Toda a coletividade de atividade de vida, considerando todos os micróbios, as plantas e os animais, mudaram o planeta Terra.
Por exemplo, as plantas inventaram uma maneira de realizar a fotossíntese para melhorar a sua própria sobrevivência, mas ao fazer isso, emitem oxigênio na atmosfera que muda todo o nosso planeta. Esse é apenas um exemplo de formas de vidas individuais realizando suas tarefas cotidianas, mas que de forma coletiva possuem um impacto em escala planetária.
Se todo o coletivo de atividade de vida, conhecido como biosfera, pode mudar o mundo, poderia a atividade coletiva de cognição e a ação baseada nessa cognição também mudar um planeta? Uma vez que a biosfera se desenvolve, a Terra passa a ter a sua própria vida. Se um planeta com vida tem sua própria vida, poderia ele também ter uma própria mente?
Um grupo de pesquisadores resolveram analisar isso, uma tentativa de considerar um coletivo de inteligência de todas as vidas em um planeta. Com um sentido de como a inteligência de um planeta pode ser definida e entendida isso ajudaria a se ter uma ideia sobre o futuro da humanidade na Terra, ou até mesmo, se a humanidade não terá futuro por aqui.
O trabalho descrito como um experimento de pensamento, combina o atual entendimento científico sobre a Terra com questões mais amplas sobre como a vida altera um planeta. Os pesquisadores discutiram o que eles chamam de inteligência planetária, a ideia de uma atividade cognitiva operada em escala planetária, e isso leva a novas ideias sobre as maneiras como o ser humano pode lidar com grandes questões como as mudanças climáticas.
Se temos a esperança de sobreviver como uma espécie, nós precisamos usar a nossa inteligência para o bem maior do planeta.
Os pesquisadores se baseiam em ideias como a hipótese de Gaia – que propõe que a biosfera interage fortemente com os sistemas geológicos não vivos de ar, água e terra para manter o estado habitável da Terra – para explicar que mesmo em um sistema não tecnologicamente desenvolvido, espécies capazes podem exibir Inteligência planetária. A chave é que a atividade coletiva da vida cria um sistema que é auto-sustentável.
Por exemplo, muitos estudos recentes mostraram como as raízes das árvores em uma floresta se conectam através de redes subterrâneas de fungos conhecidas como redes micorrízicas. Se uma parte da floresta precisa de nutrientes, as outras partes enviam às porções estressadas os nutrientes de que precisam para sobreviver, através da rede micorrízica. Dessa forma, a floresta mantém sua própria viabilidade.
No momento, nossa civilização é o que os pesquisadores chamam de uma civilização com uma “tecnosfera imatura”, um conglomerado de sistemas e tecnologia gerados pelo homem que afeta diretamente o planeta, mas não é autossustentável. Por exemplo, a maior parte do nosso uso de energia envolve o consumo de combustíveis fósseis que degradam os oceanos e a atmosfera da Terra. A tecnologia e a energia que consumimos para sobreviver estão destruindo nosso planeta natal, o que, por sua vez, destruirá nossa espécie.
Os pesquisadores postulam quatro estágios do passado e possível futuro da Terra para ilustrar como a inteligência planetária pode desempenhar um papel no futuro de longo prazo da humanidade. Eles também mostram como esses estágios de evolução impulsionados pela inteligência planetária podem ser uma característica de qualquer planeta da galáxia que evolua a vida e uma civilização tecnológica sustentável.
Estágio 1 – Biosfera imatura: característica da Terra muito primitiva, bilhões de anos atrás e antes de uma espécie tecnológica, quando os micróbios estavam presentes, mas a vegetação ainda não havia surgido. Houve poucos feedbacks globais porque a vida não poderia exercer forças na atmosfera da Terra, hidrosfera e outros sistemas planetários.
