Três décadas atrás, Stephen Hawking declarou que uma “teoria unificada” estava no horizonte, com 50% de chance de estar completa até o ano 2000. Agora estamos em 2010, e Hawking desistiu dessa idéia. Mas isso não é um erro ou uma falha desse grande cientista, ele já declarou que possa não existir uma teoria final para ser descoberta. Sem problemas, ele pode explicar os mistérios da existência sem uma grande teoria unificada.
O livro The Grand Design, escrito com Leonard Mlodinow, é o primeiro livro popular de Hawking em quase uma década. Esse livro cobre o crescimento que a física moderna experimentou nos últimos anos (mecânica quântica, relatividade geral e cosmologia moderna) salpicado com especulações selvagens de múltiplos universos algo que parece ser obrigatório hoje em trabalhos populares. Pequeno mas bem escrito e com ilustrações coloridas, o livro é uma escolha natural para quem deseja uma rápida introdução no campo da física teórica.
No início dos anos de 1990, a teoria das cordas foi desenvolvida como uma multiplicidade de distintas teorias. Ao invés de se ter uma teoria unificada, existiam aparentemente cinco. Começando em 1994, os físicos notaram que em baixas energias, algumas dessas teorias eram na verdade uma duplicata de outras – isso quer dizer que, uma transformação matemática faz uma teoria se parecer com outra sugerindo que elas possam ser duas descrições distintas de uma mesma coisa. Então uma grande surpresa aconteceu: uma teoria de cordas foi apresentada como sendo duplicata para uma super gravidade com 11 dimensões, uma teoria que descrevia não somente cordas, mas membranas, também. Muitos físicos acreditam que essa teoria da super gravidade é um pedaço de uma hipotética teoria de todas essas teorias unificadas, chamada de teoria-M, a partir da qual todas as outras diferentes teorias da corda nada mais são do que um piscar de olhos.
Essa multiplicidade de teorias distintas leva os autores a declararem que a única maneira de entender a realidade é empregando uma filosofia chamada de “realismo dependente do modelo”. Declarando que a filosofia morreu, os autores desenvolveram uma teoria familiar aos filósofos desde década de 1980, chamada de “perspectivalismo”. Essa teoria radical diz que não existe nem mesmo em princípio uma teoria única do universo. Em vez disso, a ciência oferece muitas janelas incompletas em uma realidade comum. Nas mãos dos autores essa posição leva a um alarmante anti-realismo: não só a ciência falha ao fornecer uma única descrição da realidade, dizem eles, mas também não existe uma realidade independente da teoria. Mesmo que isso esteja correto, não se deveria esperar encontrar uma teoria final unificada como a teoria -M, mas sim somente um conjunto de separadas e as sobrepostas janelas.
Isso então surpreende à medida que os autores começam a advogar em defesa da teoria-M. Mas acontece que eles se referiram de forma não convencional a um conjunto de pedaços da teoria das cordas como a teoria-M também, em adição a uma teoria unificada hipotética sobre a qual eles ainda estão céticos.
A teoria-M está longe de ser completa. Mas isso não impede que os autores se refiram a ela como a maneira de explicar os mistérios da existência: por que existe algo em vez de nada, por que esse conjunto de leis e não outro e por que tudo existe. De acordo com Hawking, é suficiente saber sobre a teoria-M para ver que não é necessário existir um Deus para responder a todas essas questões. Em vez disso, a teoria-M aponta para a existência dos chamados multiversos, ou universos múltiplos, e esses multiversos acoplados de maneira antrópica bastarão.
Sobre a vida, nós temos sorte de estarmos vivos. Imaginem todas as possibilidades que a física tem para impedir a vida: a gravidade poderia ser mais forte, os elétrons poderiam ter o tamanho de bolas de basquete e assim por diante. Então essa sorte intuitiva garante a postulação de um Deus? Não. Isso garante a postulação de um conjunto infinito de universos? Tanto os autores como muitos outros cientistas acreditam que sim. Na ausência da teoria, isso não é nada mais do que uma desconfiança que permanece sem ser testada e sem a esperança de um dia ser testada, até que possamos ver universos se criando. A lição não é que estamos frente a um dilema entre Deus e os universos múltiplos, mas que nós não devemos degenerar ao primeiro sinal de coincidências.
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