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23 de dezembro de 2024

Um Oceano Efervescente em Encélado

Por anos, os pesquisadores têm debatido se Encélado, uma pequena lua que flutua fora dos anéis de Saturno, é o lar de um vasto oceano em subsuperfície. Ele é úmido ou não? Agora, novas evidências estão estabelecendo as escalas. Não somente Encélado provavelmente tem um oceano, mas esse oceano provavelmente é espumante como uma bebida e poderia ser um local amigável para o desenvolvimento da vida microbiana.

A história começou em 2005 quando a sonda Cassini da NASA voou por Encélado em um encontro imediato.

“Os geofísicos esperam que esse pequeno mundo seja um pedaço de gelo, frio, morto e sem interesse”, disse Dennis Matson do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA. “Mas, devemos assumir, ficamos surpresos”!

A Cassini encontrou a pequena lua ocupada lançando plumas de vapor d’água, partículas de gelo e compostos orgânicos através de fissuras (agora essas fissuras receberam o nome de listras de tigre) em sua carapaça congelada. Mimas, uma lua próxima que tem aproximadamente o mesmo tamanho estava morta como pensavam os pesquisadores, mas Encélado está bem ativo.

Muitos pesquisadores veem o jatos de gelo como prova da existência de um grande corpo de água subterrâneo. Bolsões de água líquida próximos à superfície com temperatura próxima dos 32 graus Fahrenheit poderiam explicar as plumas molhadas. Mas existem problemas com essa história. Por exemplo, onde está o sal?

Nos sobrevoos iniciais, os instrumentos da Cassini detectaram carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio e vários outros tipos de hidrocarbonetos nas plumas de gás. Mas nenhum desses elementos continha sal que deve estar presente no oceano.

Em 2009, o analisador de poeira cósmica da Cassini localizou o sal perdido, em um lugar surpreendente.

“Não foi na pluma de gás onde eles estavam procurando”, disse Matson. “Ao invés disso, sais de sódio e potássio e carbonatos foram observados nas partículas de gelo das plumas. E a fonte dessas substâncias tinha que ser o oceano. Porções dissolvidas em um oceano são similares aos conteúdos desses grãos”.

As últimas observações da Cassini apresentaram outra intrigante descoberta: medidas térmicas revelam fissuras com temperaturas muito altas, em torno dos 120 graus Fahrenheit.

“Essa descoberta reinicia nossos relógios”, disse Matson. “As temperaturas nesse patamar devem ter origem vulcânica. O calor precisa fluir do interior, o suficiente para derreter uma parte do gelo em subsuperfície, criando bolsões de água subterrânea”.

Os achados têm levado os cientistas a ponderar como os conteúdos de um oceano capeado pela crosta de gelo com espessura de dezenas de milha podem alcançar a superfície.

“Você já agitou uma lata de refrigerante e viu como forma um spray quando você abre a lata”? pergunta Matson.

O modelo proposto por ele por seus colegas sugere que os gases dissolvidos na água abaixo da superfície forma bolhas. Como a densidade da água gasosa resultante é menor do que a do gelo, o líquido ascende rapidamente através do gelo até a superfície.

“A maior parte da água se dispersa durante o caminho e aquece uma fina camada de gelo superficial que tem aproximadamente 300 pés de espessura”, explica Matson. “Mas alguma parte dessa água coletada nas câmaras em subsuperfície eleva a pressão e então explode através de pequenos buracos no solo, como o refrigerante que sai da lata quando ela é aberta. À medida que a água remanescente esfria, ela percola de volta para o oceano e começa todo o percurso novamente”.

Outro mistério ainda persiste: “De onde vem o calor desse pequeno corpo”? pergunta Larry Esposito da University of Colorado. “Nós acreditamos que o aquecimento de maré possa estar contribuindo”.

A força gravitacional poderosa de Saturno na verdade faz com que a forma de Encélado mude um pouco à medida que o satélite orbita o planeta. Movimentos flexurais no interior da lua geram o calor – como o calor que você sente em um clipes quando fica fazendo movimentos rápidos para cima e para baixo. Nesse modelo, o poder da fricção interna energiza a atividade vulcânica que aquece e derrete o gelo.

“É claro agora que, qualquer que seja a maneira com a qual o satélite está produzindo o calor, Encélado possui muitos requerimentos para a vida”, diz Esposito. “Nós sabemos que ele tem um oceano líquido, compostos orgânicos, e uma fonte de energia. E no topo de tudo isso, nós sabemos conhecemos organismos vivos na Terra que vivem em condições semelhantes”.

Ninguém sabe ao certo o que está acontecendo abaixo do gelo, mas parece que essa pequena lua tem algo a nos dizer: erupção de jatos, um oceano em subsuperfície, a possibilidade da vida.

E nós que pensávamos que esse era um lugar morto e desinteressante.

Fonte:

http://science.nasa.gov/science-news/science-at-nasa/2011/26jan_fizzyocean/

 

 

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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