Estágio 2 – Biosfera madura: característica da Terra, também antes de uma espécie tecnológica, de cerca de 2,5 bilhões a 540 milhões de anos atrás. Continentes estáveis se formaram, a vegetação e a fotossíntese se desenvolveram, o oxigênio se acumulou na atmosfera e a camada de ozônio emergiu. A biosfera exerceu uma forte influência sobre a Terra, talvez ajudando a manter a habitabilidade da Terra.
Estágio 3 – Tecnosfera imatura: característica da Terra agora, com sistemas interligados de comunicação, transporte, tecnologia, eletricidade e computadores. A tecnosfera ainda é imatura, no entanto, porque não está integrada a outros sistemas da Terra, como a atmosfera. Em vez disso, ele extrai matéria e energia dos sistemas da Terra de maneiras que levarão o todo a um novo estado que provavelmente não inclui a própria tecnosfera. Nossa tecnosfera atual está, a longo prazo, trabalhando contra si mesma.
Estágio 4 – Tecnosfera madura: onde a Terra deve almejar estar no futuro, diz Frank, com sistemas tecnológicos implementados que beneficiam todo o planeta, incluindo a coleta global de energia em formas como a solar que não prejudicam a biosfera. A tecnosfera madura é aquela que co-evoluiu com a biosfera em uma forma que permite que a tecnosfera e a biosfera prosperem.
Os planetas evoluem através de estágios imaturos e maduros, e a inteligência planetária é um indicativo de quando você chega a um planeta maduro. A questão de um milhão de dólares é descobrir como a inteligência planetária se parece e significa para nós na prática, porque ainda não sabemos como avançar para uma tecnosfera madura.
Embora ainda não saibamos especificamente como a inteligência planetária pode se manifestar, os pesquisadores observam que uma tecnosfera madura envolve a integração de sistemas tecnológicos com a Terra por meio de uma rede de loops de feedback que compõem um sistema complexo.
Simplificando, um sistema complexo é qualquer coisa construída a partir de partes menores que interagem de tal forma que o comportamento geral do sistema é inteiramente dependente da interação. Ou seja, a soma é mais do que o todo de suas partes. Exemplos de sistemas complexos incluem florestas, Internet, mercados financeiros e o cérebro humano.
Por sua própria natureza, um sistema complexo tem propriedades inteiramente novas que emergem quando peças individuais estão interagindo. É difícil discernir a personalidade de um ser humano, por exemplo, apenas examinando os neurônios em seu cérebro.
Isso significa que é difícil prever exatamente quais propriedades podem surgir quando os indivíduos formam uma inteligência planetária. No entanto, um sistema complexo como a inteligência planetária terá, segundo os pesquisadores, duas características definidoras: terá comportamento emergente e precisará ser autossustentável.
A biosfera descobriu como hospedar a vida sozinha bilhões de anos atrás, criando sistemas para movimentar nitrogênio e transportar carbono. Agora temos que descobrir como ter o mesmo tipo de características de automanutenção com a tecnosfera.
Apesar de alguns esforços, incluindo proibições globais de certos produtos químicos que prejudicam o meio ambiente e um movimento para o uso de mais energia solar, ainda não temos inteligência planetária ou uma tecnosfera madura.
Levantar essas questões, não apenas fornecerá informações sobre a sobrevivência passada, presente e futura da vida na Terra, mas também ajudará na busca por vida e civilizações fora do nosso sistema solar.
Os pesquisadores estão dizendo que as únicas civilizações tecnológicas que podemos ver – aquelas que devemos esperar ver – são aquelas que não se mataram, o que significa que devem ter alcançado o estágio de uma verdadeira inteligência planetária. Esse é o poder desta linha de investigação: ela une o que precisamos saber para sobreviver à crise climática com o que pode acontecer em qualquer planeta onde a vida e a inteligência evoluam.
Fonte:
https://www.rochester.edu/newscenter/planetary-intelligence-evolution-thought-experiment-510542/