Uma equipe de caçadores de planetas liderada por astrônomos da Universidade da Califórnia em Santa Cruz e do Carnegie Institution de Washington anunciaram a descoberta de um planeta do tamanho da Terra (com massa três vezes maior que a da Terra) orbitando uma estrela próxima a uma distância que o coloca no meio da conhecida zona habitável da estrela, onde a água em estado líquido poderia existir na superfície do planeta. Se confirmado, esse seria o exoplaneta descoberto mais parecido com a Terra e o primeiro caso de um forte candidato a ser habitável.
Para os astrônomos um exoplaneta classificado como potencialmente habitável é um exoplaneta que poderia sustentar a vida e não um lugar que os seres humanos consideram um lugar bom para se viver. A classificação de habitável depende de uma série de fatores, mas a água em estado líquido e a presença de uma atmosfera estão entre os principais fatores.
“Nossas descobertas oferecem um caso convincente para a existência de um planeta habitável”, diz Steven Vogt, professor de astronomia e astrofísica da UC Santa Cruz. “O fato é que nós temos a capacidade para detectar esse planeta tão rapidamente e tão próximo que isso nos diz que planetas como esse devem ser muito comuns”.
As descobertas são baseadas em 11 anos de observações no Observatório W. M. Keck no Havaí. “Técnicas avançadas combinadas com telescópios terrestres tradicionais continuam a liderar a revolução de descoberta de exoplanetas”, diz Paul Butler do Carnegie Institution. “Nossa habilidade para descobrir mundos possivelmente habitáveis está agora só limitada pelo tempo que temos disponível para utilizar o telescópio”.
Vogt e Butler lideram o Lick-Carnegie Exoplanet Survey. As novas descobertas da equipe estão relatadas em um artigo publicado no Astrophysical Journal e pode ser encontrado aqui (http://tecnoscience.squarespace.com/arquivo/descoberto-exoplaneta-possivelmente-habitavel/). Os demais co-autores são o cientista e pesquisador associado Eugenio Rivera da UC Santa Cruz; o astrônomo associado Nader Haghighipour da University of Hawaii-Manoa e os pesquisadores Gregory Henry e Michael Williamson da Tennessee State University.
O artigo relata a descoberta de dois novos planetas ao redor da estrela anã vermelha próxima conhecida como Gliese 581. Isso eleva o número de exoplanetas conhecidos ao redor dessa estrela para seis, o maior sistema planetário já descoberto além do nosso sistema solar. Como no nosso sistema solar os planetas orbitam a estrela Gliesse 581 em órobitas praticamente circulares.
O mais interessante desses dois novos planetas é o Gliesse 581g, com massa entre 3 e 4 vezes a massa da Terra e um período orbital de 37 dias. Sua massa indica que ele é provavelmente um planeta rochoso com uma superfície bem definida e que pode ter gravidade suficiente para abrigar uma atmosfera, declara Vogt.
A estrela Gliesse 581 está localizada a 20 anos-luz de distância da Terra na direção da constelação da Libra, e tem uma aclamada história para possuir um planeta habitável. Dois planetas previamente detectados nesse sistema planetário localiza-se na chamada zona habitável, um no lado quente (planeta c) e outro no lado frio (planeta d). Enquanto alguns astrônomos acreditam que o planeta d possa ser habitável se ele tiver uma atmosfera espessa com um forte efeito estufa para aquecê-lo, outros são cépticos a essa idéia. O planeta recentemente descoberto, planeta g, contudo, localiza-se no meio dessa zona habitável.
“Nós tínhamos planetas nos dois lados da zona, um no lado quente e outro no lado frio, e agora nós temos um no meio dessa zona”, diz Vogt.
O planeta é gravitacionalmente amarrado à estrela, significando que um lado dele está sempre voltado para a estrela e vive em um dia eterno enquanto o outro lado voltado contra a estrela vive em uma noite eterna. Um efeito disso é estabilizar o clima da superfície do planeta de acordo como Vogt. A zona mais habitável da superfície do planeta seria a linha entre a sombra e a luz (conhecida como linha terminal), com a temperatura na superfície decaindo em direção ao lado escuro e aumentando em direção ao lado iluminado.
