Geralmente coloco só o desenho e alguma informação básica. Mas este objeto celeste, belo e complexo merece um tratamento mais cuidadoso e espero que estas linhas ajudem alguém daqui por diante.
Temos poucas informações de gamma velorum em língua portuguesa. Isso acontece por ser um objeto tipicamente observado do hemisfério Sul, e acho que isso o torna não tão popular quanto os objetos vistos do hemisfério norte. Porém é muito estudado por astrônomos profissionais devido à sua complexidade e variedade de objetos que compõe Al Suhail al-Muhlif.
Já há algum tempo conheço, uso de referência na busca de objetos celestes e observo gamma velorum.
Uso, como referência, e observo essa “estrela” por se destacar no céu noturno a olho nu, e também por se mostrar um belo e brilhante sistema binário através de um binóculo ou por uma ocular de telescópio.
Gosto muito de observar e ler sobre estrelas binárias, e numa noite destas, consultando meu atlas de estrelas duplas, descobri que essa “estrela” não é uma única e isolada estrela, vista a olho nu, ou apenas uma binária observada com equipamentos ópticos. Trata-se de um sistema estelar complexo e muito interessante de seis estrelas que interagem gravitacionalmente. Sim, seis estrelas!
Ao saber disso me empolguei e fui atrás de mais informação. Nossa! Haja informação sobre esse sistema, existe uma infinidade de sites, monografias, teses e outros documentos sobre esse intrigante objeto do céu.
Também observei com mais atenção e com mais aumento e vi as outras componentes do sistema.
O nome deste sistema foi catalogado como gamma velorum, ou Al Suhail al-Muhlif.
Alguns simuladores do céu e sites estadunidenses chamam esta estrela de Regor, Roger ao contrário, em homenagem ao astronauta morto no pré-lançamento da Apollo1 em Janeiro de 1967. Bom, apesar do nome ser bonito e enganar os incautos, fazendo lembrar nomes de estrelas como Rígel, Algol, Castor, eu não o uso pelo simples fato de não ser nome catalogado, nem oficializado, e também por não aceitar imposições do povo lá de cima, goela abaixo, só pelo motivo deles quererem homenagear um cidadão deles. Já que fazem isso sugiro que chamemos gamma velorum de Socram, Marcos ao contrário, em alusão ao nosso primeiro e único astronauta brasileiro, cá para nós, muito mais importante que esse tal de Roger! Aqui não garnizé!
Gamma velorum é a estrela mais brilhante da constelação da Vela, a 840 anos luz de distância do nosso Sol e tem magnitude aparente de 1.75.
Alguém deve estar se perguntando: ” Por que gamma velorum é a mais brilhante e não recebeu a letra grega alpha?”.
Em 1603, Johan Bayer, com sua Obra Uranometria, deu letras gregas, de acordo com as magnitudes, para todas as estrelas conhecidas na época. Por exemplo, na antiga constelação da Argonavis, deu a letra grega alpha para Canopus, beta para Miaplácidus (ambas em Carina), gama para Al-Sahil al-Muhlif ( hoje em vela), e assim por diante.
No século XIX a UAI ( União Astronômica Internacional), resolveu revisar as constelações do céu e acabou por dividir a constelação da Argonavis, dentre outras coisas, nas atuais Vela ( vela), Carina ( quilha) e Puppis ( popa).
Como não houve uma nova determinação de letras gregas às novas constelações e cada parte do navio levou para dentro dos seus limites as letras gregas originais, as estrelas mais brilhantes continuaram com sua letra original. Por isso, apesar de Al Sahil al-Muhlif ser a mais brilhante da constelação da Vela, ela continua a ser chamada de gamma. Se tivesse ocorrido uma nova determinação de letras gregas ela seria a alpha velorum.
Gostaria de esclarecer que existe outra estrela com o nome Al Suhail, trata-se da lambda velorum. Esta é denominada apenas Al Suhail, gamma velorum é denominada como Al Suhail al-Muhlif, cuidado para não confundir.
Vou colocar o desenho que fiz deste sistema estelar e logo abaixo detalhes mais técnicos/científicos do objeto.
O desenho foi feito usando papel Canson Desenho 200g/m2, cor creme, lápis Steadtler tipo Mars Lumosgraph do H ao 9B. Usei também esfuminho e limpa tipos, além de compasso, régua e esquadros no acabamento.
Não coloquei o desenho com cores invertidas pois achei que o resultado direto no papel ficou melhor.
O sistema é formado pelas componentes A ( gamma 2 velorum), B ( gama1 velorum), C, D e E. A componente A é um sistema binário espectroscópico, as componentes D e E formam outro sistema binário dentro do complexo, porém, como vemos no desenho, a componente E não foi observada por mim.
O equipamento que tenho, o meu local de observação, com severa poluição luminosa, e a atmosfera turbulenta na noite de observação não permitiram a visualização da componente E.
O sistema está na constelação da Vela, parte da antiga constelação da Argonavis, tem 1.75 de magnitude aparente ( uma das estrelas mais brilhantes do céu), e dista 840 anos luz do Sol.
Para você achar esta estrela a olho nu, basta localizar Sírius e Canopus, as duas estrelas mais brilhantes do céu noturno, respectivamente.
Localizadas estas duas estrelas, localize a estrela Aludra, a estrela da ponta do rabo do Cão Maior.
A partir de Sírius, trace uma reta imaginária passando por Aludra, até encontrar duas estrelas brilhantes e de cores distintas , uma é gama velorum e a outra lambda velorum, esta “acima” de gamma velorum. , as quais , junto com Aludra, Canopus e Sírius, formam um grande triângulo imaginário e quase isósceles, com base canopus – lambda velorum.
