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Uma Possível Explicação Sobre o Encolhimento do Planeta Mercúrio

Mercúrio é um misterioso mundo pequeno. Muitas feições na sua superfície mostram evidências que desde a sua formação o resfriamento do seu núcleo está fazendo com que o todo planeta encolha entre 5 e 10 km, mas para que esse encolhimento aconteça, o calor precisa estar escapando. Uma série de simulações mostram agora que o calor pode estar viajando do núcleo de Mercúrio através do manto por meio de dutos de calor.

Muitos dos nossos modelos sobre a história inicial de Mercúrio falham ao tentar explicar todas essas características que observamos atualmente. Por exemplo, as marcas deixadas para trás pela contração do planeta, sugere que a maior parte desse processo aconteceu nos primeiros 500 milhões de anos depois da formação de Mercúrio, antes de continuar numa taxa bem menor.

Os pesquisadores analisaram imagens da superfície de Mercúrio feitas pelas sondas MESSENGER e Mariner 10 e rodaram 2430 simulações da evolução de Mercúrio, mudando parâmetros incluindo as temperaturas iniciais do núcleo e do manto e os tipos de materiais que constituem essas camadas, para então determinar as características que podem ter formado o planeta.

Tudo sobre Mercúrio é um pouco estranho, existem partes que não se ajustam muito bem, e esse novo trabalho tenta integrar os dados e criar modelos que possam explicá-los.

Rochas magnéticas na crosta demonstram que o planeta teve um campo magnético global no mesmo tempo em que passou por um período de rápida contração, mas não se sabe como o campo magnético era sustentado. Campos magnéticos planetários normalmente se formam devido aos núcleos derretidos que criam um fenômeno conhecido como dínamo magnético. Sem considerar o vulcanismo, o núcleo primordial de Mercúrio não teria calor suficiente para manter um campo magnético.

Mas se o magma viajou do núcleo do planeta através do manto, finalmente se solidificando para formar a crosta na superfície, isso poderia ter agitado o núcleo do planeta. Normalmente, os vulcões são abastecidos por pequenas veias de magmas, chamadas de diques, mas Mercúrio pode ter sido resfriado pela rocha derretida fluindo através tubos maiores, chamados de dutos de calor.

Existe tanto derretimento sendo gerado que o interior do planeta pode ter se transformado num mega dique que foi realmente eficiente para tirar o calor do seu interior.

Os pesquisadores descobriram que o magma fluindo para a superfície de Mercúrio nos dutos de calor poderia ter esfriado o manto rapidamente, explicando assim, porque o planeta encolheu tão rapidamente nos seus primeiros anos de vida.

Incluindo os dutos de calor, o modelo de como o calor em Mercúrio mudou com o passar do tempo faz um belo trabalho ao prever as características observadas atualmente na superfície do planeta.

O resfriamento do manto poderia ter criado um gradiente de temperatura dentro do planeta que aumentaria a agitação do núcleo. O resfriamento precoce do manto associado com o vulcanismo reformando a superfície pode ser um processo muito bom para manter o dínamo em funcionamento. Entender como o campo magnético primordial de Mercúrio trabalhava pode nos ajudar a explicar como esse campo magnético é mantido até hoje.

Fonte:

https://www.newscientist.com/article/2272035-mercury-may-have-shrunk-because-magma-was-being-piped-to-the-surface/

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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