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Será Que Existem Nebulosas (Gás e Poeira) Dentro de Aglomerados Globulares?

Os aglomerados globulares são agrupamentos de estrelas enormes, de forma esférica e que contém de várias dezenas de milhares a centenas de milhares de estrelas. Segundo os atuais modelos de formação estelar, os aglomerados globulares possuem estrelas que pertencem a chamada população II, ou seja, estrelas velhas, que se formaram junto com a galáxia que abriga esses aglomerados.

No halo galáctico e no núcleo existem estrelas velhas (população II), enquanto que nos braços espirais existem estrelas jovens e nebulosas, representativas da chamada população I.

Os aglomerados globulares se formam então com a galáxia e no halo galáctico, uma região que circunda o centro das galáxias. Supunha-se que as galáxias se formam de maneira escalonada, primeiro o halo com o núcleo e posteriormente os braços espirais.

Na definição tradicional de aglomerados globulares, não existe a presençaa nem de gás e nem de poeira, justamente pelo fato de que nas estrelas velhas esse tipo de material já foi exaurido.

Os aglomerados globulares não são os melhores lugares que existem para se buscar por regiões de formação de estrelas ou nebulosas.

Sem mas, desde a década de 80, se estão encarando cada vez mais investigações onde os modelos de formação de aglomerados globulares incluem gás e poeira. A decisão todavia, não está tomada em definitivo, mas a realidade é que se estão detectando manchas escuras em aglomerados importantes, mas sem a confirmação oficial de que essas manchas estejam diretamente dentro deles.

Atualmente se pensa que grande parte desse gás é real, mas que provem não de nuvens interestelares precursoras das estrelas mas sim de estrelas variáveis velhas que perdem esse material. Mesmo com essa explicação existe ainda detecções de nuvens que não são fáceis de serem explicadas. Existem observações por exemplo, de um excesso de radiação infravermelha nos aglomerados globulares que pode estar associada a nuvens de gás e poeira aquecidas pelas estrelas dos aglomerados.

Vários casos estão sobre investigação e de aglomerados realmente importantes.

Um desses exemplo é o Messier 13. Conhecido desde o século 18, esse aglomerado se encontra no hemisfério celeste norte e já é observado com grandes telescópios há muito tempo, antes mesmo da invenção da astrofotografia. Um desenho em especial chama a atenção. É um desenho feito por M.B. Stoney, que observou o aglomerado com o grande telescópio de Parsontown. No seu desenho é possível ver três linhas escuras. Durante anos esse desenho foi estudado com a finalidade de se definir se essas eram linhas reais ou erro de observação.


Cem anos depois, na década de 1980, obtiveram fotografias desse aglomerado onde as linhas escuras foram identificadas. Não é fácil obter fotografias precisas desses aglomerados nem mesmo com a tecnologia atual, pois necessita-se de um telescópio com distância focal bem grande para que o aglomerado não pareça um emaranhado de estrelas e um tempo de exposição também enorme para se poder distinguir não só as estrelas, mas nesse caso também as linhas.

Outro aglomerado globular que apresenta pequenas linhas escuras e nuvens é o impressionante Omega Centauri.

Ao se olhar para algumas fotos feitas com uma câmara Schmidt de 20 cm e diâmetro com F1.5, se pode detectar uma linha, passando ao lado do aglomerado. Também dentro do aglomerado próximo ao centro existe um par de nebulosas escuras mais ou menos circulares, elas foram analisadas pelo Dr/ Juan Carlos Forte do Observatório de La Plata.

O Omega Centauri mostra uma nuvens escuras em seu centro, e também se pode ver entre as linhas como existe uma região onde parece faltar estrelas. Esse tipo de absorção não é fácil de se explicar, e não é simplesmente uma falta de estrelas, mas sim algo que está absorvendo a luz. A dúvida é se isso se localiza dentro do aglomerado.

Omega Centauri é um caso especial, pelo fato de ser grande e de conter candidatos a gás e poeira, assim, alguns astrônomos chegam a considera-lo como uma mini galáxia que foi canibalizada pela Via Láctea.

Outro aglomerado o 47 Tuc possui também algumas nuvens que podem ser detectadas em imagens do Telescópio Espacial Hubble, nuvens essas que poderiam estar relacionadas com nuvens interestelares localizadas dentro do aglomerado.

É um interessante projeto buscar esses detalhes nas fotos, ou uma possibilidade de fotografar alguns detalhes mais difíceis em objetos muito bem conhecidos. Inclusive tratar de observá-los visualmente.

Fica aqui então o desafio para aqueles que possuem um céu claro, livre da poluição luminosa e um equipamento bom também para o céu profundo. Os candidatos para observação e que podem mostrar algo interessante são o M13, o Omega Centauri e o 47 Tucanae. Boa sorte.

Para saber um pouco mais sobre essas feições, principalmente no 47 Tucanae leiam o artigo: A Polarimetric Survey for Dust in 47 Tucanae (NGC 104).

Fonte:

http://infobservador.blogspot.com/2011/01/nebulosas-dentro-de-cumulos-globulares.html

 

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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