fbpx

Sonda TGO da Missão ExoMars Registra a Primavera Chegando Nas Crateras Marcianas

Um novo conjunto de imagens feitas pelo Colour and Stereo Surface Imaging System, ou CaSSIS da sonda Trace Gas Orbiter (TGO) que pertence à missão ExoMars da ESA e da ROSCOSMOS registrou uma série de feições geológicas interessantes na superfície de Marte, logo depois do planeta ter passado pelo equinócio de primavera.

A primeira imagem que foi feita, foi a imagem principal desse post, obtida no dia 27 de abril de 2020, e mostra parte de uma cratera de impacto localizada entro de uma cratera maior, a Cratera Green no quadrilátero de Argyre no hemisfério sul de Marte.

A imagem revela um campo de dunas escuras na parte direita da imagem, circundado por um solo vermelho, parcialmente coberto com gelo. É possível ver também os chamados gullies, ou barrancos, ou fossas, parcialmente cobertos por gelo, visíveis na parede da cratera no centro da imagem. Os cientistas estão atualmente investigando a relação entre esse gelo sazonal e a presença das fossas. A imagem foi feita logo depois do equinócio de primavera no hemisfério sul de Marte, quando a parte mais ao sul da cratera (à direita), estava quase que completamente livre de gelo enquanto a parte mais ao norte ainda estava parcialmente coberta por gelo. A parede sul da cratera tinha tido uma exposição maior ao Sol (algo parecido com o que acontece na Terra, quando o equador recebe mais luz do Sol), e então o gelo nessa parte derreteu mais rapidamente.

A outra imagem, acima, foi obtida no dia 25 de março de 2020, e mostra o assoalho da cratera de impacto Antoniadi de 400 km de diâmetro, que fica localizada no hemisfério norte de Marte na região de Syrtis Major Planum. A coloração azul da imagem , não representa a cor real do assoalho da cratera, mas foi usada para destacar a diversidade da composição das rochas encontradas dentro da cratera.

No centro da imagem é possível ver estruturas que lembram veios localizados nas folhas de árvores. Essas estruturas, evidenciam uma antiga rede de rios na região, que são diferentes dos canais que normalmente cavam a superfície. Os canais foram preenchidos com material mais duro, possivelmente lava, e com o tempo rochas mais macias circundaram esses canais e foram erodidas deixando para trás uma marca invertida desse antigo sistema de rios.

Outra imagem da bacia de impacto Argyre nas terras altas do hemisfério sul de Marte foi feita em 28 de abril de 2020, logo depois de Marte ter passado pelo equinócio de primavera no hemisfério sul. O gelo sazonal na bacia de impacto de 800 km é visto derretendo enquanto que uma cadeia de montanha no lado direito da imagem ainda é coberto por gelo. O gelo cobrindo a cadeia de montanha está voltado para o polo, ou seja, recebendo menos radiação solar do que o talude vizinho que está voltado para o equador do planeta. Em Marte a radiação solar transforma o gelo em vapor d’água de forma direta, sem passar pelo processo de derretimento onde o gelo se transforma em água, esse processo é chamado de sublimação. Como o talude voltado para o norte, na parte esquerda da imagem, tem um tempo maior de exposição à radiação solar, o gelo ali sublima mais rapidamente.

Uma última imagem desse conjunto, foi feita no dia 5 de maio de 2020 e mostra parte do assoalho do cânion de Ius Chasma, que faz parte do Valles Marineris, o grande sistema de canais que corta um quarto da circunferência de Marte. O cânion de Ius Chasma que pode ser visto na imagem, tem cerca de 1000 km de comprimento e 8 km de profundidade, o que faz com que ele seja mais de duas vezes mais longo que o Grand Cânion e cerca de 4 vezes mais profundo.

A bela variação de cores no assoalho de Ius Chasma é causada pelas mudanças da composição das rochas. Os cientistas dizem que as rochas mais claras são sais deixados para trás depois da evaporação de um antigo lago. A informação sobre a composição das rochas é útil para os cientistas pois permite que eles possam retroceder no tempo e entender a formação do cânion.

Fonte:

http://www.esa.int/Science_Exploration/Human_and_Robotic_Exploration/Exploration/ExoMars/ExoMars_captures_spring_in_Martian_craters

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

Veja todos os posts

Arquivo