Gamma velorum é mais azulada e lambda velorum é alaranjada.
veja:
Acima temos o desenho e abaixo temos uma tabela com os dados do sistema para ajudar a entender o texto logo a seguir:
1. Componente A ou gamma 2 velorum
A componente A (gamma2 velorum) não se trata de uma única estrela ( como vemos no desenho), mas sim de um sistema binário que foge o comum.
Dentro desse sistema binário temos uma estrela, rara na Galáxia, chamada Wolf-Rayet (WR). Esta WR é numerada como WR11 (CW8), e forma juntamente com uma supergigante estrela azul (O8), um sistema binário espectroscópico.
Segundo o trabalho científico realizado por Virpi S. Niemela e Jorge Sahade ( Instituto de Astronomia e Físicadel Espacio, Buenos Aires, Argentina, 1977), temos a seguinte cronologia:
1955 Sahade anunciou que se tratava de uma binária espectroscópica;
1967 Ganesh e Bappu, foram os primeiros a determinar o período orbital desse sistema, chegando nos valores de 78,5 dias, sendo que a distância entre a WR e a supergigante e massiva estrela azul é de 1 U.A. ( 1 Unidade Astronômica – distância Terra-Sol, aproximadamente 150 milhões de quilômetros);
1972 Conti e Smith classificaram este sistema binário como : WC8+O9I.
Fico aqui imaginando duas estrelas muito maiores e mais quentes que o nosso Sol, numa distância equivalente a 1U.A., num giro em torno do centro de massa, numa velocidade quase 5 vezes mais rápido que o sistema Terra-Sol! Deve ser uma loucura!
O site do David Darling informa que a supergigante azul tem 25 massas solares, 200.000 vezes mais luminosa e com uma temperatura de 35.000k. A WR11 teria 40 massas solares no seu início, e que agora teria 10 massas solares, 50.000 vezes mais luminosa que o Sol e e com uma temperatura de 60.000k. Para comparar, o Sol tem a temperatura de 5800k.
Atualmente, gamma2 velorum, a Wolf-Rayet ( WR11) e a companheira azul, está catalogada como do tipo espectral WC8+O7.5, segundo documentos científicos que li.
A magnitude aparente de gamma2 velorum é 1,83.
2. Componente B ou gamma1 velorum
Ao lado da maravilhosa dupla gamma2 velorum, temos uma estrela gigante azul e que brilha forte na ocular do telescópio, é a componente B.
Essa estrela é denominada gamma 1 velorum.
Com magnitude de 4.27, separada da componente A em 41,2 segundos de arco e a 220° de A e tipo espectral B3.
3. Componente C
Um pouco “distante” no campo de visão da ocular temos uma estrela branco azulada. Com magnitude aparente de 8.2, distante de A 62,3 segundos de arco e a 151° de A e tipo espectral A0.
4. Componente D e E
Temos também outro sistema binário dentro do sistema sêxtuplo, mais distante das componentes principais e com uma magnitude bem maior (impossibilitando que eu conseguisse separar essas binárias mais fracas do sistema).
A magnitude de D é 9.1, distante 93,5 segundos de arco, a 146° de A e do tipo espectral A.
Já a componente E tem magnitude aparente de 12.5, dista 1,8 segundos de arco de D e está a 141° da sua companheira, componente D.
É um belo e complexo sistema estelar, fácil de achar , se destaca numa ocular de telescópio, interessante para observar, desenhar, ler , pesquisar, contemplar, imaginar, etc.
Não descobri nada de novo, apenas desenhei o objeto e deixei registros mais acessíveis em lingua portuguesa.
Agradeço do fundo do coração ao amigo Ariel Souza pela ajuda na busca de informações e ao prof. Tasso Napoleão por informações preciosas na indicação de fontes para obtenção de informações.
Guilherme de Andrade
Fontes:
1. http://www.the-a-maze.net/people/folini/research/binary/binary.html Hot star binaries
2. http://www.daviddarling.info/encyclopedia/G/Gamma_Velorum.html David Darling
3. http://simbad.u-strasbg.fr/simbad/ SIMBAD Astronomical database
4. http://www.perezmedia.net/beltofvenus/archives/000624.html The belt of Venus
5. http://www.adsabs.harvard.edu/ pág. 219,202, 232, 245, 542
6. http://www.skyandtelescope.com/observing/objects/doublestars/3073201.html
7. http://www.dibonsmith.com/vel_g.htm
8.http://stars.astro.illinois.edu/sow/regor.html
9. http://www.the-a-maze.net/people/folini/research/binary/binary.html
10.http://pt.wikipedia.org/wiki/Estrela_Wolf-Rayet
11.http://astro.if.ufrgs.br/index.htm
12.http://www.cosmobrain.com.br/rc/magnitude1.html
13.http://www.ccvalg.pt/astronomia/
14.http://www.cienciamao.usp.br
15.http://www.uranometrianova.pro.br/
17.http://www.ceuaustral.pro.br/
Parabéns ao Guilherme pelo belo trabalho feito nesse post. Para acompanhar todas as postagens do Guilherme e entender mais sobre como desenhar objetos celestes visitem seu site na internet: http://www.rabiscandoouniverso.blogspot.com/
Fonte:
http://www.rabiscandoouniverso.blogspot.com.br/2012/04/gamma-velorum-al-suhail-al-muhlif.html