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26 de dezembro de 2024

Varrendo o pó de uma lagosta cósmica

Esta imagem obtida pelo telescópio VISTA do ESO capturou uma paisagem celeste de nuvens brilhantes de gás e filamentos de poeira que rodeiam estrelas quentes jovens. Esta imagem infravermelha revela de maneira surpreendente a maternidade estelar NGC 6357. A imagem foi obtida no âmbito do rastreio VVV do VISTA (Variáveis VISTA na Via Láctea), que mapeia atualmente a Via Láctea no intuito de determinar a sua estrutura e explicar como é que esta se formou. Crédito: ESO/VVV Survey/D. Minniti. Acknowledgement: Ignacio Toledo
Esta imagem obtida pelo telescópio VISTA do ESO capturou uma paisagem celeste de nuvens brilhantes de gás e filamentos de poeira que rodeiam estrelas quentes jovens. Esta imagem infravermelha revela de maneira surpreendente a maternidade estelar NGC 6357. A imagem foi obtida no âmbito do rastreio VVV do VISTA (Variáveis VISTA na Via Láctea), que mapeia atualmente a Via Láctea no intuito de determinar a sua estrutura e explicar como é que esta se formou.
Crédito:
ESO/VVV Survey/D. Minniti. Acknowledgement: Ignacio Toledo

observatory_150105Esta nova imagem obtida pelo telescópio VISTA do ESO capturou uma paisagem celeste de nuvens brilhantes de gás e filamentos de poeira que rodeiam estrelas quentes jovens. Esta imagem infravermelha revela-nos de maneira surpreendente a maternidade estelar NGC 6357. A imagem foi obtida no âmbito de um rastreio VISTA, que mapeia atualmente a Via Láctea no intuito de determinar sua estrutura e explicar como é que esta se formou.

Situada a cerca de 8000 anos-luz de distância na constelação do Escorpião, NGC 6357 – também chamada Nebulosa da Lagosta[1] devido à sua aparência em imagens no visível – é uma região repleta de enormes nuvens de gás e filamentos de poeira escura. Estas nuvens estão a formar estrelas, incluindo estrelas quentes de grande massa, que brilham em tons azuis-esbranquiçados no visível.

Esta imagem foi composta a partir de dados infravermelhos obtidos pelo telescópio VISTA do ESO – Visible and Infrared Survey Telescope for Astronomy, situado no Observatório do Paranal, no Chile. A imagem faz parte de um enorme rastreio chamado Variáveis VISTA na Via Láctea (VVV), que se encontra atualmente a mapear as regiões centrais da Galáxia (eso1242). Esta nova imagem mostra algo dramaticamente diferente do observado em imagens no visível – como por exemplo na imagem obtida pelo telescópio dinamarquês de 1,5 metros em La Silla – já que a radiação infravermelha consegue penetrar muita da poeira que envolve o objeto [2].

Este mapa mostra a localização de NGC 6357 na constelação do Escorpião. O mapa mostra a maioria das estrelas visíveis a olho nu sob boas condições de observação. NGC 6357 propriamente dita está marcada com um círculo vermelho na imagem. Embora esta maternidade estelar esteja bem proeminente em imagens é, no entanto, visualmente fraca, necessitando de um grande telescópio para poder ser bem observada.  Crédito: ESO, IAU and Sky & Telescope
Este mapa mostra a localização de NGC 6357 na constelação do Escorpião. O mapa mostra a maioria das estrelas visíveis a olho nu sob boas condições de observação. NGC 6357 propriamente dita está marcada com um círculo vermelho na imagem. Embora esta maternidade estelar esteja bem proeminente em imagens é, no entanto, visualmente fraca, necessitando de um grande telescópio para poder ser bem observada.
Crédito:
ESO, IAU and Sky & Telescope

Uma das estrelas jovens brilhantes em NGC 6357, conhecida por Pismis 24-1, levou os astrônomos a pensar que se tratava da maior estrela conhecida – até que se descobriu que ela é, na realidade, composta por, pelo menos, três enormes estrelas muito brilhantes, cada uma com uma massa inferior a 100 massas solares. Ainda assim, estas estrelas são pesos pesados – fazendo parte das estrelas de maior massa existentes na Via Láctea. A Pismis 24-1 é o objeto mais brilhante no aglomerado estelar Pismis 24, um grupo de estrelas que se pensa terem sido formadas todas ao mesmo tempo no seio de NGC 6357.

O VISTA é o maior e mais poderoso telescópio de rastreio jáconstruído, dedicando-se a mapear o céu no infravermelho. O rastreio VVV encontra-se a mapear o bojo central e parte do plano da nossa galáxia, de modo a criar uma enorme base de dados que ajudará os astrônomos a descobrir mais sobre a origem, vida inicial e estrutura da Via Láctea.

