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Um Exoplaneta Que Pode Nos Ensinar Muito Sobre Habitabilidade

A astrobiologia é o estudo da origem, evolução e distribuição da vida no universo. Uma das questões centrais dessa ciência é se existe vida fora da Terra e, se sim, como ela é e onde podemos encontrá-la. Para isso, os astrobiólogos procuram por planetas que tenham condições favoráveis à vida, ou seja, que estejam na chamada zona habitável de suas estrelas.

A zona habitável é a região ao redor de uma estrela onde um planeta pode ter água líquida em sua superfície, um requisito essencial para a vida como a conhecemos. Essa região depende do tipo e da luminosidade da estrela, bem como da distância e do tamanho do planeta. Quanto mais perto um planeta está de sua estrela, mais quente ele fica e mais risco ele corre de perder sua água e sua atmosfera por evaporação ou erosão. Quanto mais longe um planeta está de sua estrela, mais frio ele fica e mais risco ele corre de congelar sua água e sua atmosfera por condensação ou sublimação.

Mas qual é o limite entre esses dois extremos? Até que ponto um planeta pode estar perto de uma estrela e ainda manter água e vida? Essa é uma questão que ainda não tem uma resposta definitiva, mas que pode ser esclarecida por um exoplaneta recém-descoberto chamado LP 890-9c.

O universo é um lugar vasto e misterioso, e uma das questões que mais intriga os cientistas é a possibilidade de vida em outros planetas. Recentemente, um exoplaneta chamado LP 890-9c foi descoberto e tem chamado a atenção da comunidade científica. Este exoplaneta pode ajudar a resolver o enigma de quão perto um planeta rochoso pode estar de uma estrela e ainda sustentar água e vida.

O que é LP 890-9c?

LP 890-9c é uma das duas super-Terras orbitando uma estrela anã vermelha localizada a 100 anos-luz da Terra. Os super-Terras são planetas rochosos que têm entre 1,25 e 2 vezes o raio da Terra e entre 2 e 10 vezes a massa da Terra. Eles são considerados bons candidatos para abrigar vida, pois podem ter uma gravidade suficiente para reter uma atmosfera espessa e um campo magnético protetor.

LP 890-9c foi descoberto em 2020 pelo telescópio espacial TESS (Transiting Exoplanet Survey Satellite), que detectou as pequenas variações no brilho da estrela causadas pelo trânsito do planeta em frente a ela. O trânsito também permitiu estimar o tamanho do planeta, que é cerca de 40% maior que a Terra. Já a massa do planeta foi determinada pelo método da velocidade radial, que mede o efeito gravitacional do planeta sobre a estrela.

O que torna LP 890-9c tão interessante é que ele orbita perto da borda interna da zona habitável de seu sistema solar. Ele circula a pequena estrela fria em apenas 8,5 dias, recebendo cerca de 2 vezes mais luz do que a Terra recebe do Sol. Isso significa que ele está exposto a altas temperaturas e radiações, que podem afetar sua atmosfera e sua superfície.

A Importância da Descoberta

A pesquisa sobre LP 890-9c foi liderada por Lisa Kaltenegger, professora associada de astronomia na Universidade de Cornell. Segundo ela, este planeta pode fornecer informações cruciais sobre as condições na borda interna da zona habitável de uma estrela. Dependendo de suas características atuais, o planeta pode ter oceanos quentes, uma atmosfera de vapor, ou pode ter perdido toda a sua água.

Detalhes da Pesquisa

Kaltenegger é a autora principal do artigo intitulado “Hot Earth or Young Venus? A Nearby Transiting Rocky Planet Mystery”, que foi publicado no Monthly Notices of the Royal Astronomical Society: Letters. O artigo detalha as descobertas sobre LP 890-9c, que é um dos dois super-Terras orbitando uma estrela anã vermelha a cerca de 100 anos-luz da Terra.

O planeta é aproximadamente 40% maior que a Terra e completa uma órbita em torno de sua estrela em apenas 8,5 dias. Acredita-se que água líquida ou uma atmosfera rica em vapor d’água seja possível em LP 890-9c.

Um Alvo para o Telescópio Espacial James Webb

LP 890-9c é considerado um dos melhores alvos para o Telescópio Espacial James Webb (JWST) estudar entre os planetas terrestres potencialmente habitáveis conhecidos. Os modelos desenvolvidos pela equipe de Kaltenegger são os primeiros a detalhar diferenças nas assinaturas químicas geradas por planetas rochosos perto da fronteira interior da zona habitável.

Cenários de Evolução

Os modelos consideram vários cenários que refletem diferentes estágios da evolução dos planetas rochosos, variando desde uma “Terra quente”, onde a vida ainda pode ser possível, até uma Vênus desolada com uma atmosfera de dióxido de carbono.

LP 890-9c oferece uma rara oportunidade de explorar essa evolução em tempo real. É o primeiro alvo onde podemos testar esses diferentes cenários e entender melhor como os planetas rochosos evoluem com o aumento da luz das estrelrelas. Isso é especialmente relevante, pois a Terra também deve passar por fases semelhantes à medida que o Sol fica mais brilhante e quente com a idade, o que fará com que os oceanos evaporem gradualmente e encham a atmosfera com vapor antes de ferver completamente.

O Que Esperar?

Ainda não sabemos exatamente como é LP 890-9c. Se ainda for uma Terra mais quente, isso pode indicar que o cronograma de evolução é mais lento do que pensávamos. Se já for semelhante a Vênus, isso pode sugerir que a água se perde rapidamente em tais condições.

Há também a possibilidade de que LP 890-9c não tenha atmosfera e, portanto, não seja capaz de hospedar vida. Alternativamente, pode se assemelhar a uma Vênus com nuvens espessas que bloqueiam a luz refletida e fornecem pouca informação sobre suas características.

A Verdadeira Exploração

Uma investigação mais profunda de LP 890-9c promete fornecer pistas valiosas sobre a evolução dos planetas rochosos e as condições necessárias para a habitabilidade. Como Kaltenegger afirma, não sabemos como pode ser esse planeta na borda da habitabilidade, então temos que olhar. Isso é o que a verdadeira exploração significa.

Mas por que isso é importante? Porque LP 890-9c pode ser a chave para resolver o mistério de quão perto um planeta rochoso pode estar de uma estrela e ainda sustentar água e vida. Ele nos dirá o que está acontecendo na borda interna da zona habitável e por quanto tempo um planeta rochoso pode manter a habitabilidade quando começa a esquentar. Ele nos ensinará algo fundamental sobre como os planetas rochosos evoluem com o aumento da luz das estrelas e sobre o que acontecerá conosco e com a Terra um dia.

LP 890-9c é, portanto, um laboratório natural para a astrobiologia, uma janela para o passado e para o futuro da vida no universo. Ele é um mistério que vale a pena ser desvendado.

Acompanharemos ansiosamente as futuras descobertas relacionadas a LP 890-9c e o que elas podem revelar sobre o misterioso e fascinante campo da exoplanetologia.

Referência: Kaltenegger, L. “Hot Earth or Young Venus? A Nearby Transiting Rocky Planet Mystery”. Monthly Notices of the Royal Astronomical Society: Letters.

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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