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29 de dezembro de 2024

Reajustando a Idade da Lua


Ultimamente você deve ter ouvido nos jornais e na imprensa em geral que a Lua possivelmente é mais jovem do que se pensava anteriormente. Novas e refinadas datações radiométricas feitas por Lars Borg e seus colegas determinou que uma rocha é aproximadamente 200 milhões de anos mais jovem do que se pensava antes. Duzentos milhões de anos em 4.57 bilhões de anos não parece fazer grande diferença, mas na verdade, a questão não está só ligada aos números nesse caso. Ao datar uma rocha com essa diferença de idade o que se coloca em questão é o modelo que foi desenvolvido nos últimos 40 anos para explicar a Lua. John Wood e seus colegas no primeiro artigo apresentado ao final desse post propuseram que os fragmentos de anortosito ricos em alumínio trazidos para a Terra pela tripulação da Apollo 11 poderia ser na sua maior parte explicada se a Lua muito jovem derretida formou um oceano de magma. O material de baixa densidade flutuou até o topo, formando uma membrana que nós agora reconhecemos como a crosta das terras altas. Evidências consideráveis tanto geofísicas como geoquímicas apoiam essa ideia que tem sido considerada uma hipótese de sucesso sobrevivendo a muitos estudos que a testaram. Os modelos de oceano de magma da Lua sugerem que ela deve ter se solidificado em 10 milhões de anos, de modo que o anortosito como a rocha recentemente datada deve ter se formado logo depois da formação da Lua. A diferença de 200 milhões de anos desde quando o nosso Sistema Solar se formou leva a sugestões de que a Lua se solidificou depois do que normalmente se assume ou que o anortosito não se formou no oceano de lava. As novas datações são consideradas altamente precisas de modo que essa pesquisa é importante para trazer a tona sérias questões sobre coisas que nós até então pensávamos que eram bem suportadas. Mas a primeira coisa que você faz com resultados inesperados é ver se eles podem ser replicados por outros pesquisadores. Pode-se também perguntar se uma rocha representa um oceano inteiro de magma. Finalmente, esse não é um resultado inesperado, mas um sim um que apoia um artigo de 2010 de Touboul que também é apresentado ao final desse post, que fornece outras medidas de data precisas sugerindo que a Lua se formou 60 milhões de anos depois do que a Terra e do que o resto do Sistema Solar, e que o oceano de magma levou mais de 200 milhões de anos para se resfriar. Com essa interpretação o oceano de magma foi o local onde o anortosito se formou, mas a gigantesca colisão na Terra que resultou na formação da Lua aconteceu pouco tempo depois do que se pensava anteriormente. Idealmente, novos resultados sempre serão mais precisos do que os antigos e isso é bom pois podemos refinar ou desafiar o nosso entendimento. Isso é a ciência. Nós não estamos jogando fora tudo que já sabemos sobre a Lua, estamos apenas questionando o tempo e as medições de eventos muito antigos difíceis de serem considerados.


Fonte:

https://lpod.wikispaces.com/August+22%2C+2011

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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