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Sistema Solar Mais Velho Do Que Se Pensava

Um meteorito encontrado no Deserto do Saara tem ajudado a traçar a verdadeira idade do Sistema Solar e também pode clarear as idéias sobre como o nosso sistema se formou.

A nova estimativa, que vem das medidas das razões de isótopos principais dentro do condrito – uma antiga rocha de meteorito – sugere que o Sistema Solar tenha 4.578 bilhões de anos de vida. Isso é entre 0.3 e 1.9 milhão de anos mais velho do que se pensava anteriormente. Essa pequena revisão significa que os modelos de gás e poeira que deram origem ao Sistema Solar, deveria ter aproximadamente o dobro de um certo isótopo de ferro, conhecido como Ferro-60 do que era sugerido anteriormente.

Essa alta quantidade de ferro pode ser recuperada em estrelas massivas de vida curta, um dos únicos lugares no universo onde o ferro é produzido.  Quando essas estrelas explodem como supernovas no fim de suas vidas elas teriam a semente do antigo Sistema Solar.

“Isso sugere que uma ou mais de uma supernova aconteceu antes da formação do sol, explicando que todos esses elementos fossem encontrados com suas respectivas abundâncias”, diz Audrey Bouvier da Universidade do Arizona em Tempe, principal autor do estudo publicado na Nature Geoscience. O artigo original pode ser encontrado aqui: http://tecnoscience.squarespace.com/arquivo/sistema-solar-mais-velho-do-que-se-pensava/

A estimativa da equipe ajuda a resolver os diferentes resultados obtidos por duas técnicas de datação que os astrônomos usam para acessar a idade dos meteoritos. A primeira, que é a mais confiável mas só pode apontar para uma escala de tempo muito grande, observa a razão entre dois isótopos de chumbo (Pb), o chumbo-207 e o chumbo-206. O segundo método que usa as razões de alumínio e magnésio pode observar escalas de tempo menores em detalhe mas dá uma idade de 1 milhão de anos a mais do que o método do Pb-Pb. Bouvier e sua equipe reconciliaram as duas estimativas empurrando para trás a idade do Sistema Solar para ajustar às medidas de alúminio-magnésio.

O geofísico Andrew Davis da Universidade de Chicago em Illinois, está feliz em ver que as duas escalas de tempo agora estão de acordo. “Contudo é necessário que mais condritos sejam medidos para ver se eles confirmam os dados e então entendermos por que medidas prévias de meteoritos baseados no método Pb-Pb, davam uma idade mais jovem para o Sistema Solar”, disse ele.

O cientista planetário David Kring do Instituto Lunar e Planetário de Houston no Texas, disse que os resultados são muito animadores pois os pesquisadores são agora capazes de pesquisar a escala de tempo de eventos antes do Sol nascer com uma alta precisão. “Nós estamos começando a pintar uma imagem precisa e dramática do período inicial da história do Sistema Solar”, comentou ele.

Seis anos atrás, a maioria dos astrônomos que estudavam a formação de estrelas provavelmente teriam dito que o Sistema Solar nasceu de uma nuvem molecular onde estrelas de pouca massa como Sol se formavam de forma isolada. Hoje, a abundância de ferro descoberta nos meteoritos indica que o nosso Sistema Solar cresceu envolto por estrelas pesadas e gigantes que foram formadas por sua atividade.

Antes de formarem o nosso Sistema Solar, as estrelas massivas viviam dentro de uma nuvem de gás e poeira como as que são observadas na Nebulosa de Orion. Essas estrelas gigantes produziam enormes quantidades de luz ultravioleta, de onde os fótons exerciam pressão que empurrava material para fora da esfera, criando uma cavidade de gás nebular e de poeira. À medida que essa cavidade se expandia, sua borda ia sendo comprimida junto aos detritos ao redor. Áreas de detritos com o aumento da densidade tinha uma massa ligeiramente maior, o que atraia mais partículas para elas devido ao aumento da força gravitacional. Isso levava a um efeito similar ao de uma bola de neve de acumulação e eventualmente, a massa suficiente coletada em lugar colapsava numa bola quente chamada de protoestrela.

Mesmo à medida que a luz da estrela massiva varria os detritos próximos para longe da cavidade em expansão, a protoestrela vivia dentro de sua própria bolha de gás e poeira, criando assim glóbulos gasosos de evaporação. Quando as estrelas massivas explodiam como supernovas, elas enviavam uma chuva de elementos ricos que rapidamente se misturava com o material dentro do glóbulo gasoso de evaporação. Após milhões de anos, nosso Sistema Solar aglutinou material dos grãos rochosos e os asteróides agora estão saturados com o ferro remanescente das supernovas.

Embora os astrônomos têm observado esse tipo de desenvolvimento em berçários estelares distantes, essa nova pesquisa trás para o foco informações sobre a história da nossa vizinhança antes do Sistema Solar nascer. Anteriormente os pesquisadores se baseavam principalmente no condrito de nome Allende, o qual fornecia as estimativas anteriores para a idade do Sistema Solar. A pesquisa de Bouvier sugere que mais amostras expandiriam o entendimento astronômico sobre os processos nebulares do início do Sistema Solar.

“Nós precisamos recuperar novos meteoritos e para ser o mais direto possível utilizar até mesmos asteróides no espaço”, diz Kring. “Essa pesquisa aponta para o fato de que existem mais materiais para serem estudados, o que significa que existem mais segredos para serem revelados”.

Fonte:

http://www.nature.com/news/2010/100822/full/news.2010.423.html?s=news_rss

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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