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Telescópio Hubble Captura Imagem Detalhada da Galáxia NGC 4753

Em 1990, o mundo assistia a uma transformação significativa quando os astronautas da NASA removeram o Telescópio Espacial Hubble do compartimento de carga do ônibus espacial Discovery e o colocaram em órbita. Naquele tempo, a Guerra Fria estava chegando ao fim, a população mundial era de apenas 5,3 bilhões e a internet havia acabado de ser introduzida. Hoje, a União Soviética é uma memória distante, substituída por uma Rússia menor, mas igualmente militarista, enquanto a população humana atingiu 8,1 bilhões e a internet tornou-se uma parte essencial da vida cotidiana. Além disso, agora contamos com um novo e mais poderoso telescópio espacial, o JWST (James Webb Space Telescope).

Apesar dessas mudanças drásticas, o venerável Hubble continua a nos surpreender com suas contribuições inestimáveis para a astronomia, como evidenciado pela imagem mais recente que ele capturou. Esta imagem revela a galáxia lenticular NGC 4753, situada a cerca de 60 milhões de anos-luz de distância. As galáxias lenticulares ocupam uma posição intermediária entre as galáxias elípticas e espirais, apresentando grandes discos, mas com braços espirais pouco definidos. A NGC 4753, em particular, é notável pela quase ausência de formação estelar, uma característica comum entre as galáxias de seu tipo, que já consumiram a maior parte de seu gás disponível.

NGC 4753 é conhecida por suas faixas de poeira que circundam seu núcleo. Astrônomos acreditam que galáxias espirais evoluem para galáxias lenticulares em ambientes densos devido às interações com outras galáxias e com o meio intergaláctico. No entanto, NGC 4753 reside em um ambiente de baixa densidade, o que torna sua estrutura complexa um objeto de estudo intrigante para testar teorias de formação e evolução de galáxias. Este cenário peculiar suscita questões sobre os processos que levaram à formação dessa galáxia específica.

As galáxias lenticulares, como NGC 4753, são um elo evolutivo crucial no vasto espectro galáctico. Elas possuem características de galáxias elípticas, com populações estelares mais antigas e uma escassez de gás para a formação de novas estrelas, ao mesmo tempo em que exibem discos grandes e estruturados, semelhantes aos das galáxias espirais. Acredita-se que interações galácticas e processos ambientais desempenhem papéis fundamentais na transição de uma espiral para uma lenticular, especialmente em regiões densamente povoadas do universo.

A NGC 4753 se destaca entre suas congêneres devido às suas intricadas faixas de poeira e à sua localização em um ambiente de baixa densidade. Essas características não apenas conferem uma beleza única à galáxia, mas também fornecem aos astrônomos uma oportunidade rara de estudar processos galácticos em condições menos comuns. A complexidade estrutural da NGC 4753 sugere um passado dinâmico, possivelmente que envolve interações gravitacionais e fusões com outras galáxias menores.

A imagem capturada pelo Hubble é a mais nítida já obtida de NGC 4753, destacando sua complexidade intrigante e sublinhando o impressionante poder de resolução do telescópio espacial. Essa imagem detalhada permite uma análise minuciosa das faixas de poeira ao redor do núcleo da galáxia, proporcionando novos insights sobre sua composição e estrutura. Comparada com imagens anteriores, essa nova captura oferece uma visão sem precedentes da NGC 4753, reforçando a importância contínua do Hubble na exploração do cosmos.

A estrutura única de NGC 4753 é resultado de uma fusão com uma galáxia anã há aproximadamente 1,3 bilhões de anos. Este evento cósmico teve um impacto profundo na configuração atual da galáxia, contribuindo para suas complexas faixas de poeira e sua pouca atividade de formação estelar. A fusão com a galáxia anã não apenas alterou a morfologia de NGC 4753, mas também oferece uma janela para entender melhor os processos de fusão e suas consequências nas galáxias lenticulares.

Dentro de NGC 4753, já foram observadas duas supernovas do tipo 1a, eventos de importância crucial para a astronomia. As supernovas do tipo 1a são fenômenos explosivos que ocorrem em sistemas estelares binários, onde uma anã branca acumula matéria de sua companheira até atingir um ponto crítico e explodir. Essas explosões são usadas como “velas padrão” devido à sua luminosidade consistente, permitindo que astrônomos meçam distâncias cósmicas com alta precisão.

As supernovas tipo 1a desempenham um papel vital na determinação da expansão do universo. Servindo como velas padrão, elas permitem aos astrônomos calcular distâncias intergalácticas com grande precisão, sendo um componente essencial da “escada de distância cósmica”. A observação dessas supernovas em NGC 4753 contribui para a calibração dessas medições, reforçando a importância dessa galáxia no contexto maior da cosmologia.

A identificação de galáxias lenticulares como NGC 4753 depende significativamente do ângulo de visão. Muitas galáxias podem apresentar características diferentes dependendo da perspectiva de observação, o que pode dificultar a classificação precisa. A visualização de NGC 4753 de uma posição lateral permite uma observação clara de suas faixas de poeira e estrutura lenticular, oferecendo um exemplo claro de como a posição de observação pode influenciar nossa compreensão das galáxias.

Se estivéssemos observando NGC 4753 de cima, suas detalhadas faixas de poeira não seriam tão evidentes para nós. Esta perspectiva lateral é, portanto, crucial para revelar sua verdadeira natureza. Da mesma forma, outras galáxias lenticulares podem ser difíceis de identificar se observadas de diferentes ângulos, o que destaca a importância de múltiplas observações e perspectivas para uma compreensão completa da morfologia galáctica.

O Telescópio Espacial Hubble continua a desempenhar um papel significativo na pesquisa astronômica, décadas após seu lançamento. Suas imagens de alta resolução e capacidade de observação detalhada permitem aos cientistas explorar e entender aspectos do universo que seriam inacessíveis de outra forma. Apesar da chegada de novos telescópios como o JWST, o Hubble permanece uma ferramenta indispensável para a exploração espacial e a pesquisa astrofísica.

Refletindo sobre as contribuições contínuas do Hubble, é evidente que este telescópio espacial histórico continua a ser uma fonte inestimável de conhecimento e descobertas. A observação detalhada de NGC 4753 é apenas um exemplo de como o Hubble continua a expandir nossa compreensão do cosmos. À medida que avançamos na exploração espacial, o legado do Hubble certamente inspirará futuras missões e descobertas, mantendo seu lugar como um pilar da astronomia moderna.

Fonte: https://www.universetoday.com/167042/the-venerable-hubble-space-telescope-keeps-delivering/

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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