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Terremotos na Lua Funcionam Como Verdadeiros Despertadores

A Lua, um corpo celeste que tem fascinado cientistas e entusiastas do espaço por gerações, apresenta uma rica tapeçaria geológica que remonta a bilhões de anos. Entre 3,7 e 2,5 bilhões de anos atrás, a Lua estava geologicamente ativa, passando por terremotos, erupções vulcânicas e desgaseificação. A ausência de atmosfera na Lua tem sido uma bênção disfarçada para os geólogos, pois isso ajudou a preservar evidências cruciais de seu passado tumultuado. Hoje, a superfície lunar é marcada por vulcões extintos, tubos de lava e outras características geológicas que atestam sua atividade anterior.

No entanto, apesar de sua inércia geológica que persiste há bilhões de anos, a Lua não está completamente silenciosa. Ela ainda experimenta pequenos eventos sísmicos. Estes não são causados por atividade tectônica, como na Terra, mas sim devido à flexão das marés, influenciada pela poderosa atração gravitacional da Terra. Além disso, variações de temperatura também desencadeiam o que é popularmente conhecido como “moonquakes” ou terremotos lunares.

As missões Apollo, que representam um dos maiores feitos da exploração espacial humana, desempenharam um papel crucial na compreensão desses moonquakes. Os astronautas dessas missões colocaram sismômetros na superfície lunar, permitindo que os cientistas medissem a atividade sísmica. E foi uma recente pesquisa financiada pela NASA que trouxe novas luzes sobre este fenômeno. Liderada pelo Dr. Francesco Civilini, um pós-doutorando do renomado Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), a equipe reexaminou os dados sísmicos usando um modelo de aprendizado de máquina.

Os resultados foram surpreendentes. Os moonquakes ocorrem com uma regularidade impressionante, coincidindo com o momento em que o Sol atinge sua posição máxima no céu lunar e começa a se pôr. Esta descoberta levou os cientistas a apelidarem o fenômeno de “Despertador Lunar”, sugerindo que esses terremotos podem servir como um indicador natural do ciclo dia-noite na Lua.

O estudo da NASA contou com a colaboração de especialistas de renome, incluindo Renee Weber, cientista planetária no Marshall Space Flight Center da NASA, e Allen Husker, professor de pesquisa em geofísica no Caltech. Seus achados foram meticulosamente documentados em um artigo intitulado “Caracterização e Catalogação de Moonquake Térmico Usando Algoritmos Baseados em Frequência e Descida de Gradiente Estocástico”, publicado no prestigioso Journal of Geophysical Research – Planets.

Ao contrário da flexão das marés, que ocorre no interior da Lua, os moonquakes são resultado de mudanças de temperatura na crosta lunar. Estes são, em essência, terremotos térmicos. A falta de atmosfera na Lua significa que o calor do Sol não é retido. Assim, não há um aquecimento gradual da superfície. Em vez disso, a crosta lunar é submetida a extremos térmicos, aquecendo até 120 °C durante o dia e resfriando abruptamente para -133 °C à noite. Essas rápidas variações de temperatura fazem com que a crosta se expanda e contraia, desencadeando eventos sísmicos.

Os sismômetros colocados durante a missão Apollo 17 em 1972 coletaram dados entre outubro de 1976 e maio de 1977. Estes dados, que permaneceram em grande parte inexplorados por décadas, foram o foco da análise do Dr. Civilini e sua equipe. Usando técnicas avançadas de aprendizado de máquina, eles descobriram que os terremotos térmicos ocorrem todas as tardes, quando o Sol começa a se afastar de sua posição máxima e a superfície lunar começa a esfriar rapidamente.

No entanto, uma descoberta ainda mais intrigante foi a detecção de assinaturas sísmicas matinais que diferiam dos terremotos vespertinos. Após uma análise cuidadosa, a equipe determinou que esses tremores matinais originavam-se do próprio módulo lunar Apollo 17. A cada manhã lunar, à medida que a luz do sol atingia o veículo, sua superfície se expandia, causando vibrações no solo que eram detectadas pelos sismômetros.

Essas descobertas têm implicações profundas para futuras missões lunares, como o Programa Artemis da NASA. Embora os terremotos térmicos sejam sutis e imperceptíveis para qualquer pessoa na superfície lunar, eles fornecem dados valiosos que podem influenciar o design de futuros módulos lunares e equipamentos. Além disso, a atividade sísmica é uma ferramenta valiosa para sondar os interiores de corpos celestes, ajudando os cientistas a inferir estruturas internas e localizar materiais valiosos, como gelo de água, abaixo da superfície.

O Dr. Husker, refletindo sobre a importância dessas descobertas, observou: “Esperamos mapear a cratera subsuperficial e procurar depósitos. Existem regiões em crateras no Polo Sul lunar que nunca veem a luz do sol; elas são permanentemente sombreadas. Se pudéssemos colocar alguns sismômetros lá, poderíamos procurar gelo de água que pode estar preso no subsolo; as ondas sísmicas viajam mais lentamente através da água.”

Embora a Lua não tenha tectônica de placas ou atividade vulcânica, ainda há muitas perguntas sobre sua estrutura interna. “É importante saber o máximo possível dos dados existentes para que possamos projetar experimentos e missões para responder às perguntas certas”, acrescentou Husker. A Lua, sendo o único corpo planetário além da Terra a ter mais de um sismômetro em sua superfície, oferece uma oportunidade única para estudar em profundidade outro corpo celeste.

Em conclusão, a Lua, com sua rica história geológica e atividade sísmica contínua, continua a ser um foco de interesse e pesquisa. As descobertas recentes, impulsionadas pelo poder do aprendizado de

Fonte:

universetoday.com/163100/every-night-and-every-morning-the-moon-rumbles-with-tiny-quakes/

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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