melhores condições para observação astronômica a partir da Terra, pois o mesmo é cercado pelas cordilheiras dos Andes e altas montanhas secundárias, nas adjacências do deserto com raras gotas de chuva e mais de 300 noites de céu limpo.

O Atacama é considerado um dos melhores lugares do planeta para observação do céu devido às condições favoráveis como os mais de 2,4 mil metros de altitude, baixa umidade local e pouca luminosidade artificial.

Outro Lado

A reportagem tentou falar com o deputado Fábio Garcia para detalhar sua postura diante do veto, mas não obteve êxito.

Fonte:

http://jornalggn.com.br/fora-pauta/deputado-do-psb-veta-acordo-cientifico-brasil-eso

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Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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