Hoje, quando olhamos as belas fotos que são tiradas do céu, com os equipamentos mais modernos, talvez não tenhamos em mente como era feito todo esse trabalho nos idos da década de 1990. Para tentar recuperar um pouco dessa nostalgia, vou começar a publicar aqui no blog, imagens feitas com filme (alguém sabe o que é isso?), emulsões e outras técnicas que eram usadas antes para gerar imagens belas do céu. As imagens que irei publicar nessa série são tiradas de revistas como a Astronomy, a Sky and Telescope, a Astronomy Now, a Ciel et Space, entre outras e que estou digitalizando. Com essa pequena introdução será possível agora acompanhar o texto abaixo que acompanha a figura.
Entre os campos estelares da parte norte da via Láctea na constelação de Cygnus e na sua intersecção com o equador galáctico, existe uma apagada nebulosidade conhecida como o Pelicano, ou IC 5067/70. Em fotografias ele normalmente vem acompanhado de vizinha mais brilhante e melhor conhecida, a Nebulosa da América do Norte (NGC 7000). Uma pequena parte desse objeto, ou melhor, o começo da América do Norte, pode ser visto na parte superior esquerda da imagem acima. Ambas as nebulosas fazem parte da mesma nuvem de formação de estrelas, o aparente golfo dividindo as duas é na verdade uma linha de gás frio e poeira que obscurece a luz das estrelas além. De fato essa linha é o lar para uma escondida, porém massiva estrela do Tipo-O, ou do Tipo B, que energiza a nuvem com sua emissão de hidrogênio alfa, e que pode ser vista na imagem acima como sendo o intenso brilho vermelho que permeia todo o campo de visão. Diferente do olho humano, filmes coloridos podem ser extremamente sensíveis a esse tipo de emissão.
As duas estrelas brilhantes nessa fotografia, são, da esquerda para a direita, a 57 e a 56 Cygni, cada uma com magnitude 5. A estrela levemente apagada à esquerda da 57 Cygni e no lado oposto da pequena mancha de nebulosidade nos leva para mais perto da origem da energia da nebulosa. Três pequenos objetos localizam-se imediatamente acima da estrela, com o mais vermelho deles sendo paradoxalmente a fonte de energia da região.
Avanços nas emulsões fotográficas e nos equipamentos de astrofotografia combinados com técnicas inovadoras de salas escuras, têm permitido que os astrônomos amadores busquem por alvos desafiantes como o Pelicano. A foto acima foi feita por John Gleason de Newark, na Califórnia, juntando duas imagens obtidas com 90 minutos de exposição, usando um filme negativo colorido Kodak Pro 400 PPF, com a máquina acoplada a um telescópio Astro-Physics de 7 polegadas em f/7. Os negativos foram prensados juntos e impressos para produzir essa imagem. Gleason foi um dos primeiros astrofotógrafos amadores a fazer parte do departamento de imagens da revista Sky and Telescope na década de 1980, onde apresentou uma imagem em preto e branco dessa mesma região do céu.
Fonte:
Revista Sky and Telescope, Março de 1998, páginas: 60 – 61