“Qualquer forma de vida emergente teria uma grande variedade de clima estável para escolher onde se desenvolver, dependendo então da sua longitude”, diz Vogt.
Os pesquisadores estimaram que a temperatura média na superfície do planeta está entre -24 e 10 graus Fahrenheit, algo entre -31 e -12 graus Celsius. Na verdade a temperatura poderia variar de extremamente quente no lado voltado para a estrela para extremamente congelante no lado oposto.
Se o Gliesse 581g tem uma composição rochosa similar com a da Terra, seu diâmetro seria de aproximadamente 1.2 a 1.4 vezes o diâmetro da Terra. A gravidade na superfície seria então somente um pouco maior que a gravidade na Terra, o que significa que uma pessoa poderia tranqüilamente caminhar sobre o planeta, disse Vogt.
As novas descobertas tem como base 11 de observações da estrela Gliesse 581 usando o espectrômetro HIRES, desenvolvido por Vogt e acoplado ao telescópio Keck I no Observatório W. M. Keck no Havaí. O espectrômetro permite medidas precisas da velocidade radial da estrela (seu movimento ao longo de uma linha vista da Terra) que pode revelar a presença de planetas. A força gravitacional de um planeta orbitando a estrela causa mudanças periódicas na velocidade radial da estrela. Múltiplos planetas induzem a complexas alterações no movimento da estrela e os astrônomos usam então sofisticadas ferramentas de análises para detectar planetas e determinar suar órbitas e suas massas.
“É realmente muito complicado detectar um planeta como esse”, disse Vogt. “Cada vez nós medimos a velocidade radial, isso numa noite no telescópio, e levamos mais de 200 observações com uma precisão de aproximadamente 1.6 metros por segundo para detectar o planeta”.
Para obterem essa quantidade de medidas de velocidade radial, 238 no total, a equipe de Vogt combinou suas observações feitas como HIRES com dados publicados por outro grupo liderado pelo projeto HARPS (High Accuracy Radial Velocity Planetary Search Project do Geneva Observatory.
Em adição às observações de velocidade radial, os co-autores Henry e Williamson fizeram medidas precisas do brilho da estrela utilizando o telescópio robótico da Tennessee State University. “Nossas medidas de brilho verificaram que as variações na velocidade radial são causadas por novos planetas orbitando a estrela e não por processos internos da estrela”, disse Henry.
Os pesquisadores também exploraram as implicações desta descoberta com respeito ao número de estrelas que possuem provavelmente uma zona habitável. Dado ao relativo número baixo de estrelas que têm sido monitoradas com cuidado pelos caçadores de planetas essa descoberta surgiu surpreendentemente cedo.
“Se eles são tão raros nós não devíamos ter encontrado um tão rapidamente e tão próximo”, disse Vogt. “O número de sistemas com planetas possivelmente habitáveis é provavelmente na ordem de 10 a 20 por cento e quando você multiplica pelas centenas de bilhões de estrelas na Via Láctea isso é um número muito grande. Devem existir dezenas de bilhões desses sistemas na nossa galáxia”.
Vídeo explica a descoberta:
Aqui algumas páginas onde se pode obter mais informações sobre essa descoberta:
http://news.sciencemag.org/sciencenow/2010/09/astronomers-find-most-earth-like.html?etoc
http://www.skyandtelescope.com/community/skyblog/newsblog/104031014.html
http://news.ucsc.edu/2010/09/planet.html
http://www.nasa.gov/home/hqnews/2010/sep/HQ_10-237_Exoplanet_Findings.html
http://www.ifa.hawaii.edu/info/press-releases/Gliese581g/
http://news.discovery.com/space/earth-like-planet-life.html
http://blogs.discovermagazine.com/badastronomy/2010/09/29/possible-earthlike-planet-found-in-the-goldilocks-zone-of-a-nearby-star/
http://blogs.nature.com/news/thegreatbeyond/2010/09/most_earthlike_planet_yet_spot.html
Fonte:
http://www.eurekalert.org/pub_releases/2010-09/uoc–ndp092810.php