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23 de novembro de 2024

Penitentes Gelados ao Luar em Chajnantor

Babak Tafreshi, um dos Embaixadores Fotográficos do ESO, capturou este curioso fenômeno no planalto do Chajnantor, o local onde se encontra instalado o Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA).

Estas estranhas formações de gelo e neve são conhecidas por penitentes (do espanhol). Aqui encontram-se iluminadas pelo luar, sendo a Lua visível no lado direito da fotografia. No lado esquerdo, mais acima no céu, podemos ver a Grande e a Pequena Nuvem de Magalhães, enquanto que o brilho avermelhado da Nebulosa Carina aparece ao fundo à esquerda, próximo do horizonte.

Os penitentes são maravilhas naturais típicas de regiões de elevadas altitudes, tais como os Andes chilenos, que se encontram cerca de 4000 metros acima do nível do mar. São finos bicos e lâminas de gelo ou neve dura, que se formam geralmente em grupos, com as lâminas a apontar na direção do Sol. Atingem alturas que vão desde alguns centímetros, assemelhando-se a relva baixa, até a cinco metros, dando a impressão de serem uma floresta de gelo no meio do deserto.

O mecanismo preciso da sua formação ainda não é bem compreendido. Durante muitos anos, os habitantes dos Andes pensavam que os penitentes resultavam dos ventos fortes que se fazem sentir nestas montanhas. No entanto, estes ventos fortes apenas desempenham um pequeno papel na formação destes pináculos gelados. Hoje em dia, crê-se que estas formações resultem da combinação de uma série de fenômenos físicos.

O processo começa com a luz do Sol incidindo na superfície do gelo. Devido às condições extremamente secas do deserto, o gelo sublima em vez de derreter, isto é, passa do estado sólido ao estado gasoso sem derreter e por isso sem passar pela fase de água líquida. Depressões na superfície da neve recolhem e aprisionam a luz solar, levando a uma maior sublimação e depressões ainda mais acentuadas. No seio destas depressões, o aumento da temperatura e da umidade permitem a ocorrência de derretimento. Este feedback positivo acelera o crescimento da estrutura característica dos penitentes.

Estas estátuas geladas têm o nome dos chapéus pontiagudos dos nazarenos, membros da irmandade que participa em procissões de Páscoa por todo o mundo. Não é difícil imaginá-los como uma assembleia de monges gelados, congregados ao luar.

A imagem foi tirada ao lado da estrada que leva ao ALMA. O observatório, que começou as operações científicas preliminares a 30 de Setembro de 2011, irá contar com 66 antenas de alta precisão, que operarão juntas como se fossem um único telescópio.

O ALMA, uma infraestrutura astronômica internacional, é uma parceria entre a Europa, a América do Norte e o Leste Asiático, em cooperação com a República do Chile. A construção e operação do ALMA é coordenada pelo ESO, em prol da Europa, pelo Observatório Nacional de Rádio Astronomia (NRAO), em prol da América do Norte e pelo Observatório Astronómico Nacional do Japão (NAOJ), em prol do Leste Asiático. O Joint ALMA Observatory (JAO) fornece uma liderança e direção unificadas na construção, comissionamento e operação do ALMA.

Fonte:

http://www.eso.org/public/brazil/images/potw1221a/

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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