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Qual É A Diferença Entre Ciência e Pseudociência?

Essa é uma pergunta muito complexa de ser respondida, pois existem definições complicadas relacionadas ao tema. Centenas de livros já foram escritos para tentar separar essas duas coisas, aqui nesse post, vou só arranhar a superfície sobre a diferença existente entre ciência e pseudociência. Para aprofundar nesse tema é preciso ler muitos livros, conversar bastante sobre o tema e explicar de diferentes formas as suas diferenças, mas aqui está um início de uma tentativa de explicação.

No âmbito do conhecimento e investigação, a distinção entre ciência genuína e pseudociência é de suma importância. Essa diferenciação não só auxilia na identificação de práticas científicas válidas, mas também garante a credibilidade das informações divulgadas ao público. Este artigo tem como objetivo elucidar as características que diferenciam a ciência da pseudociência, fornecendo um quadro claro para discernimento.

A pseudociência, termo derivado do prefixo grego “pseudo”, que significa “falso”, pode ser definida de forma concisa como “ciência falsa”. Refere-se a sistemas de crenças que, embora pareçam científicos, carecem dos princípios fundamentais e metodologias que caracterizam a ciência genuína. Exemplos dessas crenças incluem teorias de alienígenas antigos, astrologia, hipóteses da Terra plana e conspirações de OVNIs.

Para um olhar não especializado, a pseudociência pode frequentemente imitar a ciência genuína. Essa imitação é alcançada através da adoção de formulações matemáticas complexas, uso de jargões especializados e emprego de dispositivos e instrumentos intrincados. Esses elementos, embora remetam às práticas científicas, são apenas os aspectos superficiais ou a “pele” da ciência. São análogos às ferramentas utilizadas por profissionais em outros campos, como martelos e serras para trabalhadores da construção ou memoriais para advogados. No entanto, essas ferramentas, embora essenciais, não definem a essência da profissão ou disciplina.

Sob a superfície, a ciência genuína é sustentada por um conjunto de práticas, tradições e mentalidades que a distinguem da pseudociência:

  • Abordagem Rigorosa: A ciência é caracterizada pelo rigor. Cientistas exploram meticulosamente as implicações lógicas das hipóteses, garantindo que suas investigações sejam completas e abrangentes.
  • Humildade: A ciência reconhece sua própria falibilidade. Nenhuma teoria, independentemente de seu status histórico, é imune à refutação se surgir nova evidência.
  • Ceticismo: Pedra angular do método científico, o ceticismo garante que as crenças sejam moldadas por evidências e não por noções preconcebidas.
  • Transparência: Métodos e técnicas científicas são transparentes, compartilhados e abertos ao escrutínio da comunidade em geral.
  • Conectividade: Cada declaração ou afirmação científica está ancorada no corpo mais amplo do conhecimento comunitário.
  • Natureza Evolutiva: A ciência é dinâmica, permitindo a substituição de crenças desatualizadas por novas evidências e insights.

Enquanto a pseudociência pode adotar características superficiais da ciência, como jargão ou formulações matemáticas, ela se desvia significativamente dos princípios centrais acima mencionados. Por exemplo:

  • Proponentes de teorias de alienígenas antigos frequentemente demonstram falta de ceticismo, descartando evidências que contradizem suas crenças.
  • Pesquisadores do SETI (Busca por Inteligência Extraterrestre), em contraste com proponentes de alienígenas antigos, enfatizam o ceticismo, instigando uma análise meticulosa dos dados antes de tirar conclusões.
  • Astrólogos, em vez de serem transparentes, muitas vezes ocultam seus métodos em segredo.
  • Defensores da Terra plana falham em integrar suas hipóteses ao entendimento científico mais amplo do mundo.

Ao ser confrontado com um sistema de crenças, é crucial avaliar seu alinhamento com os princípios centrais da ciência. Indicadores de pseudociência incluem:

  • Reivindicações de acesso a conhecimento exclusivo ou secreto, indicando falta de transparência.
  • Uma natureza estática, onde a evidência reforça apenas as crenças existentes, sugerindo uma ausência de evolução.
  • Afirmações conspiratórias, como reivindicações de supressão por estabelecimentos mainstream, sinalizando um desligamento da comunidade de conhecimento mais ampla.

A demarcação entre ciência e pseudociência torna-se clara quando se investiga além do superficial e se examinam os princípios fundamentais. Embora a pseudociência possa apresentar uma fachada de legitimidade científica, seu desvio dos princípios centrais de rigor, humildade, ceticismo, transparência, conectividade e evolução revela sua verdadeira natureza. À medida que os indivíduos se tornam proficientes em reconhecer essas distinções, a tarefa de identificar a pseudociência torna-se direta, garantindo que a busca pelo conhecimento permaneça fundamentada na verdadeira investigação científica.

Algumas referências sobre esse tema:

  1. Vosoughi S, Roy D, Aral S. The spread of true and false news online. Science. 2018 Mar 9;359(6380):1146-1151. doi: 10.1126/science.aap9559.

  2. Marocolo M, Meireles A, de Souza HLR, Mota GR, Oranchuk DJ, Arriel RA, Leite LHR. Is Social Media Spreading Misinformation on Exercise and Health in Brazil? Int J Environ Res Public Health. 2021 Nov 13;18(22):11914. doi: 10.3390/ijerph182211914.

  3. https://www.sciencenews.org/article/on-the-fringe-book-science-pseudoscience

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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