Partes da NGC 6357 foram também observadas pelo Telescópio Espacial Hubble da NASA/ESA (heic0619a) e pelo Very Large Telescope do ESO (eso1226a). Ambos os telescópios obtiveram imagens no visível de várias partes da região – comparando essas imagens com esta nova imagem infravermelha podemos ver algumas diferenças interessantes. No infravermelho as enormes plumas de material de tom avermelhado estão muito mais reduzidas, com filamentos de gás púrpura pálido que se estendem para além da nebulosa em diversas áreas.

Parte da constelação do Escorpião centrada na NGC 6357, a qual tem o aglomerado estelar Pismis 24 no seu centro. Esta imagem é uma composição a cores obtida pelo Digitized Sky Survey (DSS). O tamanho do campo é 3,8 x 3,3 graus.  Crédito: Davide De Martin (ESA/Hubble), the ESA/ESO/NASA Photoshop FITS Liberator & Digitized Sky Survey 2
Parte da constelação do Escorpião centrada na NGC 6357, a qual tem o aglomerado estelar Pismis 24 no seu centro. Esta imagem é uma composição a cores obtida pelo Digitized Sky Survey (DSS). O tamanho do campo é 3,8 x 3,3 graus.
Crédito:
Davide De Martin (ESA/Hubble), the ESA/ESO/NASA Photoshop FITS Liberator & Digitized Sky Survey 2

Notas

[1] O nome informal de Nebulosa da Lagosta é também por vezes dado à região de formação estelar Messier 17 (eso0925), embora este último objeto seja mais frequentemente conhecido por Nebulosa Ômega.

[2] As observações infravermelhas conseguem revelar-nos estruturas que não se poderiam ver em imagens no visível, isto porque um objeto é, por exemplo, demasiado frio, está obscurecido por poeira espessa, ou encontra-se muito distante, sendo que neste último caso a sua radiação foi esticada pela expansão do Universo, tendo-se deslocado por isso na direção da região vermelha do espectro electromagnético.

Esta imagem mostra uma comparação entre observações no infravermelho e no visível da Nebulosa da Lagosta (NGC 6357). A imagem no visível (à esquerda) foi criada a partir de dados do Digitized Sky Survey 2. A nova imagem infravermelha (à direita) foi obtida pelo telescópio VISTA, situado no Observatório do Paranal do ESO. No infravermelho, a poeira que obscurece muitas estrelas torna-se praticamente transparente, revelando um enorme quantidade de novas estrelas que seriam de outro modo invisíveis. Crédito: ESO/VVV Survey/Digitized Sky Survey 2/D. Minniti. Acknowledgement: Ignacio Toledo
Esta imagem mostra uma comparação entre observações no infravermelho e no visível da Nebulosa da Lagosta (NGC 6357). A imagem no visível (à esquerda) foi criada a partir de dados do Digitized Sky Survey 2. A nova imagem infravermelha (à direita) foi obtida pelo telescópio VISTA, situado no Observatório do Paranal do ESO. No infravermelho, a poeira que obscurece muitas estrelas torna-se praticamente transparente, revelando um enorme quantidade de novas estrelas que seriam de outro modo invisíveis.
Crédito:
ESO/VVV Survey/Digitized Sky Survey 2/D. Minniti. Acknowledgement: Ignacio Toledo

Mais Informações

O ESO é a mais importante organização europeia intergovernamental para a pesquisa em astronomia e é o observatório astronômico mais produtivo do mundo. O ESO é  financiado por 15 países: Alemanha, Áustria, Bélgica, Brasil, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Holanda, Itália, Portugal, Reino Unido, República Checa, Suécia e Suíça. O ESO destaca-se por levar a cabo um programa de trabalhos ambicioso, focado na concepção, construção e funcionamento de observatórios astronômicos terrestres de ponta, que possibilitam aos astrônomos importantes descobertas científicas. O ESO também tem um papel importante na promoção e organização de cooperação nas pesquisas astronômicas. O ESO mantém em funcionamento três observatórios de ponta, no Chile: La Silla, Paranal e Chajnantor. No Paranal, o ESO opera  o Very Large Telescope, o observatório astronômico óptico mais avançado do mundo e dois telescópios de rastreio. O VISTA, o maior telescópio de rastreio do mundo que trabalha no infravermelho e o VLT Survey Telescope, o maior telescópio concebido exclusivamente para mapear os céus no visível. O ESO é o parceiro europeu do revolucionário telescópio  ALMA, o maior projeto astronômico que existe atualmente. O ESO está planejando o European Extremely Large Telescope, E-ELT, um telescópio de 39 metros que observará na banda do visível e infravermelho próximo. O E-ELT será “o maior olho no céu do mundo”.

Fonte:

http://www.eso.org/public/brazil/news/eso1309/

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Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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