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Rover Curiosity da NASA Chega Na Unidade Dominada Por Sais Na Cratera Gale

Uma das grandes vantagens de se explorar o Planeta Marte com rovers é a capacidade de se visitar diferentes unidades geológicas no decorrer de uma missão, e isso com o Curiosity que está em Marte a mais de 10 anos é algo que já marcou de forma crucial a missão.

Ao visitar diferentes unidades geológicas é possível entender como ao longo das eras o planeta foi mudando, como que ele passou de um planeta mais quente e úmido para um mundo seco e frio, e entender essas mudanças é fundamental para, por exemplo, entender como a vida, se é que ela existiu em Marte, pode ter acompanhado essas mudanças.

O rover Curiosity da NASA acaba de chegar numa unidade geológica muito importante, uma região dominada por sais, principalmente sulfatos, essa região enriquecida com esse tipo de mineral é importante, pois indica no tempo geológico um momento em que o planeta estava secando.

Os pesquisadores acreditam que há bilhões de anos, rios, lagos à medida que foram secando e a água evaporando, foram deixando para trás minerais, muitos desses minerais ricos em sais. Se essa hipótese estiver mesmo correta, esses minerais podem oferecer as pistas sobre como e principalmente por que, o clima do Planeta Vermelho mudou tanto no decorrer das eras geológicas.

Essa região, na verdade, foi descoberta muitos anos antes do rover Curiosity pousar em Marte, através de dados obtidos pela sonda Mars Reconnaissance Orbiter, então é uma região que os cientistas desejavam ver de perto já faz muitos anos. Logo depois que chegou em Marte, o rover Curiosity descobriu uma grande variedade de tipos de rochas e sinais de que no passado a água percolou na superfície do planeta. Entre as evidências estavam nódulos com texturas conhecidas, e minerais com a presença de sais, entre os sais, os pesquisadores encontraram, o sulfato de magnésio, o sulfato de cálcio e cloreto de sódio.

Antes de seguir para a tão desejada unidade geológica rica em sais, o rover fez uma rápida parada para coletar mais uma amostra de rocha para a sua coleção.

Uma das coisas espetaculares que o rover Curiosity da NASA faz em Marte desde quando chegou é coletar amostras. Ele coleta de maneira diferente do Perseverance.

Enquanto o Perseverance coleta um núcleo rochoso que é armazenado para posteriormente retornar para a Terra, no caso do Curiosity, ele coleta um pó da rocha num determinado local escolhido e esse pó é levado para dentro do rover onde ele possui um laboratório que examina essa rocha pulverizada.

Os pesquisadores selecionaram a rocha apelidada de Canaima como sendo o alvo da trigésima sexta coleta de rocha pelo rover Curiosity em Marte.

A escolha não foi uma tarefa fácil, pois além das considerações científicas foi necessário levar em consideração toda a parte do equipamento do Curiosity, estamos falando de um rover que está em Marte faz 10 anos e já sofreu bastante por ali.

Para coletar suas amostras, o Curiosity usa a sua broca rotativa percussiva localizada na extremidade do seu braço robótico de 2 metros de extensão, com essa ferramenta ele pulveriza a rocha e usa esse pó para as suas análises.

Devido ao tempo de uso e desgaste do material, algumas rochas mais duras podem exisgir uma força a mais do Curiosity no momento da percussão para que a broca funcione adequadamente.

Atualmente os pesquisadores adotam uma estratégia para coletar amostras, eles limpam a poeira do alvo, e depois encostam a broca na superfície da rocha a ser perfurada, depois retiram a broca e fazem imagens, de acordo com essas imagens, ou seja, se existe a presença de arranhões ou outras marcas eles decidem se perfuram ou não a rocha escolhida.

No caso dessa nova amostra tudo isso foi levando em consideração, até mesmo um novo algoritmo criado para minimizar o uso da percussão, para não danificar a broca, os pesquisadores então decidiram furar, e conseguiram amostras importantes da rocha Canaima.

Essas amostras agora serão analisadas por dois instrumentos do Curiosity, o Chemical Mineralogy (CheMin) e o Sample Analysis at Mars, ou SAM.

Depois de coletar essa amostra era hora de seguir caminho para a região rica em sais, mas a direção até lá não foi tranquila.

O rover Curiosity passou por caminhos perigosos, principalmente o campo arenoso conhecido como Passo de Paraitepuy, esse campo de areia serpenteia as colinas, o rover levou mais de um mês para navegar com segurança por essa região.

A areia é um grande problema para os rovers, pois, o Curiosity poderia literalmente atolar nesse campo de areia, outro risco para a missão são rochas afiadas que acabam danificando as rochas, por isso foi uma direção realizada com todo o cuidado.

Além disso, as colinas próximas bloqueavam a visão do Curiosity exigindo que o rover fosse cuidadosamente orientado com base onde poderia apontar as suas antenas para a Terra e por quanto tempo poderia se comunicar com os orbitadores que estavam passando em cima do rover no momento.

Mas depois de passar por todos os esses riscos veio a recompensa, o Curiosity chegou em um dos cenários mais inspiradores de toda a sua missão. Os pesquisadores recebiam imagens todas as manhãs e ficavam abismados.

Os cumes de areia eram bonitos, e o rover conseguiu chegar bem perto das paredes das falésias.

Como tudo que o Curiosity já passou em Marte, essa nova região tem seus próprios desafios, é uma região cientificamente interessante, mas o terreno mais rochoso torna mais difícil encontrar um lugar onde todas as seis rodas do rover estejam em terreno estável.

Se o rover não estiver estável, os técnicos e engenheiros da missão não correrão o risco de usar o braço robótico, para evitar que ele bata nas rochas irregulares presentes na região.

Uma coisa que todos já sabem é que se algo é interessante e pode nos dar um belo resultado científico, será preciso passar por uma série de obstáculos para alcançar esses objetivos.

Mas isso o Curiosity já está acostumado, são 10 anos trabalhando em Marte, e ele está totalmente pronto para esse novo capítulo na história da sua exploração no Planeta Vermelho.

Fonte:

https://www.jpl.nasa.gov/news/nasas-curiosity-mars-rover-reaches-long-awaited-salty-region

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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