As regiões mais internas dos discos de formação de planetas oferecem informações sobre como mundos como a Terra podem se formar, mas nem um telescópio no mundo é capaz de observar tais regiões. Mesmo assim, pela primeira vez, astrônomos usando o Observatório W. M. Keck no Havaí fizeram medidas das propriedades de sistemas solares jovens numa distância menor do que a distância de Venus ao Sol.
“Quando planetas rochosos como o nosso são construídos, a parte mais interna desses discos planetários é onde a ação acontece”, disse William Danchi, membro da equipe do Goddard Space Center da NASA em Greenbelt. Planetas formados na parte interna dos discos das estrelas podem orbitar uma região denominada de “zona habitável”, onde a combinação de determinadas condições podem suportar de forma potencial o surgimento da vida.
Para realizar tal feito, a equipe utilizou o Interferômetro do Keck e com isso pôde combinar luz infravermelha capturada por ambos os telescópios gêmeos de 10 metros, que estão separados por 85 metros. Essa abordagem forneceu aos astrônomos uma resolução efetiva de um telescópio de 85 metros, muitas vezes maior do que qualquer outro telescópio no mundo.
“Nada até hoje nos forneceu os tipos de medidas realizadas com o Interferômetro do Keck”, disse, Wesley Traub no Laboratório de Propulsão a Jato do Caltech em Pasedena. “O efeito é o mesmo que se tivéssemos acoplado uma lente para aproximação no Keck”.
Em Agosto de 2008, a equipe – liderada por Sam Ragland do Observatório Keck e incluindo astrônomos do Instituto de Tecnologia da Califórnia e do Observatório Astronômico Óptico Nacional – observaram um Objeto Estelar Jovem, ou YSO em inglês, conhecido como MWC 419. A estrela do tipo B, azul, possui uma massa algumas vezes maior que a massa solar e está localizada a 2100 anos-luz de distância, na constelação da Cassiopeia. Com uma idade menor que 10 milhões de anos, a MWC 419 é classificada como um jardim de infância estelar.
A equipe também empregou uma nova câmera de infravermelho próximo desenvolvida para gerar imagens no comprimento de onda da banda L de 3.5 a 4.1 micrometros. “Essa capacidade infravermelha única deu uma nova dimensão para o Interferômetro do Keck na busca por regiões com densidade e temperatura para a formação de planetas localizada ao redor de discos YSO. Esse comprimento de onda é relativamente inexplorado até hoje”, explicou Ragland. “Basicamente, qualquer coisa que conseguirmos ver com essa câmera será uma nova informação para a astronomia”.
O aumento da habilidade de observar pequenos detalhes, com a nova câmera, levou a equipe a medir temperaturas no disco de formação planetária a uma distância de 50 milhões de milhas da estrela. “Essa é uma distância equivalente a metade da distância entre a Terra e o Sol, mais ou menos dentro da órbita de Vênus”, disse Danchi.
A equipe relatou as medidas de temperatura da poeira em várias regiões do disco interno da MWC 419 na edição de 20 de Setembro do The Astrophysical Journal. A diferença de temperatura auxilia na identificação da estrutura do disco interno e pode indicar os diferentes compostos químicos e as propriedades físicas que compõem o disco, fatores que são decisivos no tipo de planetas que podem ser formados. Por exemplo, condições no nosso sistema solar favoreceram a formação de planetas rochosos até a órbita de Marte, a partir dessa distância só se formaram planetas gasosos e gigantes, com satélites congelados.
Dessa vez, os astrônomos notaram que o tamanho da jovem estrela pode afetar a composição e as características físicas do disco de poeira. A equipe continua a utilizar o Interferômetro do Keck em um projeto ainda maior com o objetivo de observar discos de formação planetária ao redor de estrelas parecidas com o Sol.
(Fontes: http://www.sciencedaily.com/releases/2009/12/091223222226.htm e http://www.nasa.gov/topics/universe/features/keck-life-zone.html)